Catanduvas – A chegada de Eduardo Aparecido de Almeida, o “Piska”, ao presídio de segurança máxima em Catanduvas mês passado mexeu com os ânimos de detentos faccionados ao PCC (Primeiro Comando da Capital) e de grupos rivais, além da estrutura interna de segurança no presídio federal que não é acostumado a conviver com alvoroços e bate-grades, gíria usada para indicar que os presos estão tentando se rebelar. Aliás, em 12 anos desde a inauguração da unidade, nunca houve motins ali. Pelo menos não públicos.
Piska foi preso no Paraguai no dia 18 de julho e trazido para a unidade prisional no dia 20 do mês passado com um helicóptero do GOA (Grupamento de Operações Aéreas da Polícia Civil). Ele deixou o Paraguai e foi entregue pela polícia do país vizinho à delegacia da Polícia Federal de Foz do Iguaçu.
Piska é considerado o terceiro na principal linha de comando da facção criminosa nascida em São Paulo que age dentro e fora de presídios. Além de comandar os negócios do grupo no Paraguai, ele liderava negociações na Bolívia. Além dele, um comparsa foi preso numa operação realizada em Assunção.
Segundo o apurado pelo Jornal O Paraná, desde a chegada de Piska e do comparsa em Catanduvas, presos faccionados têm tentado manobras para provocar comunicação com o líder, dando os chamados “salves”.
O alvoroço se dá para uma espécie de troca de informações entre outros integrantes e Piska. Essa condição gera um alerta máximo, pois o sistema de segurança nacional monitora de perto as ações do bando, sobretudo neste mês que é aniversário da facção e uma série de atentados é dada como certa para uma espécie de “comemoração” pelos 25 anos da organização criminosa.
Gritaria e tumulto
A unidade prisional, que é uma das quatro no País com estrutura federal e considerada de segurança máxima, não era acostumada a conviver com tumultos e vivenciou, somente na semana passada, pelo menos dois episódios de maior tensão.
Em ambos os casos os presos teriam gritado de dentro das celas e se recusado a sair para o banho de sol. Alguns se deitaram no chão para não saírem das celas e pelo menos um deles teria enfrentado os agentes. Outros teriam solicitado, inclusive, que gostariam de deixar as celas onde estavam – todos ficam em espaços individuais – e queriam ser levados para o isolamento. Ocorre que o isolamento geralmente é um dos locais mais rejeitados pelos detentos. Isso teria chamado a atenção dos agentes, que chegaram a alertar que não havia motivos para que fossem deslocados para lá. O início de um novo tumultuo teria exigido que grupos especiais compostos por agentes preparados para situações mais delicadas fossem para as celas envolvidas na ação. Eles queriam era ficar perto de Piska.
A partir disso, alguns detentos foram levados para o isolamento, mas em outra ala do presídio, distantes do líder da facção, o que gerou ainda mais revolta nos presos.
Tentando se comunicar por gritos, as sirenes do presídio precisaram ser acionadas pelo menos duas vezes nos últimos dias. Elas servem, além de colocar o sistema em alerta, para fazer com que seu barulho impeça a comunicação verbal entre os presos.
À espera de uma lei
A situação de tensão extrema continua na unidade de Catanduvas. Os fatos recentes foram relatados ao Departamento Penitenciário Nacional, em relatórios diários enviados a Brasília.
Apesar dessas condições, não houve alterações na rotina de trabalho nem envio de grupos que possam auxiliar no controle na unidade, sobretudo nesses dez dias que antecedem o aniversário do PCC.
Há profissionais da própria unidade que estariam marcados para morrer. A ordem continua saindo de dentro dos presídios, revelam os serviços de inteligência das forças de segurança. As investigações apontam ainda que os recados têm sido repassados durante as visitas sociais, sempre em códigos.
O fim dessas visitas sociais é uma das reivindicações feitas pela categoria há anos. Os encontros íntimos já foram cessados e em março deste ano, durante visita a Cascavel, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, reforçou a importância de interromper as visitas sociais nas unidades prisionais federais, mantendo apenas as visitas por parlatório e monitoradas, para quebrar a cadeia de comando do crime organizado que continua agindo mesmo atrás das grades.
Embora essa seja uma afirmação sistemática de Jungmann, até agora não saiu do papel.
Para a Federação Nacional dos Agentes Federais em Execuções Penais, isso não tem ocorrido “porque há necessidade de ser lançada em lei”. “Hoje vige via portaria. E há algumas demandas da parte dos institutos que representam os presos, no STF [Supremo Tribunal Federal] em ações sob a relatoria do ministro Fachin [Edson]. Estivemos lá, inclusive, no gabinete do ministro Fachin e entregamos uma série de documentos e os históricos das execuções perpetradas contra nós para fortalecer o convencimento dele no sentido de não dar procedência aos pleitos”, informou a Federação.
PCC inicia comemorações do aniversário nesta semana
Os serviços de inteligência das forças federais voltados para o monitoramento do PCC em Cascavel e região mapearam parte das ações programadas pelo bando neste mês e qualquer ato que possa ter ligação está sendo apurado com uma espécie de lupa.
Isso porque uma série de ataques vem sendo esperada como forma de “comemoração” pelos 25 anos da maior facção criminosa brasileira que age dentro e fora dos presídios.
O dia do aniversário é 31 de agosto, mas se acredita que as ações sejam realizadas antes.
A inteligência conseguiu apurar que os ataques devem iniciar por estados do Norte do País e isso poderá ocorrer dentro de uma unidade prisional. Faccionados prometem, além de se rebelar, agir com crueldade contra membros de facções rivais e agentes públicos de segurança encarcerados, ou seja, que estão cumprindo pena.
Não se descarta que aos poucos essas ações se espalhem pelo País.
No Paraná, onde está a segunda maior casa do PCC, atrás apenas de São Paulo, sua terra-mãe, o que estaria na mira, por ora, é um acerto de contas entre o grupo e outra grande facção que pretende criar tentáculos no Estado.
Essa situação não teria uma ligação direta com o aniversário do PCC, e é apenas uma medida repressiva contra os rivais do Comando Vermelho que estariam “ganhando espaço” no crime organizado em regiões hoje dominadas pelo Primeiro Comando da Capital. O acerto de contas estaria agendado para ocorre na fronteira com o Paraguai.
Ocorre que essa certamente não será a única ação do bando por aqui tendo em vista que o Paraná, mais especificamente o oeste do Estado, foi o alvo escolhido em dois ataques relativamente recentes pelo bando, segundo apontaram as investigações das forças de segurança nacional. A morte de dois agentes penitenciários federais que atuavam em Catanduvas. Um deles foi assassinado numa emboscada em setembro de 2016, e a outra morte foi em maio do ano passado contra a psicóloga que atuava no presídio.
A partir disso, o monitoramento da facção contribuiu para a desarticulação de uma série de atentados que vitimariam mais agentes de segurança pública na região e em outros cantos do Brasil.
Na lista da morte, na época, estavam um delegado da Polícia Federal, um juiz corregedor dos presídios, um procurador federal e agentes penitenciários. Em fevereiro deste ano outro agente penitenciário lotado em Catanduvas foi transferido após a interceptação de que sua morte havia sido ordenada pelo bando.
Agora, porém, não se descarta uma espécie de “Dia D” para o crime, quando a facção poderá promover uma série de atentados simultâneos em diversos estados brasileiros. O monitoramento de inteligência considera que isso poderá ocorrer nesta semana. Entre os possíveis alvos no Paraná estariam dois profissionais que atuam em Catanduvas.