RIO – A edição do GLOBO de 14 de setembro de 1970 trazia a novidade: ?O Ford recebe a bola, aplica um carros_1705 drible sensacional no Oldsmobile, leva a melhor no bloqueio que lhe faz o Chevrolet, entrega para o Jaguar, que avança pela extrema esquerda, penetra na área e assinala o goal!?.
Nascia o autobol, onda lançada por Mário Tourinho (ex-presidente de uma associação de pilotos) e José Maria Adame (produtor de TV), que tiveram a ideia de pôr velhos carros americanos para jogar futebol no campo da Portuguesa, na Ilha do Governador. Hoje clássicos, aqueles automóveis importados eram tratados como ferro-velho no início dos anos 70.
A brincadeira ganhou adesões e virou febre, com ampla cobertura nos jornais e na TV. Em 1973, foi disputado o primeiro Campeonato Carioca de Autobol, na sede do America Football Club, na Rua Campos Sales. A essa altura, os ?jogadores? eram outros: frágeis Renault Dauphine e Gordini comprados em desmanches formavam os escretes de Flamengo, Fluminense, Vasco e America.
O Botafogo estreou no campeonato de 1974 e, logo de cara, escalou um VW-1600. Robusto, rápido e imune a superaquecimentos, o Volks quatro portas, hoje mais conhecido como ?Zé do Caixão?, revelou-se um supercraque.
Em 1975, quase todos os carros no autobol já eram VW-1600. Terminavam as partidas cheios de lesões provocadas pelos choques com os adversários e com a bola ?de couro de búfalo?, que pesava 12 quilos.
Na época, os Volks levados para a destruição tinham apenas cinco ou seis anos de uso. Explica-se tal esbanjamento: muitos adeptos do autobol eram aplicadores da Bolsa de Valores, como Ivan Sant’Anna (hoje escritor), recém-endinheirados pelo milagre econômico brasileiro.
O último campeonato foi em 1976. As competições foram interrompidas por falta de campo próprio e patrocinador. No mesmo ano, por causa da crise do petróleo e do racionamento de gasolina, o governo proibiu provas automobilísticas no país. Foi o apito final para o autobol.