Política

Piso da enfermagem: Lei sancionada não garante o pagamento, alerta CNM

UTI COVID - Hospital Trabalhador em Curitiba - 01/09/2020 - Foto: Geraldo Bubniak/AEN
UTI COVID - Hospital Trabalhador em Curitiba - 01/09/2020 - Foto: Geraldo Bubniak/AEN

O governo Federal sancionou sexta-feira (12), a lei que abre crédito especial de R$ 7,3 bilhões para o pagamento do piso nacional dos trabalhadores da enfermagem. O novo piso para enfermeiros contratados sob o regime da CLT é de R$ 4.750, conforme definido pela Lei nº 14.434. Técnicos de enfermagem recebem, no mínimo, 70% desse valor (R$ 3.325) e auxiliares de enfermagem e parteiras, 50% (R$ 2.375). O piso vale para trabalhadores dos setores público e privado.

Dados do Conselho Federal de Enfermagem contabilizam mais de 2,8 milhões de profissionais do setor no país, incluindo 693,4 mil enfermeiros, 450 mil auxiliares de enfermagem e 1,66 milhão de técnicos de enfermagem, além de cerca de 60 mil parteiras. Contudo, a CNM (Confederação Nacional de Municípios), movimento municipalista, alerta que a medida atual é uma “ilusão” e o valor sancionado não paga um terço do piso dos profissionais de saúde que atuam nos Municípios.

Além disso, segundo a entidade, os recursos são referentes apenas ao ano de 2023 e não de forma permanente, para uma despesa continuada. “Estimativas da entidade mostram que o impacto do piso apenas aos Municípios será de R$ 10,5 bilhões neste ano. No entanto, a Lei 14.581/2023 se limitou a destinar R$ 3,3 bilhões aos Entes locais, apesar de ser a esfera municipal que absorve o maior impacto financeiro com a instituição do piso. Destaca-se que os Municípios possuem em seu quadro mais de 589 mil postos de trabalho da enfermagem e, com a vigência da medida, correm o risco de reduzir 11.849 equipes de atenção básica, desligar mais de 32,5 mil profissionais da enfermagem e, consequentemente, desassistir quase 35 milhões de brasileiros”, informou a entidade em nota.

 

Situação crítica

De acordo com a CNM, o Brasil enfrenta uma situação crítica na prestação de serviços na saúde à população, com desafios no atendimento da atenção primária.

“Taxa de cobertura vacinal muito abaixo da meta estabelecida e o risco de retomada de doenças graves como poliomielite e sarampo; falta de médicos e medicamento; e demandas reprimidas em decorrência da pandemia de Covid-19, que requer mais de R$ 17 bilhões em investimentos apenas para os Municípios. Como vamos reverter isso? A fonte de financiamento é apenas uma. O cenário é alarmante, pois leva ao colapso total da saúde no país”, enfatiza a CNM.

 

Piso suspenso

Segundo a CNM, o pagamento do piso continua suspenso pelo Supremo Tribunal Federal, que apontou para os riscos à solvabilidade das finanças de Estados e Municípios, cenário este mantido após a sanção da medida. A CNM vai solicitar novamente que a Corte mantenha a suspensão da efetividade legal do piso até que haja fontes definitivas e sustentáveis de financiamento do piso.

“Vislumbrando impactos, impasses e desdobramentos futuros, a CNM orienta os Municípios a aguardarem a definição do piso pela Corte. Além disso, a entidade pede a mobilização dos gestores junto a deputados e senadores para garantir a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição 25/2022, que adiciona ao Fundo de Participação dos Municípios mais 1,5%, medida permanente e que aporta recursos financeiros que poderão ser aplicados para o cumprimento do piso”, finaliza.