Curitiba – Os depoimentos prestados nessa terça-feira (1º) à CPI da JMK por dois ex-sócios da gestora da frota estadual entre janeiro de 2015 e maio de 2019, ambos presos na Operação Peça Chave, comprovaram irregularidades na execução do contrato e sinalizaram que o governo do Paraná sabia quem eram os verdadeiros donos e os “laranjas” da empresa.
“As oitivas demonstraram claramente que houve omissões de agentes públicos nesse contrato com o Estado”, avaliou o presidente da CPI, deputado estadual Soldado Fruet (Pros). “É inadmissível que um agente público trate de serviços públicos com uma empresa que coloca como representante um sócio laranja”.
O ex-assistente financeiro da JMK Marcos Zanotto afirmou que, no fim de 2015, aceitou ser incluído como sócio-administrador, com cota de 99%, a convite do concunhado Jairo Cezar Vernalha Guimarães, sem pagar nada. “Ganhava R$ 1.300, aumentaram meu salário para R$ 5 mil, mas continuei na mesma função e assinava os documentos que precisava”, relatou. Segundo Marcos, todos na empresa sabiam que Aldo Marchini Junior e Jairo eram os reais donos e representavam a JMK em reuniões com o governo.
Ele admitiu que recursos da conta bancária da JMK na qual o Estado depositava os valores para pagar as oficinas eram repassados para sua conta pessoal e sacava mais de R$ 100 mil mensais para Jairo, Aldo e Alessandro Marchini, filho de Aldo. Apesar de, em tese, ser o responsável pela empresa e ter assinado vários aditivos, Marcos afirmou que não participou de negociações com o Estado nem de pagamentos às oficinas. Ele também disse que a JMK fazia pagamentos a empresas de familiares dos sócios mesmo sem haver prestação de serviços.
Braço-direito
Também interrogado nessa terça, Alessandro Marchini relatou que atuou no setor operacional da JMK desde 2015 e permaneceu poucos meses como sócio, mas foi apontado pela Polícia Civil como braço-direito do pai, Aldo Marchini Junior, na gestão da empresa.
Ele confirmou que Aldo e Jairo, identificados na Peça Chave como reais donos da JMK, apresentavam-se ao governo como diretores da empresa mesmo não constando do contrato. Alegou que seu pai não entrou inicialmente como sócio no papel devido a problemas em uma empresa anterior. “Não havia intuito de esconder os reais donos da empresa, todo mundo que trabalhava lá sabia”, declarou.
Alessandro atribuiu os problemas com as oficinas aos atrasos em quase R$ 100 milhões dos repasses do governo e citou que, por isso, a JMK teria acumulado R$ 23 milhões em juros bancários e duplicatas em cartório. Falou que a empresa cobra judicialmente mais de R$ 10 milhões do Estado e que, recebendo esse montante, quitará as dívidas com as oficinas. O ex-sócio defendeu a taxa administrativa de 10 a 15% cobrada das oficinas através de contrato particular e indicou que o Estado tinha conhecimento desse comissionamento.
“Ele escondeu da CPI muitas questões e se contradisse em alguns pontos. Se ele disse que reajustou a taxa administrativa das oficinas devido à inflação, por que cobrou do Estado um reajuste de R$ 15 milhões no final de 2018? Já foi aberta sindicância sobre isso e está sendo apurado pela CPI”, destacou o Soldado Fruet.
Sobre os 400 protocolos administrativos abertos pelo Estado, Alessandro disse que a maioria das situações já estava resolvida ao chegar à JMK. Confirmou ainda que a credenciada ABC Pneus pertencia à JMK, mas negou direcionamento de serviços.
Nova data
Outro sócio laranja da JMK Guilherme Votroba Borges, que assinou o contrato com o Estado, alegou que não poderia comparecer na reunião dessa terça-feira por motivo de saúde e terá o depoimento reagendado para a próxima reunião da CPI, na terça-feira (8), às 9h.