Pedro Juan Caballero – Com potencial produtivo que pode beirar 1 milhão de toneladas neste ano, segundo fontes ligadas à Polícia Nacional e ao Exército paraguaio, e tendo o Brasil como seu mercado absoluto, a maconha cultivada no Paraguai começa a ser colhida nos próximos dias e as forças de segurança redobram a atenção e aumentam efetivos para acirrar o controle nas estradas e nos rios na faixa de fronteira e pelo ar, uma vez que o tráfego de aviões bimotores também tem aumentado, agora saindo direto do Paraguai, em cidades que fazem fronteira com o Brasil, rumo ao interior de São Paulo.
Como de costume, a rota para a entrada do entorpecente no Brasil passa pela região oeste do Paraná e pelo Mato Grosso do Sul, partindo de Salto Del Guairá, Pedro Juan Caballerro e Cidade do Leste.
Tudo isso porque a Cannabis sativa (nome cientifico da maconha) produzida no Paraguai garante bons dividendos aos traficantes brasileiros. O quilo pode ser comprado por grandes organizações criminosas por R$ 80 a R$ 120, dependendo da qualidade do produto, e, revendido nas chamadas bocas de fumo, rende até R$ 10 mil.
Fomentado nos últimos anos por grandes organizações criminosas, o tráfico de maconha tem se tornado um mercado cada vez mais atrativo, ao lado do contrabando de cigarros, do tráfico de drogas e de armas. Não por acaso os traficantes têm mesclado suas cargas com todos esses produtos para atender seus mercados. De modo geral, eles usam a rota bem traçada e bastante viciada e com o envolvimento de alguns agentes de segurança, para ganhar o Brasil.
Outro aspecto é a frequência cada vez maior de encontrar cargas de maconha em meio a caixas de cigarros. “E tem quem ache que contrabandear cigarros não é crime ou que é uma ação inofensiva”, denuncia o delegado-chefe da Polícia Federal em Cascavel, Marco Smith.
As diversas formas de transporte
Com preferência por transporte por caminhões, por questões lógicas de ampliar o volume, a maconha entra e trafega pelo Brasil de todas as formas.
“A droga chega ao Brasil por terra, pela água em lanchas que saem do país vizinho e chegam a municípios beira lago de Itaipu onde vão para depósitos ou direto para os veículos de transporte, ou ainda por aviões. Nesta última modalidade de transporte houve uma mudança de estratégia. Até poucos anos atrás, os pilotos usavam pistas clandestinas na região oeste do Paraná para embarcar o entorpecente com armas e munições ou fazer suas conexões. Como o circuito passou a ser mais vigiado, as aeronaves, sempre bimotores que voam abaixo da linha dos radares para não serem interceptadas, saem do Paraguai e seguem direto para o interior de São Paulo e no Paraná, na divisa com São Paulo, de onde o restante do percurso passa a ser feito via terrestre”, conta o delegado-chefe da Polícia Federal em Cascavel, Marco Smith.
“Já temos observado algumas grandes apreensões, mas essa maconha que está sendo apreendida agora ainda é da safra passada. A maconha ‘boa’, a nova, começa a ser colhida agora e virá com certeza para o Brasil”, completou o delegado, ao lembrar que a partir de agora serão cinco ou seis meses de colheita. “Este é um momento de aumentar a vigilância e devem começar as apreensões maiores agora”, destacou.
Parceria da PF e do Exército paraguaio
A entrada de maconha só não é maior no Brasil porque nos últimos anos plantações inteiras estão sendo erradicadas graças a uma ação conjunta entre a Polícia Federal brasileira e o Exército paraguaio. “É difícil dimensionar quanto o país vizinho produz com precisão, estimamos em alguns anos 500 mil toneladas até 1 milhão de toneladas e ela abastece as grandes facções no Brasil. Isso é fato”, destacou o delegado da PF, Marco Smith.
“Para os criminosos é um mercado extremamente rentável (…) Quando se fala em descriminalização da maconha, é preciso entender que existe uma estrutura ilícita e comercial da distribuição já formada. Se for legalizado, é preciso pagar imposto, mas se hoje tem o mercado ilícito do cigarro, apesar de ser lícito no Brasil, certamente vai continuar a ilegalidade com a maconha. Descriminalização não é o caminho nem a solução”, reforça o delegado da PF.