Antes de enfrentar o campeão Fabrício Werdum, Stipe Miocic reconheceu a competência do brasileiro no jiu-jítsu, mas avisou:
– De nada servirá para ele se levar um soco na cara.
Foi o que aconteceu, com apenas 2m47s do primeiro round. Quando se defendia de um ataque de Werdum, Miocic caminhou para trás e contragolpeou com um cruzado que acertou em cheio o queixo do adversário. Werdum caiu, nocauteado.
– Hoje ele foi melhor do que eu, mas foi um detalhe. Vou voltar com tudo e vou ganhar o cinturão de novo.
Diante de uma Arena da Baixada completamente lotada, com 50 mil fãs, na primeira vez do UFC num estádio de futebol no Brasil, o cinturão dos pesados, que estava com Werdum, migrou para o americano Miocic. O luutador de origem croata fez do histórico UFC 198 o cenário para seu ápice, mas não brilhou sozinho. Ronaldo Jacaré massacrou Vitor Belfort e Cris Cyborg confirmou as expectativas e foi demolidora em sua estreia na organização. Ambos, como Miocic, com vitórias impressionantes no primeiro round.
– Para mim é especial, sabia que ia fazer um grande trabalho. Todas as vezes qUe me dão uma grande dificuldade eu me supero, e dessa vez não foi diferente – comemorou Jacaré.
Do alto de uma performance espetacular, bradou:
– Eu mereço opotunidade de lutar pelo cinturão. Não estou pedindo, não, eu conquistei esse direito. Eu quero o vencedor dessa luta (entre o atual campeão dos médios, Luke Rockhold, e o ex-campeão Chris Weidman).
Derrotado por Rockhold no Strikeforce, Jacaré garante que vai se vingar se tiver chance:
– Vou acabar com Luke, vou acabar com ele. Quando ele me venceu teve um juiz que só arbitrou uma luta na vida, aquela, e deu cinco rounds para o Rockhold, um absurdo – disse.
Jacaré deu uma surra em Belfort. A luta acabou com um nocaute técnico aos 4m38s. Vitor sangrava abundantemente no supercílio, cortado por uma cotovelada. E Jacaré foi soberano, com socos, chutes e também no chão.
CYBORG FESTEJA EM CASA
Durou só 1m29s a esperada estreia de Cris Cyborg no UFC. Ela arrasou, como era previsto, a americana Leslie Smith no primeiro round. O nocaute técnico fez a torcida explodir. Cyborg subiu na grade do octógono e comemorou muito o triunfo em casa.
– Estou realizando um sonho – contou.
Questionada sobre o que pretende fazer do futuro, a mulher apontada por muitos especialistas como a melhor peso por peso de todo o MMA disse que não pretende deixar sua categoria (peso-pena, até 66 kg), que não existe no UFC e da qual é campeã na organização exclusiva de lutas femininas, Invicta FC.
– Sou campeã há dez anos e quero defender meu cinturão. Posso fazer luta de peso casado aqui no UFC, mas sou campeã há dez anos – disse, sem deixar de agradecer à rival Leslie Smith por ter aceitado o combate no peso combinado de 63,5 kg.
O curitibano Maurício Shogun Rua, ex-campeão dos meio-pesados, conquistou uma vitória que dá margem a contestação. O adversário, Corey Anderson, dominou os três rounds. Dois juízes, porém, entenderam que Shogun ganhou os dois primeiros, ambos graças a golpes potentes que achou depois de soar o sinal de dez segundos para o fim. No round 1, Anderson acabou salvo, de fato, pelo gongo. No seguinte, sofreu um knock down depois de levar um contra-ataque poderoso. No terceiro o americano evitou a trocação e jogou taticamente, usando o wrestling para manter o brasileiro no chão.
– Curitiba é a capital mundial do MMA, e se tem uma cidade que merece receber esse evento é Curitiba. Já fui campeão duas vezes, e cada luta para mim é um sonho – festejou Shogun, que emendou duas vitórias seguidas pela primeira vez desde 2009.
Warlley Alves, até então invicto em dez lutas no MMA, abriu o card principal como amplo favorito contra o americano de origem colombiana Bryan Barberena. O mineiro radicado no Rio começou com força total e ganhou o primeiro round. Só que pareceu não estar muito preparado para os 15 minutos da luta. Cansou e deu brecha para Barberena virar o jogo. Os dois rounds seguintes foram do adversário, e Warlley perdeu sua invencibilidade num combate duro e bem disputado que, no entanto, não empolgou a torcida. Os três juízes deram a vitória por 29-28 para Barberena.
DEMIAN PEDE CAMPANHA PARA LUTAR POR CINTURÃO
Em mais uma aula de jiu-jítsu no octógono, Demian Maia finalizou o vilão da véspera, o americano Matt Brown, que na pesagem tinha mostrado os dedos do meio para a torcida, quando ouviu os gritos de “Uh, vai morrer”. Só não deu para atender aos pedidos da arquibancada, que cantou “bota pra dormir”, porque Brown, ao ser finalmente pego no mata-leão, deu os três tapinhas em sinal de desistência. Foi a vitória da persistência. Demian passou praticamente todos os 15 minutos da luta montado nas costas do adversário.
Mas, se por um lado Brown viveu o inferno, como um inseto pronto para virar refeição na teia da aranha, por outro, justiça seja feita, soube se defender muito bem. E só sucumbiu aos 4m21s do terceiro e último round, derrotado pela técnica impressionante do brasileiro e pelo cansaço de tanto tentar livrar o próprio pescoço.
– Estou preparado para lutar pelo título. Peçam ao Dana White (presidente do UFC) para eu lutar pelo título. Essa é minha quinta vitória consecutiva nesse peso – disse Demian, dirigindo-se ao público na Arena da Baixada e à comunidade do jiu-jítsu brasileiro espalhada pelo mundo.
Francisco Massaranduba e Yancy Medeiros fizeram outro lutaço do card preliminar. Terminaram abraçados, numa demonstração mútua de respeito e de felicidade pelo show que proporcionaram. O brasileiro levou ampla vantagem sobre o americano, que, no entanto, se mostrou osso duríssimo de roer e resistiu às pancadas. Terminou a luta por cima, batendo, apesar de ter perdido o round final, na contagem dos juízes, por 10 a 8. Pela contagem oficial do FightMetric, segundo o UFC Brasil, Massaranduba acertou 94 golpes significantes na cabeça de Medeiros, com 65% de precisão.
O brasileiro chegou a oito vitórias no UFC no Brasil, o maior vencedor das 25 edições realizadas até hoje no país, segundo levantamento do Combate.com.
Outro que levantou a plateia foi o veterano Rodrigo Minotouro. Usando o boxe para minar o wrestler Patrick Cummins, ele conseguiu uma das vitórias mais importantes de sua carreira no UFC. O nocaute no primeiro round mostrou que Minotouro está vivo e ainda tem lenha para queimar nos meios-pesados. A torcida delirou, e o Team Nogueira festejou muito, com Rogério Minotauro subindo ao octógono para abraçar o irmão gêmeo.
Nocaute fulminante também foi o de Thiago Marreta sobre Nate Marquardt.
– Estou na terra do muay thai (Curitiba, da academia Chute Boxe, que revelou Anderson Silva e Maurício Shogun, entre outros), então eu tinha que parabenizar esse público com um nocaut – saudou Marreta. – Não dá mais para me ignorar, eu estou chegando – completou o lutador, que tem agora três vitórias seguidas no UFC e quer desafios maiores no peso-médio.
Confira todos os resultados:
CARD PRINCIPAL
Peso-pesado: Stipe Miocic venceu Fabricio Werdum por nocaute no round 1
Peso-médio: Ronaldo Jacaré venceu Vitor Belfort por nocaute técnico no round 1
Peso-casado (até 63,5kg): Cris Cyborg venceu Leslie Smith por nocaute técnico
Peso-meio-pesado: Mauricio Shogun venceu Corey Anderson por decisão dividida
Peso-meio-médio: Bryan Barberena venceu Warlley Alves por decisão unânime
CARD PRELIMINAR
Peso-meio-médio: Demian Maia venceu Matt Brown por finalização no round 3
Peso-médio: Thiago Marreta venceu Nate Marquardt por nocaute no round 1
Peso-leve: Francisco Massaranduba venceu Yancy Medeiros por decisão unânime
Peso-galo: John Lineker venceu Rob Font por decisão unânime
Peso-meio-pesado: Rogério Minotouro venceu Patrick Cummins por nocaute técnico no round 1
Peso-meio-médio: Serginho Moraes e Luan Chagas empataram
Peso-pena: Renato Moicano venceu Zubaira Tukhugov por decisão dividida.