Cotidiano

Paraná já pagou R$ 44 bilhões de pedágio; nova concessão quer triplicar faturamento

Em 23 anos de rodovias pedagiadas - e pagando as tarifas mais caras do País -, os paranaenses já deixaram nas cancelas do Anel de Integração mais de R$ 44 bilhões, revela levantamento do DER-PR, em valores atualizados

Paraná já pagou R$ 44 bilhões de pedágio; nova concessão quer triplicar faturamento

Paraná já pagou R$ 44 bilhões em pedágios; nova concessão vai faturar 254% a mais

Cascavel – Em 23 anos de rodovias pedagiadas – e pagando as tarifas mais caras do País -, os paranaenses já deixaram nas cancelas do Anel de Integração mais de R$ 44 bilhões (em valores atualizados). Para se ter uma ideia, esse valor é maior que todos os investimentos previstos para a próxima concessão (R$ 42 bilhões), a qual pretende arrecadar R$ 156 bilhões (254% a mais) em 30 anos nessas mesmas praças e em mais 15 que serão construídas, conforme modelo defendido pelo Ministério da Infraestrutura e que vem sendo rejeitado por toda a sociedade paranaense.

Os atuais contratos vencem em novembro deste ano.

A pedido do Jornal O Paraná, o DER-PR (Departamento de Estradas de Rodagem) informou o faturamento anual de cada uma das seis concessionárias contratadas em 1997. Os dados estão em valores nominais e corrigidos.

Nessas mais de duas décadas, o lote que mais faturou foi o 5, da Rodonorte, no total de R$ 14,9 bilhões de 1998 a 2020, corrigidos. O menor faturamento é do lote 1, da Econorte, de R$ 4,290 bilhões. Valores apenas de tarifas de pedágio.

Uma das duas concessionárias que passam pelo oeste do Paraná, a Viapar teve o segundo maior faturamento nesse período, de R$ 7,419 bilhões. O lote 2 vai de Cascavel a Maringá e a Nova Londrina. E fica aqui, na região oeste, a maior tarifa praticada pela concessionária. Na praça de Corbélia, na BR-369, carros leves pagam R$ 17,70 desde 21 de dezembro passado.

A expectativa era de que o trecho entre Corbélia e Cascavel tivesse sido duplicado, obra que chegou a ser anunciada pelo ex-governador Beto Richa, mas que nunca saiu do papel.

A outra concessionária que atende o oeste é a Ecocataratas, que administra o lote 3: são 387,1 quilômetros da BR-277, entre Guarapuava e Foz do Iguaçu, passando por Cascavel. A empresa recebeu em tarifas R$ 6,132 bilhões em 23 anos, o terceiro maior faturamento. E também está na região oeste a maior tarifa praticada pela concessionária: em São Miguel do Iguaçu, carros pagam R$ 17 cada vez que cruzam a cancela.

Nesse lote, também havia a expectativa de que a chamada Rodovia da Morte fosse duplicada. Passados 23 anos, apenas três trechos têm pista dupla: entre Foz do Iguaçu e Santa Terezinha de Itaipu, de Medianeira a Matelândia e 3 quilômetros no perímetro urbano de Cascavel.


G7 calcula faturamento maior, com R$ 13,8 bilhões em investimentos

 

Mergulhados em planilhas e estudos sobre os velhos e os novos pedágios, integrantes do G7 (grupo das sete maiores entidades do setor produtivo do Paraná) chegaram a valores diferentes. Pela atualização, o faturamento do pedágio nesses 23 anos somaria R$ 54,6 bilhões, 24% a mais que o informado pelo DER-PR.

Mas os estudos do G7 revelam outros dados importantes, como R$ 13,8 bilhões em investimentos, ou seja 25,2% do faturamento estimado, ou 31% da receita informada pelo DER (de R$ 44 bilhões). Outros R$ 17 bilhões teriam sido gastos com operação/manutenção.

Pelas contas, o G7 chegou ao lucro líquido de R$ 15 bilhões das seis concessionárias nesses 23 anos, 27,4% do total faturado, ou uma média de R$ 652 milhões por ano.

O estudo feito pelas entidades ilustra os argumentos enviados ao Ministério da Infraestrutura, com análise similar ao modelo proposto. Dos 156 bilhões de receita, os novos pedágios renderiam R$ 13,5 bilhões apenas em impostos, 12 vezes mais que o arrecadado na atual concessão.

Considerando investimentos de R$ 42 bilhões e R$ 34 bilhões de custos de operação, mais os impostos, as próximas concessionárias lucrarão R$ 44,3 bilhões em 30 anos de concessão, passando para 1,476 bilhão por ano, mais que dobrando a média do lucro dos pedágios mais caros do País.


Deputados não vão ceder rodovias estaduais à União

 

Curitiba – A queda de braço entre o setor produtivo paranaense e o Ministério da Infraestrutura sobre as novas concessões de rodovias do Estado ganha novo capítulo. A polêmica está no modelo de concessão. Enquanto o governo federal quer adotar um modelo “seguro”, com teto de 17% de desconto nas tarifas e outorga como critério para desempate, entidades e os deputados estaduais defendem que a concorrência seja pela menor tarifa, sob o risco de o Paraná ser novamente prejudicado.

Nesta semana, os 54 deputados estaduais, que compõem a Alep (Assembleia Legislativa do Paraná), assinaram um manifesto no qual deixam claro que não irão ceder as rodovias paranaenses à União para a licitação como acordado com o governo estadual. O pacote de concessão prevê, além das rodovias federais já pedagiadas, mais a BR-163 e diversos trechos de rodovias estaduais.

Conforme os deputados, alguns pontos são considerados cruciais para que ocorra a cessão da malha viária do Estado, entre eles a menor tarifa, sem degrau tarifário de 40% após a duplicação e a realização das obras no início do contrato.

O documento, protocolado na ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), pontua as conclusões das audiências públicas realizadas pela Frente Parlamentar Sobre o Pedágio em diferentes regiões do Estado.

O coordenador dos trabalhos, deputado Arilson Chiorato (PT), observa que, dos 3.327 quilômetros de rodovias que compõem o projeto, 1.163 quilômetros são de rodovias estaduais, que precisam ser cedidas à União, o que a Alep ameaça não fazer, caso não tenha suas demandas atendidas.

Além do desconto nas tarifas e do degrau tarifário, os deputados questionam o prazo de concessão (30 anos) e a locação das novas praças, a exemplo da que será instalada entre Cascavel e Toledo, na BR-467.

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