

O estudo tem dados defasados em relação a números, que vamos atualizar nesta matéria, mas confirma o que é mais importante: os motivos para essa vulnerabildade à pandemia de novo coronavírus.
Os “principais achados” do estudo feito pela Fiocruz, em relação ao Paraná, considerando os últimos 15 dias anteriores, foram que os principais focos de atividade da covid-19 estavam exatamente nessas cinco cidades.
O modelo de probabilidade adotado pela Fiocruz mostrou que o Estado tem “nível de vulnerabilidade alta na região de Curitiba, Foz do Iguaçu, Cascavel, Maringá e Londrina para entrada e circulação geográfica do vírus (na ausência de medidas de redução de mobilidade)”.
Os mesmos municípios são as áreas “com maior probabilidade de ter ou vir a ter atividade alta de covid-19”.
Além disso, no Paraná todo, a incidência de Síndrome Respiratório Aguda Grave (SRAG) “está em nível muito alto, considerando o histórico do Estado. Para essa época do ano, a SRAGa está na zona de risco”.
Exatamente por essa alta incidência da síndrome, a Fiocruz recomendava reforço na testagem de covid-19.
Os números de hoje

Confirmando o estudo da Fiocruz, as cidades com maior número de casos, pela ordem, são: Curitiba (433 casos, 18 mortes), Londrina (101 e 13 mortes), Cascavel (84 e 4 mortes), Maringá (58 e 5) ae Foz do Iguaçu (47 casos e 2 mortes).
Considera-se, no Brasil, que o número de casos em um Estado pode gerar situação de “emergência” (quando estão 50% acima da média nacional); “atenção” (entre 50% e a incidência nacional) e “alerta” (abaixo da incidência nacional).
A média brasileira é muito alta, de 340 casos para cada 1 milhão de habitantes. A média paranaense é de 118 casos para cada 1 milhão.
Estão acima da média paranaense os cinco municípios com mais casos. A regional de Saúde de Cascavel está em primeiro, com 194 casos a cada 1 milhão; a regional de Curitiba vem a seguir, com 156 casos a cada 1 milhão; depois, Foz do Iguaçu, com 128 casos a cada 1 milhão; Londrina tem 126 casos por 1 milhão de habitantes; e a regional de Maringá, 99 para 1 millhão.
Vulnerabilidade

O salário médio mensal dos trabalhadores formais, naquele ano, equivalia a 2,7 salários mínimos. Mas apenas 72.117 pessoas estavam ocupadas, o que correspondia a 27,3% da população de aproximadamente 260 mil habitantes.
Mais grave, ainda, é que 33,4% da população iguaçuense morava em domicílios onde os rendimentos mensais eram de até meio salário mínimo por pessoa.
Um outro estudo, de 2013, baseado nos dados do recenseamento de 2010, mostrava que a evolução da desigualdade de renda havia aumentado, em Foz do Iguaçu, conforme o Índice de Gini. Em 2000, aesse índice era 0,57; em 2010, caiu para 0,53. Com as sucessivas crises que se sucederam, a situação deve ter piorado muito.

Esta é a grande vulnerabilidade de Foz do Iguaçu, que exige providências no sentido de prover alimentos para essas pessoas que não têm emprego ou perderam a pouca renda que tinham. E também insumos básicos de proteção da saúde, como sabonetes, creme dental e máscaras.
O Instituto
O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) foi criado em 1900, como iniciativa pioneira no Brasil. Hoje, é um complexo que gera conhecimento, produtos e serviços na área biomédica para atender as necessidades da saúde da população brasileira, como se autodefine.
O IOC atua nas áreas de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação e na prestação de serviços de referência para diagnóstico de doenças infecciosas e genéticas e controle de vetores, amparado pela ação de comissões internas responsáveis por garantir os padrões de biossegurança, de qualidade e de gestão ambiental.
Não por acaso
O nome do instituto é em homenagem ao médico e cientista Oswaldo Gonçalves Cruz, que nasceu em São Luís do Paraitinga (SP), em 5 de agosto de 1872.
Ele foi o precursor no combate a doenças endêmicas, como a febre amarela, peste bubônica e varíola.
Para isso, adotou métodos como o isolamento dos doentes, a notificação compulsória dos casos positivos, a captura dos vetores – mosquitos e ratos –, e a desinfecção das moradias em áreas de focos.
Oswaldo Cruz acreditava que o transmissor da febre amarela era um mosquito. Assim, suspendeu as desinfecções, método tradicional no combate à moléstia, e implantou medidas sanitárias com brigadas que percorreram casas, jardins, quintais e ruas, para eliminar focos de insetos. Sua atuação provocou violenta reação popular.
Em 1904, a oposição a Oswaldo Cruz atingiu seu ápice. Com o recrudescimento dos surtos de varíola, o sanitarista tentou promover a vacinação em massa da população. Os jornais lançaram uma campanha contra a medida. O congresso protestou e foi organizada a Liga contra a vacinação obrigatória.
No dia 13 de novembro, estourou a rebelião popular e, no dia 14, a Escola Militar da Praia Vermelha se levantou. O Governo derrotou a rebelião, que durou uma semana, mas suspendeu a obrigatoriedade da vacina.
Mesmo assim, em 1907, a febre amarela estava erradicada do Rio de Janeiro. Em 1908, em uma nova epidemia de varíola, a própria população procurou os postos de vacinação.
Se você lembrou que há movimentos ainda hoje contra a vacina, vai ver que o trabalho de Oswaldo Cruz ainda seria bem-vindo.
Reportagem: H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta