Agronegócio

Pecuária. Estiagem eleva até seis vezes custo de produção

A previsão para a colheita é de 1,9 milhão de toneladas de soja

Catanduvas – Elas não estavam no radar dos sistemas de meteorologia, mas ninguém se queixou. As chuvas registradas domingo (27) e ontem (28) em todo o Paraná foram muito bem-vindas e trouxeram alívio no campo e na cidade. Contudo, ainda são insuficientes para trazer paz, tampouco recuperar as perdas.

Rios, lagos e açudes com níveis baixíssimos ou até mesmo já secos e poços artesianos com restrições drásticas trazem dificuldades para matar a sede do gado no campo. Os cerca de 40 milímetros que caíram nas fazendas do agropecuarista Piotre Laginski trouxeram certo alívio. “A situação estava muito preocupante. A chuva que caiu ajuda bastante porque recupera um pouco os rios e o poço, então esperamos que a situação normalize”.

Piotre tem cerca de 1.500 cabeças de gado nas fazendas que ficam na região entre Catanduvas e Cascavel e conta que a falta de chuva também afetou a alimentação. “Nós sempre mantemos pastoreio de inverno e depois migramos para o de verão, mas, com a seca, o pastoreio de verão não estava se desenvolvendo e por isso tivemos que colocar parte do rebanho em confinamento, o que aumenta nosso custo, que vai de R$ 0,80 para R$ 6 dia”, revela Piotre, que conclui: “Esse, sem dúvida, foi o pior inverno nas nossas fazendas. Não há registro de seca assim em 40 anos”.

Lavouras

Na agricultura a situação também é crítica e a chuva era mais do que esperada. Na região de Cascavel, faltam ser plantados 532 mil hectares de soja. “Como a chuva chegou a todos os 28 municípios que compreendem a região de Cascavel, nós acreditamos que até o fim desta semana estaremos com 100% da área de soja plantada. Da soja já temos 90% e muitos produtores estavam esperando a chuva para concluir o plantio”, afirma o técnico José Pértille, do Deral (Departamento de Economia Rural) de Cascavel.

A previsão para a colheita é de 1,9 milhão de toneladas de soja. Já o milho tem cerca de 55% da área estimada plantada. Serão cultivados 19 mil hectares e a expectativa de colheita é de 209 mil toneladas de milho.

Atraso na safrinha

Pértille alerta para a necessidade de mais chuva e principalmente nos períodos corretos, para que a safra não seja comprometida. “Essa chuva veio para garantir a finalização do plantio, mas agora precisamos que as chuvas continuem vindo e especialmente nas épocas de floração e frutificação, para não acontecer como no ano passado, que nessas épocas faltou e houve uma quebra”.

Outra questão é que o atraso no plantio da soja e consequentemente o atraso na colheita podem reduzir a safrinha de milho, pois quanto mais tarde ocorre o cultivo mais ele fica suscetível ao frio. “É preciso esperar para ver como será, mas já se acredita que haverá uma redução na área plantada, o que depois pode causar a falta do grão no mercado nacional”, alerta.

Quando a chuva volta?

De acordo com o Simepar (Sistema Meteorológico do Paraná), não havia previsão de chuvas generalizadas no Estado, apenas pancadas isoladas, mas áreas de instabilidade se formaram rapidamente. Por isso, amesma situação de chuvas com vento e raios deve permanecer nesta terça-feira (29), diminuir na quarta e retornar com força na quinta-feira (31). Para o fim de semana, por enquanto, a previsão é de tempo ensolarado.

 

Desabastecimento continua

De acordo com a Sanepar, a chuva foi insuficiente para regularizar o abastecimento e é preciso que chova por vários dias para que a água infiltre no solo e faça a recarga dos mananciais. Para se ter uma ideia, desde abril o acumulado de chuva é metade do registrado em 2017 e 20% menor que em 2018.

No oeste, além de Cascavel que adotou rodízio de abastecimento ainda em 12 de setembro, os outros municípios em situação crítica são: Três Barras do Paraná, Santa Lúcia, Santa Maria, Campo Bonito, Matelândia, Cafelândia e Medianeira.

Algumas cidades iniciaram a semana sem água: Corbélia, Braganey, Catanduvas, Três Barras do Paraná, Santa Tereza do Oeste, Medianeira, São Jorge (São Miguel do Iguaçu), Palotina, Maripá e Santa Terezinha de Itaipu.

 

Reportagem;Cláudia Neis