Um clima de animosidade nutrido pelo presidente Lula e o setor produtivo agropecuário brasileiro, ainda paira no ar. Ao conceder entrevista a Rádio T, em Curitiba, na manhã de quinta-feira, o presidente novamente não economizou adjetivos. “Não faço política esperando agradecimento”, disparou.
“Você pode desafiar qualquer fazendeiro para saber se em algum momento da história deste país um governo colocou tanto dinheiro na agricultura quanto nós. As pessoas do agro que não gostam de mim, não gostam do PT, não gostam de muitas coisas, dos sem-terra, da CUT (Central Única dos Trabalhadores)…”.
Ao se referir à liberação de recursos do Plano Safra 2024/25, anunciado no mês passado, totalizando R$ 400,59 bilhões em crédito para o setor, Lula não se conteve e voltou a alfinetar o setor produtivo. “Eu não faço isso para agradar fazendeiro, eu faço porque o Brasil precisa”, disse Lula, reconhecendo não ter nenhuma simpatia ao segmento e aproveitando para criticar a decisão anterior da Petrobras, de fechar as portas das fábricas de fertilizantes no Paraná.
Lula esteve no Paraná participando da cerimônia marcando a retomada das operações da fábrica de fertilizantes da Refinaria Araucária Nitrogenados S.A, que deverá reabrir no segundo semestre de 2025. Os investimentos chegam a R$ 870 milhões por parte da Petrobras. A estrutura não funciona desde 2020. Atualmente, o Brasil precisa importar 90% de todo o insumo necessário para dar vazão à agricultura brasileira.
Lula x Agro
No começo deste ano, o presidente causou polêmica ao disparar contra o setor produtivo, acusando os produtores rurais de encabeçar um megaprotesto em Brasília. “O agronegócio maldoso, sabe. Aquele agronegócio que usa agrotóxicos, sem nenhum respeito para a saúde humana, possivelmente, também estava lá”, disse, na ocasião.
Na oportunidade, o presidente da SRO (Sociedade Rural do Oeste do Paraná), Devair Bortolato, o Peninha, taxou de infundadas e equivocadas as declarações feitas pelo presidente Lula. “Quando se trata de paz, sem violência, todos têm o direito de se manifestar, pode ser o agro, a OAB, seja quem for. Só não concordamos com invasões e quebra-quebra, como ocorreu em Brasília [no fatídico 8 de janeiro de 2023]”.
No começo de fevereiro deste ano, o presidente da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), deputado federal Pedro Lupion, afirmou que o agronegócio “é o alvo preferido de Lula”.
Segundo o parlamentar, apesar de o Ministério da Agricultura tentar dar a devida atenção para o setor do agronegócio, o governo tem o agro como alvo, não dando a devida importância que o produtor necessita, disse, durante visita feita ao Show Rural Coopavel, em fevereiro deste ano.
“O ministro cumpre o papel dele de falar isso, mas, infelizmente, enquanto o Ministério da Agricultura tenta dar essa atenção ao setor, os sinais são todos contrários a isso. Pelo contrário, é a invasão de terra, é o desvirtuamento do direito de propriedade, a relativização do direito de propriedade, o seguro que não acontece, o Plano Safra que é muito aquém do que a gente precisa, vetos às legislações importantes que nós aprovamos. […] Então, nós [agro] somos o alvo favorito”.