Reportagem: Patrícia Cabral
O nome é Paulo Henrique Silva Ribeiro, mas todos o conhecem por Paulo Baya. “É um apelido de infância. Minha irmã era pequena, não conseguia falar meu nome direito e me chamava de Baya, e acabou pegando. Agora é quase como um sobrenome. Eu gosto, porque todo o mundo me conhece assim e tem um significado muito importante”, revela o jogador de 21 anos.
Nos últimos meses, Baya teve que se acostumar com um rótulo carregado de responsabilidade: ele é considerado a joia do Futebol Clube Cascavel, peso que carregou com maestria vestindo a camisa do clube principalmente nesta temporada.
É elogiado pela facilidade com jogadas de bola parada e pelo potente chute a longa distância, porém essas qualidades são resultado de muito empenho e luta que começaram quando ele tinha sete anos de idade, nos campos de Bom Jesus do Tocantins, no Pará. “Comecei a jogar bola com os amigos como toda criança faz. A gente jogava no meio da rua, ao lado do estádio, mas nem imaginava ser jogador de futebol. Para mim, era só diversão”.
Em 2010, quando estava com 11 anos, incentivado pelos tios, fez o primeiro teste. “Era uma escolinha franquia Zico. Joguei com meninos mais velhos e fui aprovado. Depois disputei muitos campeonatos na Região Norte do Brasil”, conta.
Alegria e frustração
A habilidade do menino chamou a atenção dos olheiros e surgiu uma boa oportunidade, que hoje é uma lembrança triste na vida do jogador. “Em 2012, depois de disputar um campeonato, fui chamado para integrar as categorias de base do Santos Futebol Clube, uma oportunidade que muitos meninos queriam ter porque é um clube que valoriza muito as categorias menores”, explica. Mas, logo a alegria e a esperança deram lugar à frustração: “Faltando uma semana para ir até Santos, em São Paulo, onde deveria me apresentar, sofri um acidente e fraturei o tornozelo. Chorei mais por saber que não poderia ir, do que pela dor. Não desisti. Eu me recuperei e voltei a treinar”.
Aos 13 anos, outra chance apareceu: “Depois de recuperado, fui para a base do Atlético Mineiro, passei dois meses lá, mas fui dispensado. Foi então que desanimei do futebol e tive dúvida do meu sonho. Não treinava nem brincava de bola”, lembra.
O retorno
Duas pessoas foram fundamentais para o retorno de Paulo Baya aos campos. “Meu amigo de infância Luciano e meu primo Jobert insistiram para que eu voltasse a treinar e recomecei a saga para me tornar um atleta profissional”.
Ele passou por testes no Carajás, em Belém do Pará, e foi aprovado. Antes mesmo de se apresentar, teve oportunidade de ir até Goiânia, onde jogou em 2017 seu primeiro campeonato federado pela equipe do Clube Jaó. Depois vestiu a camisa do Raça Sport Brazil, destacando-se na Copa Goiás, desempenho que resultou na assinatura do primeiro contrato ainda como jogador da base.
Em 2018, passando as férias em Bom Jesus do Tocantins, Paulo recebeu propostas de clubes do Sul do País e foi jogar no Brasil de Pelotas. Como tinha contrato com a equipe de Goiânia, teve que retornar, mas foi emprestado para o Paysandu, do Pará, onde disputou a Copa do Brasil Sub-20. “Voltei para o Raça Sport Brazil para cumprir meu contrato e só depois buscar novas oportunidades”.
A chegada ao Futebol Clube Cascavel
O clube cascavelense apareceu na vida de Paulo Baya em 2019. Pelo FCC, disputou o Campeonato Paranaense Sub-20. A atuação do atacante rendeu a promoção para o time profissional para a disputa da Série A do Paranaense deste ano. “Foi um momento único. Foi perfeito! Eu me lembrei de quando era criança, do sonho de ser profissional, e consegui realizar isso. Quando fui informado, liguei para minha mãe… Foi emocionante… Falei com a família… Era um sonho que estava se tornando realidade”.
Baya foi um dos destaques na competição. Ele marcou três gols contra Coritiba, Operário e Londrina e mostrou facilidade em bater na bola, ao converter o pênalti contra o rival Toledo. É o artilheiro isolado da Serpente Aurinegra no ano.
Baya foi bastante elogiado no Brasileirão da Série D. Fez gols contra as equipes cariocas Cabofriense, Portuguesa e Bangu. Foi responsável por seis assistências em 27 jogos e marcou dez gols, dois deles chutando de fora da área. “A sensação de marcar esses gols é sempre inexplicável. Estou bem, me destacando, mas sempre jogo pensando que amanhã eu preciso trabalhar mais, treinar mais”, revela Baya.
Quem acompanhou grande parte dessa evolução foi o técnico Marcelo Caranhato, que deixou o clube: “O sucesso do atacante também está atrelado ao jogo coletivo da equipe. Os companheiros ajudaram muito o Paulo Baya. Um time encaixado, com uma estrutura de jogo sólida, onde a força do grupo é a prioridade, assim como o nosso é, permite aos jogadores se destacarem individualmente. Foi assim com ele e com outros atletas”.
Diante disso tudo, Baya diz sentir reconhecimento, gratidão e aprendizagem. “Estou feliz pelo momento que vivo, pelos gols, mas agradeço muito os companheiros de equipe. Graças a eles eu pude crescer dentro das competições que disputamos. Como o professor Marcelo sempre falou durante a temporada, do coletivo surge o individual, e vou me lembrar disso para sempre”, avalia a joia do FCC.
“Entrevista? Eu? Vai me perguntar o quê?”
O bom futebol de Baya em campo chamou a atenção da imprensa e ele se tornou um dos jogadores mais assediados pelos jornalistas. Foi aí que o menino tímido, discreto, de poucas palavras teve que aprender a lidar com câmeras e microfones. “O Paulo Baya sempre foi tímido. Procuramos ajudar e orientar. Mesmo sem jeito, ele nunca deixou de atender nossos pedidos ou de conceder entrevistas porque sabia que era importante para a carreira dele. Baya melhorou bastante, evoluiu. É um menino muito educado e disciplinado”, resume o assessor de imprensa do FCC, Felipe Fachini.
O futuro da joia
Com o fim da temporada, a pergunta é: Paulo Baya fica no FCC? Ele volta, mas, ao que tudo indica, não deve permanecer no Futebol Clube Cascavel por muito tempo. “Baya é fruto de um trabalho bem realizado em nossas categorias de base do clube e temos muito orgulho disso e dele também. É um garoto com cabeça boa, dedicado, competente. A princípio, ele se reapresenta com o elenco em janeiro, mas três grandes times do País estão interessados e estamos conversando sobre uma possível negociação”, avisa o presidente do clube, Valdinei Silva.
Para um dos diretores do FC, Rudinei Guimarães, Baya terá um futuro promissor: “É uma jovem promessa que o clube investiu e acreditou e que se tornou realidade. Está ainda está no início da carreira, mas tenho certeza que vai se tornar um grande jogador. É também uma grande pessoa, tem personalidade, e vai render muitos frutos para o Futebol Clube Cascavel. Sei que iremos vê-lo atuando em times importantes do cenário brasileiro e talvez internacional”, acrescenta.
Sobre tudo isso, o jovem atleta mostra maturidade: “Preciso entender que nada é permanente. Assim como hoje estou em um momento bom, amanhã posso não estar. Minha meta é crescer como atleta e ser forte dentro e fora de campo. Quero dar alegrias para os torcedores e para o clube que me deu a chance de realizar um sonho: ser jogador de futebol”.