
O primeiro dia de negociações formais entre Brasil e Estados Unidos sobre o tarifaço de 50% imposto às exportações brasileiras terminou sem avanços concretos. A reunião, realizada na madrugada desta segunda-feira (27) em Kuala Lumpur, na Malásia, encerrou-se sem a esperada suspensão das sobretaxas impostas pelo governo norte-americano em agosto.
Apesar do impasse, as delegações concordaram em estabelecer um cronograma de reuniões para as próximas semanas, com o objetivo de construir um acordo “satisfatório para ambas as partes”, segundo o chanceler brasileiro Mauro Vieira. “Concordamos em trabalhar para construir um acordo satisfatório para as ambas as partes nas próximas semanas”, afirmou Vieira.
Negociações técnicas e tom político
Participaram da reunião o chanceler Mauro Vieira, o secretário-executivo do MDIC, Márcio Elias Rosa, e o assessor especial da Presidência, Audo Faleiro. Pelo lado americano, estiveram presentes o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o representante comercial, Jamieson Greer. O secretário de Estado, Marco Rubio, não compareceu.
Segundo Vieira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reiterou o pedido para suspensão imediata das tarifas como gesto de boa vontade e para viabilizar o diálogo. O governo brasileiro considera que as taxas são baseadas em “motivos improcedentes e inadequados”.
Márcio Elias Rosa avaliou o encontro como positivo, destacando o sinal político dado por Donald Trump, que teria instruído sua equipe a buscar um entendimento rápido. “Hoje estamos em um cenário mais positivo do que estávamos há alguns dias. O presidente Trump orientou sua equipe a celebrar um acordo em poucas semanas com o Brasil”, disse Rosa.
Lula e Trump
Antes da reunião técnica, Lula e Trump se encontraram por 45 minutos no domingo (26), à margem da 47ª Cúpula da Asean. O encontro ocorreu em tom cordial, segundo assessores, com o presidente norte-americano mais ouvindo do que falando.
Lula afirmou que Trump não fez promessas, mas garantiu que haverá um acordo. “Ele não prometeu, mas garantiu que haverá um acordo. E acho que será mais rápido do que muita gente pensa”, disse o presidente brasileiro.
Lula também destacou que as discussões comerciais seguirão entre ministros e secretários, enquanto as questões políticas — como sanções a ministros brasileiros — serão tratadas diretamente entre ele e Trump.
Ele também revelou que agora mantém um canal direto com Trump. “Toda vez que tiver uma dificuldade, eu vou conversar pessoalmente com ele. Ele tem o meu telefone, eu tenho o dele”, afirmou, reforçando que as equipes técnicas continuarão os trabalhos em Washington.
Segundo o presidente, as negociações brasileiras serão conduzidas por Geraldo Alckmin, Fernando Haddad e Mauro Vieira, em uma ofensiva diplomática para encerrar as tarifas e rever punições consideradas injustas por Brasília.
Próximos passos
Apesar da ausência de resultados imediatos, o Itamaraty avalia que a reunião foi importante para definir uma “regra de negociação” e reabrir o diálogo político de alto nível entre os dois países. Um grupo de negociadores brasileiros viajará a Washington nos próximos dias para dar sequência às conversas.
Trump, por sua vez, declarou ao embarcar para a Coreia que teve uma “ótima reunião” com Lula, mas evitou garantir resultados. “Vamos ver o que acontece. Eles gostariam de fechar um acordo. Vamos ver”, disse o republicano.
Enquanto isso, o tarifaço continua em vigor, pressionando setores exportadores brasileiros — especialmente o agronegócio, o aço e o alumínio.
Tecnologia
A reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, marcou o “passo mais importante” na reaproximação entre os dois países, disse o presidente em exercício e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB).
Além da pauta tarifária, Alckmin destacou que os dois governos discutem temas não tarifários, como a instalação de datacenters (centros de dados) no Brasil e a atração de investimentos em energia renovável.
O vice-presidente voltou a defender a aprovação da medida provisória dos datacenters, editada em setembro, que cria regras para o setor e é considerada essencial para atrair capital estrangeiro. “Essa iniciativa pode atrair investimentos, especialmente diante da escassez global de energia. O Brasil tem abundância de fontes limpas e renováveis”, disse.