RIO ? O Ártico registra esta primavera temperaturas recordes e um retrocesso sem precedentes do gelo. De acordo com o Instituto Meteorológico da Dinamarca (DMI), os termômetros do Polo Norte apontam 0 graus Celsius, 20 a mais do que a média.
Ainda segundo o instituto, a temperatura na última semana na região manteve-se entre 9 e 12 graus Celsius acima do normal.
A diminuição do gelo polar na região é considerada um sinal incontestável do aquecimento global. No fim do verão do Hemisfério Norte, a superfície do gelo ártico era a segunda mais baixa jamais registrada (com 4,14 milhões de km²), perdendo apenas para 2012, segundo o Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo dos EUA.
Em outubro, a superfície do gelo polar aumentou apenas 6,4 milhões de km², a apenas um terço menos da média vista entre 1981 e 2010.
? Este é um recorde notável ? anuncia a climatologista Valérie Masson-Delmotte, copresidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). ? Pode estar relacionado com as mudanças climáticas, mas é esse tipo de coisa que podemos esperar quando ocorre o aquecimento.
Entre as causas do recorde estão os ventos do Sul e o aumento da temperatura dos oceanos, o fenômeno conhecido como El Niño.
? O gelo tem um papel de isolamento, restringindo o fluxo de calor do mar (-2° C próximo ao polo) para a atmosfera. Assim, ele preserva o ar frio ? explica Valérie. Do contrário, ?a falta de gelo favorece a transferência de calor do oceano para o ar.
O pesquisador do DMI Martin Stendel destaca os efeitos do calor acumulado nos últimos anos pelo oceano:
? Com o aumento da temperatura do oceano, o congelamento é cada vez mais tardio e o degelo ocorre cada vez mais cedo ? explica. ? Assim, o gelo antigo desaparece e já não há tempo para ser reconstituído e recuperar a espessura suficiente para aguentar o verão.
Segundo os pesquisadores, o Ártico, a médio prazo, não terá gelo no verão, e estará coberto por uma fina camada no inverno. Este fenômeno poderia ocorrer a partir de 2030.
Já o Relatório de Resiliência do Ártico, conduzido pelo Instituto Ambiental de Estocolmo, alertou que o crescente derretimento da calota de gelo pode provocar 19 ?pontos de inflexão? na região, que podem ter consequências catastróficas em todo o mundo, atingindo até o Oceano Índico.