Política

MEU PRIMEIRO MANDATO Professora Liliam: oposição sem intransigência e com inteligência

"Eu conquistei o mandato e ainda mandei mil votos a mais que o Paulo fez em seu último"

MEU PRIMEIRO MANDATO Professora Liliam: oposição sem  intransigência e com inteligência

O jornal O Paraná realiza nesse mês de janeiro de 2022, uma série de entrevistas com os vereadores de Cascavel que cumpriram o seu primeiro ano de mandato. A entrevistada de hoje, é a vereadora Professora Liliam (PT), outra representante feminina no Legislativo Municipal. Liliam é professora universitária da Unioeste e, em 2020, disputou a eleição pela primeira vez, sendo eleita com 2.855 votos, a segunda parlamentar mais bem votada de Cascavel no pleito.

A vereadora que divide o tempo no parlamento e nas salas de aulas é também defensora das lutas sociais. Segundo Liliam, ela sempre foi militante e isso a fez chegar ao parlamento. “Minha história sempre foi muito militante, sempre fui de partido, sempre fui filiada, militante. Na direção das coisas que eu acredito e luto, eu fiz as escolhas tanto dos programas partidários aos quais me filiei, assim como as bandeiras que defendi. […] Sempre fui posicionada e estive sempre em luta. E quando a gente entendeu que seria importante para o partido ter o Paulo Porto (ex-vereador) como candidato a prefeito, o nosso grupo político passou a discutir dentre nós quem seria o nome com condições de garantir a manutenção desta nossa cadeira. Acabei colocando meu nome a disposição, nunca havia pensado nisso, não era algo que estava nos meus planos, não via com muita simpatia, mas acabei por assumir essa tarefa do nosso grupo e tive uma surpresa absurda quando tive aquele volume enorme de votos. E, a partir de então, tenho feito o exercício cotidiano de aprender o que é o espaço do legislativo. ”

 

Atuação na Câmara

O início da atuação como vereadora não foi fácil, segundo Liliam. Contudo, com o tempo, o mandato foi ganhando prática com o manejo do regimento da Câmara e com as matérias que não eram rotineiras no cotidiano da professora. “Eu sempre tenho a sensação de que muitas coisas eu sigo não entendendo, como por exemplo, o domínio pleno do regimento, mas a gente vai consultando até se apropriar.”

No balanço da produção legislativa, no final do primeiro ano de mantado, Liliam se diz tranquila e acredita que a produção do gabinete no primeiro ano foi boa. “Eu terminei o ano tranquila com a minha consciência, com o meu entorno. Trabalhei muitíssimo e fui aprendendo a coisa da demanda. ”

De acordo com a parlamentar, apesar de ser uma das poucas vereadoras de oposição, o mandato dela busca sempre a construção. “Tive uma dimensão importante do mandato que foi a denúncia, a minha posição de oposição. Sempre tive muita responsabilidade sobre isso porque não se trata de ser contra tudo e contra todos. […]. Trabalhamos muitíssimo, desde visitar espaços públicos, acolher demandas, encaminhar para o Executivo essas demandas e dialogar no interior da Câmara de Vereadores, aprender esse outro jeito de fazer política que não é só na reivindicação, mas na tentativa de construção. ”

 

Gestão Paranhos

Como dito, Liliam é uma das poucas parlamentares manifestamente de oposição, contudo, apesar do posicionamento, a vereadora diz que respeita muito a atual gestão de Cascavel e que votou muito mais a favor da atual gestão do que contra. “Não é uma oposição de ser do contra. Eu tenho posições claras e avalio cada pauta em relação as coisas que a gente defende e, muitas vezes, eu diria que votei muito mais a favor do que contra as pautas vindas do Executivo. Acho que temos um prefeito extremamente atuante, que avança em muitos sentidos, um prefeito que fez uma escolha de gestão em obras, então isso é muito impactante.”

Contudo, a parlamentar também tece críticas ao governo Paranhos, em especial à gestão perante os servidores públicos. “Acho que essa gestão é ‘antisservidor’. Eu já disse isso outras vezes. Mas, é antisservidor porque o Paranhos embarcou no discurso que servidor público é problema e não solução, amplia seus equipamentos sociais sem gente para tocar, portanto, penaliza os poucos que estão em todas as secretarias e, ao penalizar, as pessoas ficam mais adoecidas. ”

 

Mulheres na Câmara

As eleições de 2020 foram históricas em Cascavel, isso porque, duas vereadoras mulheres foram eleitas, fato que não acontecia há 20 anos. Junto com a vereadora Beth Leal (Republicanos), Liliam disse ter muita responsabilidade na luta da defesa e na representação das mulheres. “Primeiro eu fico muito feliz que a Beth seja minha companheira, eu não conhecia a Beth Leal, é uma pessoa incrível, inteligente, superposicionada e me dá muita segurança toda vez que vou conversar com ela sobre qualquer coisa. Peço muito ajuda, conversamos muito, tenho uma honra de estar com a Beth.”

No entanto, a parlamentar analisa que a representatividade feminina ainda é tímida em Cascavel. “A gente também precisa analisar que, se somos a maioria da população de Cascavel, nós estamos muito aquém da representatividade. A gente vai comemorar quando tiver mais do que 51% da casa que é mais ou menos o que a gente tem na população de Cascavel.”

Segundo a legisladora, apesar do ambiente completamente masculino que era a Câmara até 2020, as parlamentares não sofreram no legislativo por serem mulheres. “Eu não diria que, fora os cacoetes do machismo estrutural, a gente tenha enfrentado preconceitos no interior da Câmara de Vereadores. A gente fica chamando atenção dos colegas e de servidores e às vezes de jornalistas, as pessoas que circulam por ali, por essa coisa que é da estrutura da nossa cultura machista. Mas, eu não posso dizer que existiu alguma ação deliberadamente discriminatória por eu ser mulher. ”

 

Conquista legítima

Porém, a vereadora admite que no início o desrespeito pelo nome político escolhido por ela a chateou um pouco. “Escolhi o nome político Professora Liliam, primeiro pela minha identidade profissional, mas porque também Liliam Porto remete ao Paulo Porto, que além de ter sido vereador e tem uma visibilidade muito maior que a minha, me incomodava o fato que escolhi lá meu nome Professora Liliam e as pessoas me chamavam de Liliam Porto. Acho que isso é machismo, porque é uma coisa de identificar e os primeiros meses do mandato isso era recorrente, os colegas faziam referência ao Paulo antes de falar comigo”, recorda.

Segundo ela, aos poucos “fui chamando a atenção, as vezes de forma delicada, as vezes tirando sarro, para dizer que eu não estou aqui [na Câmara] no lugar de ninguém. Conquistei o mandato e ainda mandei mil votos a mais que o Paulo fez em seu último. Então com muita tranquilidade a gente vai também se desconstruindo, porque a gente cresce, se alimenta desse machismo, por outro lado, não poderia dizer que teve alguma coisa fortemente marcada por preconceito, discriminação, até porque a Beth e eu, a gente se garante, a gente é muito segura, a gente se impõe, tem a facilidade da interlocução e rapidinho a gente se impôs. Hoje as pessoas falam menos do Paulo quando se referem a mim.”

 

Futuro

A expectativa da vereadora para o futuro é trabalhar mais e buscar aproximar as mulheres da política, a mesma linha que afirmou, ontem, a vereador Beth Leal. “Eu diria assim, o primeiro desafio é que nossos mandatos possam indicar para as mulheres que elas precisam vir para a política. O que a gente precisa construir, e acho que isso é o maior desafio dos próximos anos, é aproximar mulheres que nos acompanhem nesse caminho e fortaleçam as suas ações políticas com essa identidade, porque muita gente faz política e não reconhece por achar que política é suja, feia, coisa de gente que se vende. Então, reconhecer essa atuação propositiva que muita gente tem na sociedade, que isso é uma posição política e que elas devem defender isso, inclusive, partidariamente e enfrentarem os processos eleitorais. O maior desafio para mim é que, pelo menos, o meu partido eleja mais mulheres no próximo pleito.”

 

 

Foto: Vereadora Professora Liliam

Crédito: Paulo Eduardo