Reportagem: Cláudia Neis
Cascavel – Dados repassados pela Sesa (Secretaria de Estado da Saúde) escancaram a situação complicada das quatro regiões macros de saúde no Paraná. Apesar de ser citado pelo Ministério da Saúde como um dos estados que têm melhor estrutura no País, o número de leitos SUS (Sistema Único de Saúde) é muito abaixo da taxa ideal recomendada pelo ministério, que é de 2,5 a 3 leitos para cada grupo de mil habitantes.
Dentre as macrorregiões, a do oeste, formada pelas 7ª, 8ª, 9ª 10ª e 20ª Regionais de Saúde, tem o pior índice. Existem 167 leitos, sendo 58 de UTI (Unidade de Terapita Intensiva) e 109 de enfermaria, para 1.960.154 habitantes, significa uma proporção de 0,08 leito a cada mil habitantes, 3,20% do mínimo do coeficiente de 2,5 ideais para o grupo. Para se ter ideia, se estivesse dentro do mínimo ideal, a região deveria ter 4,9 mil leitos, mais do que existe em todo o Estado (4.406).
Já a macrorregião norte, que abrange as 16ª, 17ª, 18ª, 19ª e 22ª Regionais de Saúde, tem a proporção de 0,11 leito para cada mil habitantes. São 236 leitos (66 UTI adulto e 3 UTI infantil e 167 enfermarias) para uma população de 1.986.688 habitantes. A proporção fica 4,40% do coeficiente mínimo.
Na sequência aparece a macrorregião leste, formada por 1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª e 21ª Regionais, que têm o maior número de leitos: 751 (190 UTI adulto e 6 UTI infantil e 555 enfermarias), mas também a maior população, 5.534.152. A proporção de leitos para cada mil habitantes é de 0,13, taxa que representa 5,20% do mínimo ideal.
A região com melhor proporção é o noroeste, que abrange as 11ª, 12ª, 13ª, 14ª e 15ª Regionais de Saúde. A proporção por grupo de mil habitantes é de 0,21 leito. Há disponíveis 396 leitos (105 UTI adulto e 11 UTI infantil e 280 enfermarias) para uma população de 1.867.943 habitantes. A proporção representa 8,40% do ideal.
A Sesa informou que os números de leitos vêm sendo alterados diariamente, pois há uma mobilização em todo o Estado para o aumento de vagas disponíveis. Conforme a Sesa, o Paraná tem previamente preparados 4.406 leitos, sendo 2.782 leitos clínicos e 1.624 leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para casos de pacientes graves infectados com o coronavírus.
Cascavel quer agilizar e ampliar exames
A Secretaria de Saúde de Cascavel anunciou na tarde de ontem (8) que está estruturando o Laboratório Municipal e já fez a aquisição de material para realizar os exames para identificar covid-19. “Com a realização dos exames no Município, com o resultado em 24 horas e sem depender do Lacen [Laboratório Central do Estado], onde os resultados levam dias, nós queremos ter um panorama real da situação da doença no Município e poderemos pautar melhor as nossas ações de enfrentamento como um todo”, explicou o secretário Thiago Stefanello.
Ao todo, serão mil testes destinados a casos graves e moderados. Mais de R$ 200 mil foram investidos para estruturar o Laboratório Municipal. A medida foi tomada após os 3 mil kits comprados pelo Município terem sido bloqueados pela China e uma nova remessa atravessada pelo Ministério da Saúde, que tem centralizado as aquisições e a distribuição dos materiais.
Outro anúncio foi o investimento de R$ 40 mil na compra do remédio hidroxicloroquina, o que corresponde a 3 mil comprimidos, que já está nas UPAs e nos hospitais, mas só será usado em casos graves.
Perfil dos pacientes
A Secretaria de Saúde também estratificou os dados dos casos confirmados. A maioria é do sexo masculino, com 53,4%. A faixa etária mais acometida é justamente a do grupo de risco: idade entre 60 anos e 69 anos soma 23,20%. De todos os pacientes, mais de 60% têm alguma comorbidade associada.
Cascavel agora já registra mais de 65% de casos sem histórico de viagem. Em relação à questão geográfica, os Bairros Centro e Country são os que detêm o maior número de casos, respectivamente, 15 e 5.
A assessora técnica do Departamento de Atenção à Saúde, a médica Luciana Cavalli, reforçou que é hora de a comunidade tomar para si a responsabilidade no enfrentamento ao coronavírus: “Não é momento de passear, de fazer caminhada pelo Calçadão, de levar crianças ao mercado. É preciso fazer uma reflexão sobre os riscos”.
Projeção de contaminação
A Secretaria de Saúde apresentou ainda “projeção ideal” de que Cascvel chegue ao fim de abril com 158 casos confirmados. No entanto, existe a possibilidade, se as medidas de distanciamento social não forem seguidas, de o Município chegar a 879 casos no fim deste mês. Lembrando que nessa conta entram apenas os pacientes testados, ou seja, os casos mais graves.
Já com relação aos óbitos, o melhor panorama prevê quatro óbitos. Porém, se a curva continuar a crescer, Cascavel poderá registrar 20 mortes neste mês. Até agora, há uma morte causada por covid-19.
Outra informação importante é que a cidade tem hoje 13,4 casos para cada 100 mil habitantes, “extremamente alto”, classificou o secretário Thiago Stefanello, que acrescentou que a taxa de letalidade no Paraná é de 3%. “O que mais chama a atenção é a velocidade de transmissão desse vírus. Por isso, é tão importante que a população colabore e mantenha as orientações de distanciamento social”, reforçou.
Novas medidas no sábado
Nesta quinta-feira (9) ocorrerão quatro reuniões de subcomissões do COE (Centro de Operações Emergenciais) para tratar de assuntos como “medidas de contenção”, “insumos e atendimentos”, “leitos e rede hospitalar” e “idosos e vulneráveis” em Cascavel. Nesses encontros, podem ser definidas novas medidas para as celebrações religiosas da Páscoa, uma vez que a instituições religiosas têm solicitado a possibilidade de realização de cerimônias com cerca de 30% da capacidade dos locais.
Decisões sobre a manutenção do funcionamento do comércio e um novo decreto que determina medidas para as próximas semanas devem ocorrer neste sábado (11).
Quanto à possibilidade de reabertura total a partir de segunda-feira (13), o prefeito Leonaldo Paranhos disse que ainda não há decisão a esse respeito.
A partir da próxima semana também será obrigatório o uso de máscaras pela população tanto nas ruas quanto no transporte público.