Após altas recordes e históricas por cinco dias consecutivos, o dólar fechou a terça-feira (3) praticamente estável ante o real, influenciado pelo recuo da moeda norte-americana ante outras divisas no exterior, ainda que as preocupações em torno do equilíbrio fiscal brasileiro seguissem sustentando as cotações bem acima dos R$ 6,00.
O dólar à vista fechou o dia com leve baixa de 0,05%, cotado a R$ 6,0624, após ter atingido na véspera o maior valor nominal de encerramento da história, de R$ 6,0652. No ano, a divisa dos EUA acumula elevação próxima de 25%. Às 17h23, o dólar para janeiro – o mais líquido no Brasil – cedia 0,12%, aos R$ 6,0715. A bolsa de valores recuperou-se da queda da segunda-feira (2) e voltou a superar os 126 mil pontos.
Tanto fatores internos quanto externos trouxeram mais tranquilidade para o mercado nesta terça. A divulgação de que a economia brasileira cresceu 0,9% no terceiro trimestre fez o dólar cair para R$ 6,03 no início da sessão e a bolsa atingir a máxima do dia pouco depois da abertura. Durante a tarde, a informação de que o governo registrou o segundo maior superávit primário da história para meses de outubro voltou a trazer alívio aos investidores, mas não o suficientes para a moeda americana recuar abaixo dos R$ 6,00
No cenário externo, o dólar caiu perante as principais moedas do planeta após uma série de dias de alta. Isso ajudou a reduzir as pressões sobre o mercado doméstico.
Mais críticas
Na tribuna e plenário da Câmara Federal, deputados da oposição criticaram o pacote de ajuste fiscal anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na última quarta-feira (27). Para deputado Carlos Jordy (PL-RJ), o governo quer aplicar à população mais pobre regras que ele mesmo não busca seguir. “Vimos a limitação do abono salarial. Eles querem atrelar à regra do arcabouço fiscal. Bom, eles não cumprem as regras do arcabouço fiscal, mas a população, o mais pobre vai ter que cumprir essas regras, vai ter que estar sujeito a essas regras”, disse.
O deputado Mauricio Marcon (Pode-RS) reclamou do fato de apenas as propostas de corte de gastos chegarem ao Congresso, mas não a isenção do Imposto de Renda de quem ganha até R$ 5 mil. “O único pacote que chegou foi aquele que corta o BPC, que corta o Bolsa Família, que corta investimentos em educação. Esse chegou, e chegou rápido“, criticou.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a reforma do Imposto de Renda foi determinada pela Emenda Constitucional 132 e será enviada para discussão no Congresso ao longo de 2025.
Doenças graves
O deputado Coronel Assis (União-MT) criticou o fato de o pacote acabar com a isenção do Imposto de Renda por doenças graves para quem ganha mais de R$ 20 mil. “Pelo amor de Deus, as doenças que estão elencadas lá são aids, câncer, paralisia, cegueira. Com essas doenças, a pessoa com certeza precisa desse aporte financeiro, dessa isenção, para sobreviver. É um grande absurdo. Isso fere a dignidade humana.”
A deputada Dra. Mayra Pinheiro (PL-CE) classificou como “crime e barbárie” a mudança proposta pelo governo. “Quando uma pessoa tem câncer, e eu fui vítima dessa doença nos últimos dois anos, as nossas necessidades aumentam – necessidades de medicamentos, de transporte, de assistência, de nutrição adequada”, afirmou.
Defesa
Já para os parlamentares da base do governo, há crítica seletiva ao pacote apresentado pelo Executivo para prejudicar as pessoas mais pobres. “Chama-me a atenção a resistência explícita, por alguns segmentos da sociedade, não por criticarem o pacote como um todo, mas por pontos que mostram claramente o perfil daqueles que não querem que as pessoas mais pobres tenham o mínimo de dignidade na vida”, disse o deputado Tadeu Veneri (PT-PR).
Só “parte dos problemas”
Em entrevista coletiva ao apresentar o resultado do governo central, ontem (3), o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou que o pacote fiscal “resolve” parte do problema com o equilíbrio das contas públicas. Segundo Ceron, o governo tem compromisso com a entrega de resultados fiscais prometidos nos próximos anos e que o trabalho “não se encerra” com as medidas apresentadas.
“Esse pacote resolve, endereça uma parte do problema. Não se encerra o nosso trabalho ali. Assim como nós fizemos em 2024, nós vamos fazer ao longo dos meses de 2025 e 2026: adotar todas as medidas necessárias para entregar os resultados prometidos, do ponto de vista fiscal. É um grande avanço em relação ao que havia de incerteza em relação ao assunto e permite que a gente siga em frente”, disse.