Brasil - O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), esteve ontem (29) em Brasília para uma visita de três horas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que cumpre prisão domiciliar após ter sido condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a 27 anos e 3 meses de prisão pela suposta trama golpista de 8 de janeiro. O encontro, realizado na residência do ex-mandatário, contou também com a presença do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e do vereador Jair Renan (PL-SC).
A reunião de grande peso político teve repercussão imediata. Cotado como o nome mais forte da direita para disputar a Presidência em 2026, Tarcísio aproveitou a visita para reafirmar sua intenção de concorrer à reeleição em São Paulo, descartando – pelo menos neste momento – entrar na corrida presidencial. “Sou candidato à reeleição em 2026, em São Paulo. Vim visitar um amigo, que foi importante na minha trajetória. O presidente está passando por um momento difícil. É muito triste ver o presidente na situação que ele está”, disse aos jornalistas ao sair do encontro.
Anistia
O principal tema da conversa foi a proposta de “dosimetria” em tramitação no Congresso, relatada por Paulinho da Força (Solidariedade-SP), que prevê redução de penas, mas não o perdão total aos condenados. A medida não agrada Bolsonaro, nem seus aliados mais próximos. “Não conversamos sobre isso [a rejeição à anistia total]. Minha posição é de defesa da anistia, acredito na paz dialogada. A redução de penas não satisfaz o presidente”, afirmou Tarcísio.
Para o governador paulista, a anistia ampla seria o caminho para “pacificar o país”. Ele alegou que muitos dos detidos em razão do 8 de janeiro “não sabiam o que estavam fazendo” e já teriam compreendido a gravidade dos atos. “Não é falar de impunidade, é reconquistar um caminho para a paz”, disse. Flávio Bolsonaro reforçou o discurso. “Os partidos de centro-direita estarão juntos de qualquer forma em 2026”, afirmou, sinalizando que o campo conservador, mesmo sem Bolsonaro na disputa, pretende se reorganizar sob uma frente única.
A declaração de Tarcísio de que não será candidato à Presidência muda o tabuleiro da sucessão de Bolsonaro. Até aqui, lideranças da direita e do centro-direita avaliavam seu nome como o mais viável para herdar o capital político do ex-presidente. A decisão de buscar a reeleição em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, garante a Tarcísio a manutenção de protagonismo, mas adia uma definição sobre quem encabeçará a disputa nacional em 2026.
Com Bolsonaro inelegível, a visita expôs duas frentes simultâneas: de um lado, a tentativa de manter coesa a base bolsonarista em torno da bandeira da anistia; de outro, a necessidade de encontrar um nome competitivo para enfrentar o campo governista. Nesse cenário, siglas como PL, Republicanos e União Brasil passam a ter papel estratégico na costura de alianças.
Disputa
Embora tenha reiterado a preferência pela reeleição em São Paulo, Tarcísio ainda é visto por aliados como uma opção de última hora para 2026, caso o bloco não encontre outro candidato de consenso. Sua visita a Bolsonaro foi interpretada como um gesto de lealdade política, mas também como um movimento para manter abertas as portas junto ao eleitorado mais fiel ao ex-presidente.
Dentro da direita, cresce a leitura de que a definição do candidato dependerá de três fatores: a situação judicial de Bolsonaro, o desempenho de Tarcísio à frente do governo paulista e a capacidade dos partidos de centro-direita de se unirem em torno de uma chapa única. Enquanto isso, outros nomes começam a circular nos bastidores, mas nenhum com o mesmo peso político do governador paulista.
Sem Bolsonaro, direita se reorganiza
O encontro em Brasília mostrou que, apesar das incertezas jurídicas e eleitorais, a direita inicia um processo de reorganização para 2026. O discurso pela anistia cumpre duplo papel: servir de bandeira comum para manter mobilizada a base bolsonarista e, ao mesmo tempo, pressionar o Congresso diante das condenações impostas pelo STF.
A visita também deixou claro que, sem Bolsonaro no páreo, a disputa pela liderança do campo conservador está em aberto. Tarcísio, ao reafirmar sua permanência em São Paulo, reforça seu papel de articulador regional e preserva capital político para o futuro, mas coloca em xeque quem será o nome capaz de conduzir o bloco nacionalmente já em 2026.
Enquanto o ex-presidente segue recluso e os partidos costuram alternativas, uma certeza se desenha: a direita trabalha para manter-se unida e competitiva, mirando não apenas a sucessão presidencial, mas também a manutenção de sua influência nos principais estados e no Congresso Nacional.
Motta quer mais tempo
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou ontem (29) que ainda não tem a “temperatura” sobre a proposta de anistia e que aguarda as conversas do relator, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), com os partidos antes de decidir se pautará o texto. “Preciso de mais tempo para entender o sentimento da Casa”, disse. Questionado sobre o risco de repetir o desgaste da PEC das Prerrogativas, aprovada pela Câmara e rejeitada no Senado, Motta afirmou que cada Casa tem independência e protagonismo. Ele disse que ainda não tratou do tema com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e negou sentimento de traição: “O Senado estava atento às movimentações da Câmara. A Câmara cumpriu seu papel, e o Senado entendeu que não devia seguir”.