Política

Municípios temem colapso da saúde com novo piso da enfermagem, alerta CNM

No sábado, profissionais do Paraná fazem mobilização em defesa do piso, em Curitiba

Médicos fazem treinamento no hospital de campanha para tratamento de covid-19 do Complexo Esportivo do Ibirapuera.
Médicos fazem treinamento no hospital de campanha para tratamento de covid-19 do Complexo Esportivo do Ibirapuera.

Brasília – O piso nacional da enfermagem voltou à pauta nacional. No início da semana, o Ministério da Saúde anunciou que pretendia elaborar uma Medida Provisória para detalhar o aporte financeiro para reduzir o impacto do piso da enfermagem.

Após o anúncio, a CNM (Confederação Nacional de Municípios) lamentou que o Ministério da Saúde não incluiu os municípios nos debates sobre o financiamento do piso salarial, alegando que serão os entes locais os mais afetados com a medida. De acordo com estimativas da entidade, os municípios, são responsáveis pela vinculação de 42% desses profissionais e teriam impacto de R$ 10,5 bilhões somente no primeiro ano da implementação da medida, correndo risco de enfrentar o colapso da saúde e a desassistência da população de forma permanente.

A entidade alertou que as soluções apontadas pelo grupo de trabalho criado pelo Ministério da Saúde com o objetivo de viabilizar o pagamento, não são resolutivas para o problema. O movimento alega que o texto da medida provisória em debate pelo grupo sem a participação dos municípios, possa ser utilizado como justificativa para derrubar a liminar concedida pelo STF (Supremo Tribunal Federal) que suspendeu os efeitos da Lei 14.434/2022 pela falta de indicação da fonte de financiamento e pelos riscos à solvabilidade das finanças de Estados e Municípios ainda no ano passado.

Em sua última decisão, o ministro Luiz Roberto Barroso solicitou à Câmara e ao Senado informações a respeito do projeto de lei que regulamenta a Emenda 127, que deu origem ao piso, uma vez que, na previsão constitucional, a efetivação do piso necessita de lei que defina as fontes de financiamento, os critérios de destinação dos recursos e a metodologia de rateio para repasse aos Entes e prestadores de serviços. Na decisão, Barroso argumenta que o vazio legal não permite a operacionalização do piso.

Financiamento

De acordo com a CNM, a utilização de recursos de fundos públicos para o financiamento do piso é um equívoco, uma vez que, a medida é temporária e incerta. A previsão de recursos vai até 2027, sujeita a superávit dos fundos, e não há fonte de financiamento a partir de 2028.

Os fundos públicos são criados e regulados por leis específicas, que devem ser observadas para evitar conflitos e entraves legais. Um exemplo é o Fundo Social do pré-sal (Lei 12.351/2010), que define seu objetivo e aplicação dos seus recursos financeiros. Parte do Fundo já tem destinação fixa e o superávit no exercício de 2021 foi de R$ 17 bilhões. Esses não são suficientes para cobrir as despesas decorrentes do piso, tendo em vista que o impacto para os Entes e prestadores de serviços supera R$ 24,3 bilhões.

Para a CNM, uma medida complementar que viabiliza o pagamento, no âmbito dos Municípios, é a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 25/2022, que adiciona ao FPM (Fundo de Participação dos Municípios) mais 1,5%. A medida é permanente e aporta recursos financeiros que poderão ser aplicados de forma adicional ao auxílio da União para o cumprimento do piso. Outra solução é o custeio permanente do piso pela União, como já ocorre com o piso dos Agentes Comunitários de Saúde e Endemia.

A CNM ainda reitera a necessidade de que seja mantida a liminar do STF até que haja uma solução sustentável e definitiva para viabilizar o pagamento sem comprometer a prestação de serviços e a solvência dos Entes.

Paralisação nacional

O Fórum Nacional da Enfermagem convocou paralisação nacional para o dia 14 de fevereiro em defesa do piso salarial nacional da categoria. Segundo informações, a entidade também ameaçou greve geral para 10 de março, caso a questão da fonte pagadora do piso não seja resolvida até lá.

Foto: Arquivo/ABR

+++

Em Cascavel

Na semana passada, a implementação do piso da enfermagem foi tratada pelo presidente da Comissão de Saúde da Câmara de Cascavel, o vereador Edson Souza (MDB) e entidades ligadas à área da saúde. O objetivo do encontro era elaborar um plano de ação para a implantação do piso no município. Durante o encontro, os trabalhadores decidiram aderir a mobilização estadual em defesa do piso, que será realizada em Curitiba, no próximo sábado (4).

Além disso, na próxima segunda-feira (6), será criado um grupo de ação que conduzirá as tratativas para a adoção dos valores estabelecidos pelo piso na cidade de Cascavel.