Educação

Professora publica estudo sobre abuso infantil em revista internacional

As ocorrências de violência doméstica contra mulheres e abusos sexuais contra crianças estão relacionadas entre si, sugere um artigo da pesquisadora brasileira Zelimar Bidarra, publicado na revista holandesa Child Abuse & Neglect. Ex-bolsista da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Zelimar produziu o estudo entre 2014 e 2015, quando participou do Programa Estágio Sênior no Exterior, na Universidade de Laval, no Canadá.

No artigo Co-occurrence of intimate partner violence and child sexual abuse: Prevalence, risk factors and related issues, a professora da Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) revisou literatura especializada que evidencia a coocorrência (concomitância) dos dois tipos de violência. O artigo está disponível no Portal de Periódicos da Capes.

A pesquisa reuniu e analisou diversos estudos que relacionam a ocorrência de violência contra a mulher com abusos sexuais contra crianças nos mesmos ambientes. “Até a publicação do artigo, não se localizou outra publicação que tivesse realizado a revisão no sentido buscar evidências e fatores de risco presentes na correlação/coocorrência entre violência conjugal (no Brasil, comumente denominada de violência doméstica contra a mulher) e o abuso sexual de crianças e adolescentes de natureza intrafamiliar”, afirma.

Objetivos

A intenção é construir um mapa dos estudos, de modo a apresentar o acervo de conhecimento disponível sobre o tema e identificar questões que precisam ser abordadas em pesquisas futuras. Outra finalidade do artigo é auxiliar profissionais de serviço social a identificar a concomitância das agressões. “O tema da coocorrência entre violências é bastante recente nas pesquisas de caráter internacional. Os primeiros registros das publicações dessa literatura datam dos anos 1980”.

A partir dos resultados obtidos, a pesquisadora destaca a importância das correlações de violência doméstica contra mulheres e abusos sexuais contra crianças serem enxergados pelos profissionais que atuam com as problemáticas decorrentes das violências, desde profissionais de segurança pública a profissionais de saúde. “O manuseio cuidadoso da literatura nos mostrou o quão invisível é a concomitância entre violências para aqueles técnicos que se encontram nos serviços de atendimentos por segmento populacional, das rotinas setoriais das políticas públicas. Como consequência dessa invisibilidade temos uma persistência desses tipos ocorrências, dado que não se atua preventiva e nem curativamente sobre elas. Ou seja, contingentes importantes de pessoas vitimadas pelas coocorrências entre violências não são identificadas como vítimas e não contam com espaços institucionais para processarem suas requisições”, conta.

Zelimar ressalta que o fenômeno é agravado quando se trata de crianças e adolescentes que estão expostos direta ou indiretamente à violência intrafamiliar praticada por um cuidador ou responsável. “Sem a devida e a acurada identificação dos processos desencadeados pelos sofrimentos inerentes às adversas experiências das violências sofridas, muitos crescem e se tornam adultos com alta probabilidade de reproduzir em suas relações interpessoais as práticas de uma sociabilidade mediada pela violência.”

Próximos passos

Desde o retorno ao Brasil, após a finalização do estágio sênior de pesquisa, Zelimar tem se dedicado ao tema da coocorrência entre violências. Um dos trabalhos tem sido a coordenação de uma equipe multiprofissional que atua para a constituição de políticas públicas que constituem a Rips (Rede Intersetorial de Proteção Social) de Toledo (PR). A pesquisadora também mantém interlocução acadêmica com os quadros da universidade canadense.