Toledo – Apesar de a safra de inverno estar em pleno desenvolvimento, com o milho caminhando para a maturação e o trigo sendo semeado agora, os produtores rurais começam a pensar no cultivo de verão 2018/2019. O Plano Safra ainda não foi anunciado, mas o meio rural já se programa para iniciar os processos para a cobertura de custeio e o cronograma de semeadura.
Ocorre que na região oeste do Paraná, uma das mais importantes do ponto de vista produtivo do Estado, o ciclo de verão tem primado pela soja. A cultura ocupa mais de 1 milhão de hectares agricultáveis nos núcleos regionais de Toledo e de Cascavel que, juntos, englobam 48 municípios.
Agora, o setor produtivo, composto por cooperativas e instituições ligadas ao agronegócio, quer sensibilizar agricultores para a ampliação das lavouras de milho no verão, época em que elas de fato deveriam ser cultivadas, cuja área não passa de 100 mil hectares. Já no inverno, quando as lavouras são de alto risco devido aos fatores climáticos, essa área chega a 730 mil hectares.
A dependência da chamada safrinha para o milho deixa o Paraná refém desses cultivos de risco, sem a possibilidade de manter estoques razoáveis para o abastecimento interno, especialmente a agroindústria.
Neste momento, cálculos de cooperativas e unidades técnicas indicam perdas próximas dos 20% no milho safrinha, isso porque a estiagem de 40 dias retraiu o desenvolvimento das plantas e na formação das espigas.
Segundo o presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, essas perdas são irreversíveis e trarão ao Paraná um déficit de milho que pode variar de 1,5 milhão a 2 milhões de toneladas. “A safra já é menor porque menos áreas foram cultivadas. A expectativa inicial era de 6,5 mil quilos por hectares, mas isso já foi reduzido em cerca de 20% e essa perda é irreversível, volume que vai fazer falta para a Região Sul do Brasil até a primeira safra de 2019. Somente para o Paraná entre 1,5 milhão de toneladas e 2 milhões de toneladas precisarão ser trazidas de outras regiões, como o Centro-Oeste, por exemplo, com custo mais caro de transporte e com valor maior, porque os grãos estão mais valorizados”, afirmou.
Na prática, esses dados tendem a impactar diretamente sobre a produção das cadeias de aves, suínos e do leite, onde o milho aparece como produto base da ração. “O Sul responde por 65% da produção das aves, de suínos e do leite brasileiro e teremos que trazer milho de outras regiões. Por isso, precisamos adotar uma cultura de plantar mais desse cereal na safra de verão e abastecer os nossos estoques para o abastecimento interno”, segue.
Essa foi uma das tônicas de ontem durante o 4º Fórum Mais Milho promovido pelo Canal Rural, em uma ação descentralizada que levou mais de mil pessoas ao Teatro Municipal de Toledo e que trouxe à região algumas das principais referências do agronegócio brasileiro.
O milho brasileiro em números
A produtividade média de milho no Brasil é de apenas 5 mil quilos por hectare. Na região oeste do Paraná esse número já beira os 10 mil quilos/hectare, mas sementes e tecnologias aperfeiçoadas já disponíveis no mercado, conciliadas à qualidade do solo, podem elevar essa produtividade média para 15 mil, até 16 mil quilos por hectare. Assim, plantar milho na safra de verão seria tão ou mais vantajoso do ponto de vista econômico e financeiro que cultivar soja, a preferida nas lavouras da região.
Na toada para o aumento de áreas e políticas de incentivo à cultura, o senador e pré-candidato à Presidência da República Alvaro Dias (Podemos) reforçou o discurso que a agricultura é a base que segura a economia brasileira e que, portanto, necessita de políticas não de governo, mas de Estado que a valorizem.
Alvaro veio à região para participar do Fórum Mais Milho em Toledo. Em sua fala para um auditório lotado, defendeu o direito incondicional à propriedade e a redução das taxas de juros.
Para o senador, o seguro rural, alvo constante de reclamação no meio, deve passar por um processo que garanta mais segurança e confiança ao produtor. “Se reduzir a carga tributária e as taxas de juros, com taxas que podem chegar a 2% ou 3% [ao ano], sobrará recursos para um seguro agrícola competente, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos. Isso incentivaria e daria mais segurança aos produtores”, argumenta.
O vice-presidente do Banco do Brasil, Tarcísio Hubner, disse pouco antes da abertura do evento que o crédito rural vai ficar mais barato neste ano e que a renegociação de dívidas do campo, na instituição que responde por mais de 70% da liberação dos recursos para o setor, vem sendo analisada diante das necessidades dos produtores.
Hubner reforçou que o bom momento vivido pelo agronegócio e o compromisso dos produtores em honrar com seus contratos têm reestimulado os financiamentos de custeio e de investimentos do campo que “seguem de vento em polpa”. Segundo ele, é esse o setor em que se oberva o menor índice de inadimplência, que hoje gira em torno de 2%.
Asfalto rural
O prefeito de Toledo, Lúcio de Marchi, aproveitou o encontro de ontem para entregar ao senador Alvaro Dias o pedido da liberação de recursos – a partir de emendas parlamentares – para a construção de mais três quilômetros de asfalto em estradas rurais. O Município é uma das referências para escoamento de safra em todo o meio rural brasileiro. Já são 310 quilômetros de estradas completamente asfaltadas ligando o interior ao perímetro urbano do Município potencializando o escoamento da produção e minimizando as perdas durante o transporte de grãos, leite, aves, peixes e suínos, principais cadeias produtivas no Município.
Para essa obra seriam necessários R$ 900 mil e contemplaria o trecho ligando a região do Clube de Caça e Pesca e a Linha Vista Alegre.
O senador Alvaro Dias disse que vai analisar criteriosamente o pedido.
Toledo tem hoje o maior VBP (Valor Bruto da Produção) Agropecuária do Paraná, que, em 2017, tendo como ano-base 2016, chegou a R$ 2,2 bilhões.