Viralizou o vídeo em que o agricultor Paulo Vanin teve o vidro do trator em que usava para realizar o plantio de uma área, estilhaçado por uma flecha lançada por invasores de um área em Cachimbeiro, pertencente a Guaíra, no Oeste do Paraná.
O novo confronto registrado na quinta-feira (17) resultou em pelos menos quatro feridos (dois de cada lado). A polícia foi chamada e ao chegar, os invasores já tinham’ deixado o local. Nesta quarta-feira (23), uma comissão se reunirá com o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, para cobrar uma solução definitiva para o problema. O clima ainda é de tensão em Guaíra e em Terra Roxa. Novos confrontos não estão descartados.
Encontro busca solução
Na sexta-feira (18), uma comissão da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), presidida pelo deputado federal Pedro Lupion, se reuniu com a ex-ministra da Agricultura, senadora Tereza Cristina, além de representantes da FAEP (Federação da Agricultura do Estado do Paraná); Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul), CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), sindicatos rurais de Terra Roxa e Guaíra e equipe jurídica da FPA, para buscar uma solução para a escalada da violência naquela região.
“Gera indignação a falta de capacidade de o governo federal garantir segurança aos nossos produtores”, enfatiza Lupion. “Além de medidas cautelares, liminares, estamos adotando novas medidas junto ao STF, com mais um pedido de autorização para que a jurisdição sobre o assunto deixe a esfera federal e passe a ser gerida pelos governos estaduais do Paraná e do Mato Grosso do Sul, para que assim, possa se fazer cumprir as tão aguardadas reintegrações de posses nas áreas invadidas”, reivindica Lupion.
Tensão
Para o presidente da FPA, “não é possível que um bando de paraguaios atravesse a fronteira, entre no Brasil, se diga indígena brasileiro e faça baderna na terra de agricultores brasileiros”. Segundo ele, o clima de tensão não se restringe apenas ao campo em Guaíra. Na cidade, há uma invasão localizada no bairro Eletrosul, que inclusive, já teve uma situação de confronto registrada dias atrás.
Para as autoridades, só a Polícia Militar dos estados pode colocar ponto final nesse problema. “Falamos com Ratinho [governador do Paraná] e ele se colocou à disposição. Nesta quarta-feira, estaremos em Brasília para uma conversa com o ministro Gilmar Mendes em busca de uma solução definitiva e para que os produtores possam de fato realizar o plantio”, alerta Pedro Lupion.
Boletim de Ocorrência
A equipe de reportagem do Jornal O Paraná teve acesso ao Boletim de Ocorrência do episódio do dia 17 de outubro, em Guaíra. Conforme apurado, por volta das 9h15, a polícia recebeu uma chamado para atender a uma ocorrência nas imediações da comunidade rural de Cachimbeiro, local onde há uma invasão denominada Tekoha Yvyju Avary. Lá, foi registrado um confronto entre invasores e produtores rurais. De acordo com o B.O. o produtor Paulo Vanin teria sido impedido de plantar na área e foi recebido por pedras, garrafas de vidro e flechas. Dois dos seus colaboradores ficaram feridos, sendo um com maior intensidade.
A Polícia Federal instaurou um inquérito para obter mais detalhes do confronto. Na mesma tarde do episódio, o local passou por perícia. A polícia ouviu alguns dos envolvidos. As investigações seguem em sigilo.
Fraturas na face
Dois dos colaboradores feridos são Leandro e Matheus Kihara. No momento da emboscada, ambos se esconderam na caçamba do caminhão, mas mesmo assim foram atingidos pelos objetos lançados pelos invasores.
Em entrevista ao O Paraná nesta segunda-feira (21), a tia e mãe de Leandro e Matheus, respectivamente, dona Marly Kihara, informou que o filho precisou ser socorrido no Hospital São Lucas, em Cascavel, dada à gravidade dos ferimentos. “O Matheus teve os ossos do rosto quebrados em quatro lugares”, conta. Ademais, ele voltou para Guaíra e na sexta-feira retorna a Cascavel para uma nova consulta médica. “Felizmente, o objetivo não atingiu diretamente o olho e não comprometeu a retina”, disse, aliviada. Ela temia que o filho pudesse perder a visão de um dos olhos. O fundo de uma garrafa atingiu Matheus, enquanto se protegia dentro da caçamba do caminhão. O sobrinho, Leandro, sofreu um corte na testa que lhe rendeu um ponto.
“Barril de pólvora”
Conforme o presidente da FAEP, Ágide Eduardo Meneguette, a situação na região de Guaíra é extremamente preocupante e comparada a um barril de pólvora. “A FAEP tem alertado insistentemente o governo federal sobre o problema, entretanto, não observamos nenhuma ação efetiva”. Para ele, a ineficiência da Força Nacional e a falta de “pulso firme” do governo federal só aumentam a violência. “O que mais me deixa pasmo, é o direito à propriedade sendo rasgado na cara do produtor, invadindo e apedrejado dentro de sua propriedade”.