Saúde

Contra a covid: Paraná discute hoje parceria com a Rússia para produção de vacina

Após repercussão negativa, Tecpar diz que Estado não vai avançar sem anuência dos órgãos reguladores

Foto: Reprodução/Agência Brasil
Foto: Reprodução/Agência Brasil

Curitiba – O mundo iniciou a terça-feira com a notícia de que a Rússia já tinha chegado à vacina contra a covid-19. Apesar do otimismo com que o presidente Vladimir Putin anunciou a novidade como a primeira registrada para imunizar a população, especialistas do mundo todo colocaram em dúvida a nova droga.

Na sequência do anúncio que poderia pôr fim à pandemia do novo coronavírus, a novidade paranaense: o Paraná deve assinar nesta quarta-feira (12) convênio de cooperação técnica com o governo russo para a realização de testes e a transferência de tecnologia da vacina Sputnik V. Pelo convênio, o Paraná participará da fase 3 dos testes e, caso a imunização seja aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), estará autorizado a produzir e a distribuir a vacina em seu território.

O convênio deverá ser formalizado em reunião entre o governador Carlos Massa Ratinho Junior e o embaixador da Rússia no Brasil, Sergey Akopov, hoje.

A repercussão seguiu ao longo do dia, com posicionamentos cada vez mais reticentes, inclusive no Brasil.

O Ministério da Saúde considera que ainda não há provas de segurança e eficácia da vacina russa contra a covid-19 que justifiquem abrir negociações para a compra do produto com recursos do governo federal. Segundo integrantes da cúpula da pasta, deve ser realizada nos próximos dias uma nova reunião com desenvolvedores da droga.

A expectativa é de que representantes da embaixada da Rússia participem do novo encontro, previsto para esta ou a próxima semana.

Na primeira conversa sobre a vacina, feita há uma semana, técnicos do ministério questionaram características e estimativas de preço. Eles também sinalizaram interesse em manter diálogo sobre o desenvolvimento das drogas. As tratativas iniciais foram feitas com representantes do Fundo de Investimento Direto da Rússia (RDIF).

Procurado, o Ministério da Saúde não se manifestou oficialmente sobre discussões que envolvem a vacina desenvolvida na Rússia.

Comunidade científica

Os estudos sobre o produto russo geram dúvida na comunidade científica. As pesquisas para a vacina estão na fase 3, segundo o Governo Putin, mas a OMS (Organização Mundial da Saúde) aponta que a droga está na primeira etapa dos estudos.

Os desenvolvedores russos ainda não divulgaram detalhes sobre resultados, duração e dados sobre as fases anteriores. Além disso, o antídoto para a covid-19 foi aprovado após menos de dois meses do início dos testes em humanos. O próprio Vladimir Putin afirma ter feito parte de todas as etapas dos testes, além de sua filha.

A reação negativa acendeu uma luza de alerta no governo paranaense. Em uma das diversas entrevistas que concedeu ontem, o biólogo Jorge Augusto Callado Afonso, diretor-presidente do Tecpar, mostrou cautela: “Possivelmente nesta semana será assinado um termo de cooperação entre o governo do Paraná e a Rússia para iniciar as tratativas técnicas. Nós não vamos avançar se não tivermos a anuência dos órgãos reguladores como a Anvisa e a Comissão Nacional de Ética e Pesquisa. Ainda é uma fase inicial”, afirmou.

Ele citou o segundo semestre de 2021 com “prazo responsável” para começar a vacinação.

Outras vacinas

Apesar de ter sido a primeira registrada no mundo, a Sputnik V não é a vacina mais avançada em desenvolvimento. Enquanto a legislação da maioria dos países só permite o registro após a conclusão da fase 3 dos testes, a qual envolve um grande número de pacientes, a segurança e a eficácia da vacina, na Rússia pode-se registrar a partir da conclusão da primeira fase, o que ocorreu com a Sputnik V.

O convênio com o Paraná deve prever, inclusive, a realização da fase 3 dos testes em pacientes paranaenses, assim como já vem ocorrendo com a vacina chinesa, produzida pelo laboratório Sinovac, que já está sendo testada pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná.

Por isso, o protocolo com a Rússia deve se assemelhar ao das outras duas vacinas em teste no País: aplicação da fase clínica da vacina e, se os resultados forem positivos, transferência de tecnologia para a produção e distribuição local.

Assim teríamos no País a vacina de Oxford sendo testada e, posteriormente (se aprovada) produzida pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), a do Sinovac sendo desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan, além da vacina russa em parceria com o Tecpar.

Agenda

A Casa Civil do governo do Paraná confirmou que há uma reunião marcada para esta quarta-feira, mas não adiantou os termos do acordo, nem se ainda serão discutidos nesse encontro. “Estamos numa fase muito inicial dessas tratativas, para que tenha qualquer troca de informações, qualquer reunião mais avançada, é necessária a assinatura do acordo entre o governo do Paraná e a Rússia, que está prevista para acontecer”, disse Jorge Callado, diretor do Tecpar, esclarecendo que, no Brasil, até para que os testes sejam iniciados será necessária aprovação da Anvisa, após conhecimento dos protocolos russos.


“Podemos vacinar em janeiro”, diz diretor do Butantan

 

São Paulo – O diretor do Instituto Butantan, Dimas Tadeu Covas, afirma que é factível o estado de São Paulo iniciar a vacinação contra o coronavírus em janeiro de 2021.

O Butantan, instituição pública ligada ao governo paulista, fez acordo com a farmacêutica chinesa Sinovac para testar e produzir em larga escala a vacina. Os ensaios clínicos acontecem em seis estados e vão envolver 9 mil voluntários em 12 centros de pesquisa, inclusive no Paraná. “Tem muita gente dizendo que é otimismo demais. Isso pode ser relacionado a outras vacinas, não a essa [chinesa]”, diz o médico, professor titular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP).

O diretor do Butantan acredita que o estudo chinês é atualmente o mais avançado do mundo: “É a vacina que pode chegar mais rapidamente ao mercado”.

A vacina depende de resultados positivos de eficácia e segurança para obter registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Na China, ela já está sendo produzida e aguarda autorização de uso emergencial.

Brasil mantém média diária de mil mortes

Brasília – O Brasil tem mantido há 12 semanas a média móvel de mil mortes por dia, o que seria o chamado platô, quando há uma estabilidade na curva, que antecederia o início da queda. Ontem, o Ministério da Saúde informou o registro de 1.274 óbitos e mais 52.160 pessoas infectadas pelo novo coronavírus. Com isso, segundo a Pasta, o País passou para 103.026 mortes em decorrência da covid-19 e 3.109.630 pessoas que se infectaram.

Ontem o mundo ultrapassou a marca de 20 milhões de casos do novo coronavírus, com 737.285 óbitos. Os Estados Unidos seguem com o maior número de casos e de mortes: 5,1 milhões e 163 mil, respectivamente. Em números absolutos, o Brasil aparece em segundo lugar.