Brasil - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ontem (12) que a determinação do presidente Lula é de negociar, e não retaliar, em um primeiro momento, a taxação de 25% sobre o aço e o alumínio imposta pelos Estados Unidos e que afetam as exportações da indústria nacional.“O presidente Lula falou ‘muita calma nessa hora’. Já negociamos outras vezes em condições até muito mais desfavoráveis do que essa”, disse o ministro a jornalistas após reunião com representantes do setor da indústria do aço brasileira, que apresentou um relatório com argumentos para a negociação.
De acordo com Haddad, os empresários “trouxeram argumentos muito consistentes de que [a taxação] não é bom negócio sequer para os norte-americanos”. O ministro não entrou em mais detalhes sobre as propostas de negociação apresentadas pelo setor do aço, afirmando apenas que o relatório servirá de subsídio para as negociações lideradas pelo Ministério do Desenvolvimento. “Vamos levar para a consideração do governo americano que há um equivoco de diagnóstico”, disse Haddad, para quem os argumentos apresentados pelas siderúrgicas são “muitos consistentes”.
A taxação de 25% sobre o aço e o alumínio pelos EUA entrou em vigor ontem (12), após ter sido confirmada no dia anterior pelo governo estadounidense. A medida afeta diretamente a exportações brasileiras.
Maior comprador
Os EUA são um dos maiores compradores do aço brasileiro. Segundo dados do Instituto Aço Brasil, em 2022, os EUA compraram 49% do total do aço exportado pelo país. Em 2024, apenas o Canadá superou o Brasil na venda de aço para o país norte-americano. “Os Estados Unidos só têm a perder, porque nosso comércio [bilaterial] é muito equilibrado”, afirmou Haddad.
O ministro acrescentou que o setor do aço pediu providências não só em relação às exportações, mas também a respeito das importações, preocupado em especial com a entrada de aço chinês no país. “No caso das exportações envolve uma negociação, enquanto que no caso da importações envolve uma defesa mais unilateral. Isso pela proposta que eles fizeram”, relatou Haddad.
Segundo o ministro, a Fazenda deverá agora preparar uma nota técnica sobre as propostas das siderúrgicas brasileiras, que deverá ser enviada ao vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro do Desenvolvimento, para orientar as negociações com os EUA.
Especialistas ouvidos pela reportagem apontam que a taxação sobre aço brasileiro pode ter impacto significativo sobre as siderúrgicas nacionais, embora não represente grande reflexo para a economia como um todo.
Ainda ontem, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse que o presidente Lula só tomará alguma posição sobre a taxação depois de sexta-feira (14) o ministro da Indústria e Comércio e vice-presidente, Geraldo Alckmin, terá uma nova conversa sobre o tema com um representante norte-americano.
“Fale manso”
Em meio à guerra comercial promovida pelos EUA, na terça-feira (11), quando o presidente Donald Trump confirmou a taxação do aço brasileiro, o presidente Lula (PT) criticou o republicano: “Todo mundo vai ganhar, nós não queremos o Brasil para nós, queremos o Brasil para vocês. Não adianta o Trump ficar gritando de lá, porque eu aprendi a não ter medo de cara feia. Fale manso comigo, fale com respeito comigo que eu aprendi a respeitar as pessoas e quero ser respeitado”, disse.
Na quinta-feira passada (6), o vice-presidente e ministro do MDIC (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), Geraldo Alckmin, participou de videoconferência com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e o representante comercial dos EUA (USTR), Jamieson Greer. Ambos os lados concordaram em manter, nos próximos dias, reuniões bilaterais para tratar do tema.
Apesar das reuniões e “recados”, Trump manteve a taxação que preocupa a indústria nacional.
Indústria quer diálogo com EUA
O Instituto Aço Brasil e a CNI (Confederação Nacional da Indústria) acreditam em um diálogo para reverter a decisão dos Estados Unidos de estabelecer uma alíquota de importação de 25% para o aço, independentemente da origem. O Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas que fabricam o metal, informou ter recebido com surpresa a decisão estadunidense, mas disse estar confiante na abertura do diálogo entre os governos dos dois países para restabelecer o fluxo de produtos de aço para os Estados Unidos nas bases do acordo firmado em 2018, durante o primeiro mandato de Donald Trump.
Segundo o instituto, o acordo definiu o estabelecimento de cotas de exportação para o mercado norte-americano de 3,5 milhões de toneladas de semiacabados/placas e 687 mil toneladas de laminados. “Tal medida flexibilizou decisão anterior do presidente Donald Trump que havia estabelecido alíquota de importação de aço para 25%. Importante ressaltar que a negociação ocorrida em 2018 atendeu não só o interesse do Brasil em preservar acesso ao seu principal mercado externo de aço, mas também o interesse da indústria de aço norte-americana, demandante de placas brasileiras”, diz a nota do Instituto Aço Brasil.
Para a CNI, a decisão de taxar o aço é ruim tanto para o Brasil quanto para os Estados Unidos. A confederação informou que segue trabalhando para fortalecer as relações entre os dois países e que acredita em alternativas consensuais para preservar esse relacionamento comercial.