Tratado inicialmente como “uma doença misteriosa”, o novo coronavírus começou a circular no fim de dezembro em Wuhan, cidade com 11 milhões de habitantes localizada na China Central. Os relatos iniciais indicavam que a “doença misteriosa” se manifestava rapidamente, desencadeando pneumonia. Em janeiro, a China anunciou as primeiras mortes, e logo o surto, com o crescimento alarmante de contaminados e de mortes. Wuhan foi sitiada, mas a metade da população já havia deixado a cidade. As principais cidades da China, como Pequim, esvaziadas.
Foi questão de dias para outros países começarem a relatar a presença da doença.
Na última quinta-feira (30), a OMS (Organização Mundial da Saúde) voltou a se reunir para discutir a gravidade da situação e então elevou o alerta global.
No Brasil, o nível de alerta foi elevado para “risco iminente”.
Até o dia 31 de janeiro, 213 pessoas haviam morrido na China e cerca de 10 mil estavam infectadas.
Mas o que é o coronavírus? Em meio a toda repercussão e da gravidade que vem se desenhando o quadro, preparamos uma reportagem especial com tudo o que se sabe (e foi divulgado) sobre essa nova doença.
O que é o novo coronavírus?
É um novo vírus que tem causado doença respiratória pelo agente coronavírus, com casos recentemente registrados na China. Importante saber que os coronavírus são uma grande família viral, conhecidos desde meados de 1960, que causam infecções respiratórias em seres humanos e em animais.
Geralmente, infecções por coronavírus causam doenças respiratórias leves a moderadas, semelhantes a um resfriado comum. Alguns coronavírus podem causar doenças graves com impacto importante em termos de saúde pública, como a Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave), identificada em 2002 na China e deixou mais de 800 mortos ao redor do mundo, e a Mers (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), identificada em 2012.
Qual sua origem?
A origem do novo coronavírus ou 2019-nCoV ainda é desconhecida. A hipótese mais provável é que a fonte primária do vírus seja animal e que ele tenha começado a circular em um mercado de frutos do mar em Wuhan, na China. Nesse mercado, além de frutos do mar, são vendidos animais silvestres vivos, como morcegos. Autoridades ainda não confirmaram qual foi o animal que estaria infectado ou como a transmissão teve início, mas um estudo feito por pesquisadores chineses mostra que o surto pode ter começado em cobras ou morcegos.
Coronavírus são uma grande família de vírus responsáveis por causar doenças em humanos. A maioria deles circula em animais como camelos, gatos e morcegos.
Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, os coronavírus animais raramente podem evoluir, infectar pessoas e se espalhar, como observado nos surtos da Mers e da Sars
Isso geralmente acontece quando um ou mais vírus sofrem uma mutação e dão origem a uma nova cepa. Segundo o mesmo estudo chinês que apontou a origem da transmissão em cobras, o novo coronavírus pode ter surgido por meio de uma recombinação de dois outros vírus da mesma família, um deles vindo dos morcegos.
Como o novo coronavírus é transmitido?
As investigações sobre transmissão do novo coronavírus ainda estão em andamento, mas a disseminação de pessoa para pessoa, ou seja, a contaminação por contato, está ocorrendo.
Alguns vírus são altamente contagiosos (como sarampo), enquanto outros são menos. Ainda não está claro com que facilidade o novo coronavírus se espalha de pessoa para pessoa.
Os coronavírus apresentam uma transmissão menos intensa que o vírus da gripe e, portanto, o risco de maior circulação mundial é menor.
O vírus pode ficar incubado por duas semanas, período em que os primeiros sintomas levam para aparecer desde a infecção.
Apesar disso, a transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como:
*gotículas de saliva
*espirro
*tosse
*catarro
*contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão
*contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos
Como é feito o diagnóstico do novo coronavírus?
O diagnóstico do novo coronavírus é feito com a coleta de materiais respiratórios (aspiração de vias aéreas ou indução de escarro). É necessária a coleta de duas amostras na suspeita do coronavírus. As duas amostras serão encaminhadas com urgência para o Lacen (Laboratório Central de Saúde Pública). Uma das amostras será enviada ao Centro Nacional de Influenza (NIC) e outra amostra será enviada para análise de metagenômica.
Para confirmar a doença é necessário realizar exames de biologia molecular que detecte o RNA viral. O diagnóstico do novo coronavírus é feito com a coleta de amostra, que está indicada sempre que ocorrer a identificação de caso suspeito. Orienta-se a coleta de aspirado de nasofaringe (ANF) ou swabs combinado (nasal/oral) ou também amostra de secreção respiratória inferior (escarro ou lavado traqueal ou lavado bronca alveolar).
IMPORTANTE: Os casos graves devem ser encaminhados a um hospital de referência para isolamento e tratamento. Os casos leves devem ser acompanhados pela APS (Atenção Primária em Saúde) e instituídas medidas de precaução domiciliar.
Como é feito o tratamento do novo coronavírus?
Não existe tratamento específico para infecções causadas por coronavírus humano. No caso do novo coronavírus, é indicado repouso e consumo de bastante água, além de algumas medidas adotadas para aliviar os sintomas, conforme cada caso, como:
*Uso de medicamento para dor e febre (antitérmicos e analgésicos)
*Uso de umidificador no quarto ou tomar banho quente para auxiliar no alívio da dor de garanta e tosse
*Assim que os primeiros sintomas surgirem, é fundamental procurar ajuda médica imediata para confirmar diagnóstico e iniciar o tratamento
Quais são os sintomas do novo coronavírus?
Os sinais e sintomas clínicos do novo coronavírus são principalmente respiratórios, semelhantes a um resfriado. Podem, também, causar infecção do trato respiratório inferior, como as pneumonias.
Os principais são sintomas são:
*Febre
*Tosse
*Dificuldade para respirar
IMPORTANTE: Pesquisas já realizadas levantam a suspeita de que a infecção por coronavírus possa ser assintomática, ou seja, a pessoa pode estar infectada e não desenvolver os sintomas. Segundo perfil das 17 primeiras vítimas chinesas, o vírus é mais mortal entre pessoas mais velhas e com doenças pré-existentes.
Como prevenir o novo coronavírus?
O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o novo coronavírus. Entre as medidas estão:
*evitar contato próximo com pessoas que sofrem de infecções respiratórias agudas
*realizar lavagem frequente das mãos, especialmente após contato direto *com pessoas doentes ou com o meio ambiente
*utilizar lenço descartável para higiene nasal
*cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir
*evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca
*higienizar as mãos após tossir ou espirrar
*não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas
*manter os ambientes bem ventilados
*evitar contato próximo a pessoas que apresentem sinais ou sintomas da doença
*evitar contato próximo com animais selvagens e animais doentes em fazendas ou criações
*Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (máscara cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção)
IMPORTANTE: Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.
Compras que vêm da China podem estar infectadas?
É improvável que isso aconteça, porque os vírus, em geral, têm baixa resistência ao meio ambiente e aos raios ultravioletas do sol. Para garantir a sobrevivência desses microrganismos, seria necessário que as compras fossem embaladas em condições especiais, como as desenvolvidas em laboratório para análises médicas.
Como é definido um caso suspeito do novo coronavírus?
Com a amplitude da região de risco, toda a China, pessoas vindas dessa localidade nos últimos 14 dias e que apresentem febre e sintomas respiratórios podem ser considerados suspeitos.
SITUAÇÃO 1
Febre E pelo menos um sinal ou sintoma respiratório (tosse, dificuldade para respirar) E histórico de viagem para área com transmissão local, de acordo com a OMS, nos últimos 14 dias anteriores ao aparecimento dos sinais ou sintomas; OU
SITUAÇÃO 2
Febre E pelo menos um sinal ou sintoma respiratório (tosse, dificuldade para respirar) E histórico de contato próximo de caso suspeito para o coronavírus nos últimos 14 dias anteriores ao aparecimento dos sinais ou sintomas; OU
SITUAÇÃO 3
Febre OU pelo menos um sinal ou sintoma respiratório (tosse, dificuldade para respirar) E contato próximo de caso confirmado de coronavírus em laboratório, nos últimos 14 dias anteriores ao aparecimento dos sinais ou sintomas.
Pesquisadores chineses testam medicamentos contra coronavírus
Uma equipe conjunta de pesquisa de cientistas do Instituto de Matéria Médica de Shanghai da ACC e da Universidade ShanghaiTech está procurando medicamentos para combater o 2019-nCoV.
Os pesquisadores da Universidade ShanghaiTech, liderados por Rao Zihe e Yang Haitao, revelaram no domingo a estrutura de cristal de alta resolução de proteinase, principal viral (Mpro) do novo coronavírus.
A Mpro, que controla as atividades do complexo de reprodução do coronavirus, é um alvo para terapia.
Com base nos estudos sobre a Mpro do 2019-nCoV, a equipe filtrou os medicamentos no mercado, assim como os bancos de dados de compostos de alta potência e de compostos de plantas medicinais, e selecionaram 30 candidatos através de uma combinação de análises virtuais e testes de enzimologia.
Os candidatos incluem 12 medicamentos anti-HIV, como Indinavir, Saquinavir, Lopinavir, Carfilzomib e Ritonavir, dois contravírus sincicial respiratório, um antiesquizofrenia, assim como um imunossupressivo.
Alguns remédios tradicionais chineses que podem conter componentes efetivos contra o 2019-nCoV, como Polygonum cuspidatum, também estão na lista.
Os pesquisadores sugeriram que os medicamentos candidatos sejam considerados para o tratamento clínico de pacientes com pneumonia infectados pelo 2019-nCoV.
A equipe efetuará mais testes nas substâncias selecionadas para fornecer orientação para estudos e tratamentos clínicos do coronavírus, revelou a ACC.
Brasil prepara rede de saúde para novo coronavírus
O governo federal brasileiro adotou diversas ações para o monitoramento e o aprimoramento da capacidade de atuação do País diante do episódio ocorrido na China. Entre elas está a adoção das medidas recomendadas pela OMS; a notificação da área de portos, aeroportos e fronteiras da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); a notificação da área de Vigilância Animal do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento); e a notificação às Secretarias de Saúde dos Estados e Municípios, demais Secretarias do Ministério da Saúde e demais órgãos federais com base em dados oficiais, evitando medidas restritivas e desproporcionais em relação aos riscos para a saúde e trânsito de pessoas, bens e mercadorias.
O Ministério da Saúde também instalou o COE – novo coronavírus (Centro de Operações de Emergência), que tem como objetivo preparar a rede pública de saúde para o atendimento de possíveis casos no Brasil.
O COE é composto por técnicos especializados em resposta às emergências de saúde pública. Além do Ministério da Saúde, compõem o grupo a Opas/OMS (Organização Pan-Americana da Saúde), a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o IEC (Instituto Evandro Chagas), além de outros órgãos. Dessa forma, o País poderá responder de forma unificada e imediata à entrada do vírus em território brasileiro.