Cotidiano

Agricultura deixou R$ 336 milhões nos pedágios do Paraná

A atualização de um estudo feito pelo Sistema Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná) divulgada nesta quinta-feira (27) só reforça o que o setor produtivo vem alertando há duas décadas, desde o início das cobranças de pedágio no Anel de Integração: o pagamento das tarifas onera o campo e tira competitividade do agronegócio, sobretudo nas regiões mais distantes do Porto de Paranaguá, como é o caso do oeste, o maior produtor de grãos do Paraná e um dos principais polos agrícolas do País com cerca de 10 milhões de toneladas de grãos por ano, principalmente soja e milho, que, juntos, somam mais de 8 milhões de toneladas.

O estudo reforça que “o pedágio onera o transporte de grãos em todas as regiões e chega a representar 45,26% do custo do transporte, como no caso de cargas que saem de Foz do Iguaçu com destino a Paranaguá, que pagam R$ 977,60 em tarifas”.

Essas são apenas algumas das avaliações do estudo feito pela Getec (Gerência Técnica e Econômica do Sistema Ocepar), cujo objetivo era mensurar o impacto das tarifas praticadas nas estradas paranaenses sobre os custos do transporte de grãos e insumos. O documento também traz um comparativo entre diferentes tipos de cargas transportadas.

 

Custos

Ainda de acordo com a Getec, as tarifas de pedágio podem atingir o equivalente a 8,3% do custo operacional de produção em se tratando de milho e de 4,9% no caso da soja. O estudo reforça que, “por encarecer o transporte da produção de forma significativa, os preços cobrados pelo pedágio são responsáveis pela depreciação de renda do produtor rural. Além disso, esses custos elevados desestimulam os investimentos nas regiões mais distantes do porto e prejudicam, assim, o seu desenvolvimento”.

 

Na ponta do lápis

Para se ter ideia, considerando o cultivo da soja e do milho e conforme dados do Porto de Paranaguá, de novembro de 2017 a outubro de 2018  foram exportados 15,3 milhões de toneladas de soja em grãos, 5,7 milhões de toneladas de farelo e 1,4 milhão de toneladas de milho, totalizando 22,4 milhões de toneladas de produtos agrícolas.

Considerando que 65% dessa produção (14,5 milhões de toneladas) seja transportada por rodovia, seriam necessários 538 mil caminhões de cinco eixos para levar essa carga até o porto.

Com tarifa média de R$ 623,68 por caminhão nos trechos percorridos, o custo total em pedágio para o transporte apenas de soja e milho no Paraná chega à impressionante cifra de R$ 336 milhões.

No Estado, a arrecadação das concessionárias com pedágio é de aproximadamente R$ 2,3 bilhões por ano, segundo a ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias).

 

Impacto direto sobre os insumos

Quando o assunto são os insumos, o pedágio tem, conforme o estudo, impacto significativo no transporte dos produtos usados pelos agricultores como fertilizantes e calcário, que são justamente os mais demandados em termos de quantidade. “No caso do calcário, o pedágio representa forte impacto nos custos do transporte e no preço final. No transporte de uma carga de Almirante Tamandaré para Cascavel ou para Maringá, o valor por tonelada é de R$ 14,63 e R$ 10,24, respectivamente, e representa 11,70% e 7,86% nos preços pagos pelo produtor rural”, cita o estudo.  

Tomando o exemplo de Cascavel, o agricultor paga em média R$ 114,63 por uma tonelada de calcário calcítico a granel, posto na propriedade. O custo efetivo do insumo corresponde a 44% do valor pago, o restante são o frete e o pedágio.

O custo de transporte de fertilizantes também é afetado pelo pedágio. Para o transporte de Paranaguá a Cascavel, a tarifa onera em R$ 17,89 a tonelada. Como o frete para Cascavel custa em média R$ 82,11 a tonelada, o pedágio eleva em 21,8% o valor do frete.

 

O que representam as tarifas

A conclusão final do estudo da Ocepar é de que o pedágio representa um grande ônus à agricultura, principalmente nas regiões com grande peso na produção, como oeste, sudoeste e norte do Paraná. “O setor agropecuário é especialmente prejudicado com as tarifas do pedágio, pois, em geral, o valor unitário dos produtos é baixo em comparação aos da indústria”. Ou seja, a proporção do custo acaba sendo maior.

Para o transporte de televisores, automóveis e geladeiras de Curitiba para Foz do Iguaçu, por exemplo, o pedágio representa menos de 1% do valor do produto, enquanto no caso de grãos essa proporção é de até 7,5%.

“Os custos adicionais do pedágio no Paraná reduzem a competitividade da produção nacional de grãos, o que é especialmente prejudicial à soja, que enfrenta grande competição da Argentina e dos Estados Unidos, considerando a Europa e a Ásia como mercados de destino. Um ganho efetivo de competitividade para o agronegócio ocorreria somente se o dispêndio com o pedágio fosse menor do que os ganhos proporcionados com a redução de custos de manutenção, perdas da produção no transporte e ganho de tempo, dentre outros. Ou seja, deveria haver melhorias substanciais na qualidade das rodovias, de modo a reduzir custos de manutenção e de tempo de viagem, assim, a situação atual das rodovias não justifica o impacto que elas causam à produção e ao transporte no Paraná, além do risco contínuo que representam para caminhoneiros e motoristas de carros menores”, reforça o estudo, que conclui: “O pedágio caracteriza-se como um dos componentes do custo Brasil, causando perda da competitividade da soja e do milho brasileiro frente aos nossos concorrentes mundiais, principalmente a Argentina e Estados Unidos”.

 

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