Cotidiano

Apagão no oeste: Quedas de energia avançam do campo para as cidades

Serviços prejudicados, redes sobrecarregadas, dezenas de queda por dia... produtores rurais e moradores da cidade sofrem com fornecimento

Apagão no oeste: Quedas de energia avançam do campo para as cidades

Nova Santa Rosa – O avicultor Elio Migliorança não sabe mais a quem recorrer nem o que fazer. Em pouco mais de uma hora a energia elétrica caiu pelo menos 15 vezes na sua propriedade, onde estão alojados 18 mil frangos em dois aviários. A fazenda fica na Linha Machado de Assis, no município de Nova Santa Rosa.

Segundo ele, as oscilações e os picos de luz são frequentes, praticamente diárias: ocorrem cerca de 30 vezes em menos de 24 horas. O drama de Migliorança se repete por todo o oeste e o sudoeste do Paraná. Inclusive, entidades representativas já entregaram a demanda específica para o governo do Estado e a Copel. Até agora, sem solução.

O momento em que elas mais ocorrem? Justamente nos períodos mais quentes do dia. “Quando a gente liga para a Copel o que nos falam é que não houve registro da queda, mas é que elas são de pouco tempo, de no máximo um minuto, e talvez isso justifique por que não são percebidas. Nisso, não dá tempo de ligar o gerador porque o sistema volta, e o pior, ligando os 50 motores de uma só vez. Parece que vai explodir tudo”, conta, preocupado.

Ele aponta para os fios de alta tensão que passam pela propriedade e faz uma revelação preocupante: o sistema monofásico tem a mesma fiação há 30 anos, pelo menos. “Tenho a propriedade há 30 anos e, nesse tempo, os fios que passam aqui são os mesmos. Naquela época, eu tinha seis motores, ninguém tinha ar-condicionado… hoje são 50 motores, e as redes estão sobrecarregadas… a gente paga caro… O meu problema é o mesmo de outros 300 produtores de aves, suínos, peixes, que ficam próximos daqui”, desabafa.

Prejuízos

O caseiro Egon Rambo já chegou à situação de anotar as quedas de energia. “A maioria é queda rápida, mas quando fica várias horas sem energia, o gerador vai funcionar por até umas 15 horas, no máximo, e depois disso? Em um dia como hoje [ontem, durante a entrevista, fazia 37ºC, a sensação térmica era de 40ºC e a umidade do ar estava em apenas 17%] os frangos morrem em pouco tempo”.

Os gastos frequentes com os consertos dos motores queimados já somam R$ 10 mil somente nos dois últimos anos. Dois motores estavam saindo do conserto nessa quarta-feira.

Na prática, para conseguir resultado positivo, o avicultor precisa de oito meses de trabalho, com a entrega de três lotes de aves. Ou seja, avicultor e caseiro estão quase pagando para trabalhar.

As lâmpadas dos aviários, que comumente durariam mil horas, estão sendo descartadas com menos de 150 horas de uso. “Com tantos picos, elas deixam de funcionar como deveriam, aí precisam ser trocadas. São cerca de 80, mas temos trocado umas 15 todos os meses”, conta Elio Migliorança.

Mesmo que o gerador possa fazer as vezes da luz elétrica, ainda há o combustível que precisa ser comprado, cerca de 12 litros de óleo diesel por hora. “Na ponta do lápis, se a gente dependesse só do aviário para viver, estávamos perdidos”, considerou, ao reforçar que os problemas pioraram muito nos últimos dois anos, mas chegaram a condições extremas nos últimos meses.

Prefeitos querem explicações da Copel

Na propriedade de Erno Just os picos de energia se acumulam com outro problema. Na última segunda-feira (9), com os fortes ventos, os fios da rede de alta tensão que passam pela plantação ocasionarão uma explosão.

Foram os vizinhos que apagaram as chamas que poderiam ter atingido aviário e toda a plantação. “Aquilo gerou uma bola de fogo e pegou fogo em volta… por sorte os vizinhos viram e correram apagar. É que os postes estão longe um do outro e os fios balançam muito e é isso que dá”, reclama, e tem mais: “Em outra parte da minha área vieram fazer a poda dos fios, mas jogaram os galhos em cima da lavoura de trigo. Agora estamos juntando tudo para plantar a próxima safra. É uma falta de respeito”.

Mas engana-se quem pensa que esse problema só ocorre no “interior”. Na cidade, em praticamente todos os municípios lindeiros ao Lago de Itaipu ou no extremo oeste, as quedas de energia elétrica são constantes no perímetro urbano. Em Nova Santa Rosa, moradores citam exemplo bem recente: na última segunda-feira, das 10h às 14h houve mais de uma dezena de picos de luz, e na terça a situação se repetiu, em menor quantidade.

O prefeito Norberto Pinz reforça que o problema atinge campo e cidade e diz que isso vem – segundo a própria Copel teria lhe alertado – se potencializando com a sobrecarga da rede.

Situações extremas como essas fizeram com que o presidente da Copel, Daniel Slaviero, agendasse uma reunião hoje (12) em Santa Helena. Ele vai receber prefeitos, vereadores, produtores e empresários da região lindeira que reclamam dos prejuízos. “Queremos mostrar a difícil situação que vivem os empresários e os produtores rurais que tiveram prejuízos com as frequentes quedas de energia e cobram novas estratégias e investimentos da Copel para solucionar os problemas”, explica o presidente do Conselho dos Municípios Lindeiros, prefeito de Pato Bragado, Leomar Rohden.

Em abril passado, o governador Carlos Massa Ratinho Junior e o próprio Slaviero anunciaram investimento de R$ 1,8 bilhão para manutenção e mudanças na rede de energia para oeste e sudoeste. Na época, foi dada garantia de que em poucos meses os problemas mais corriqueiros estariam resolvidos. No entanto, em julho o Jornal O Paraná formalizou pedido do cronograma de ações e de obras físicas que estão sendo realizadas pela Copel, mas, apesar dos constantes pedidos, essas informações ainda não foram prestadas pela companhia.