
O resultado da queda-de-braço entre os dois partidos conservadores era considerado nas últimas horas absolutamente incerto. Segundo pesquisas, a filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), de 41 anos, que chegou a ter uma vantagem de oito pontos percentuais antes do último debate, teria sido ultrapassada no sábado por Kuczynski por pouco mais de um ponto.
? PPK (como é chamado o ex-ministro de Finanças, de 77 anos) foi mais sólido no debate e atacou Keiko onde mais lhe dói: denúncias de corrupção contra colaboradores (um deles alvo de investigação da DEA, agência antidrogas dos EUA) e o passado do pai ? comentou Luis Benavente, diretor da empresa de consultoria Vox Populi.
Para ele, ?os dois candidatos representam uma direita bastante tradicional, não extrema?.
? Em termos econômicos, praticamente não existem diferenças importantes. Keiko e PPK vão manter o mesmo modelo, como fizeram todos os presidentes depois de Fujimori. Um modelo de economia aberta, dos mais ortodoxos do continente ? disse Benavente.
A derrota da deputada e ex-candidata Verónika Mendoza, da Frente Ampla, no primeiro turno, deixou a esquerda fora da corrida presidencial. A liderança de Keiko nas pesquisas durante toda a segunda etapa de campanha levou Verónika a terminar respaldando a candidatura do ex-ministro. Para a deputada e seus seguidores, o candidato do Peruanos pela Mudança é ?um mal menor?. Digamos, uma direita que pode ser digerida.
? A esquerda e o fujimorismo são e serão inimigos eternos. PPK representa uma direita mais liberal, que aceita direitos civis como a união civil entre gays ? explicou Fernando Tuesta, professor da Universidade Católica de Lima.
POPULISMO COM RESSALVAS
Embora Keiko tenha se comprometido a promover a reconciliação dos peruanos, para a esquerda, apontou o professor, ?o passado do fujimorismo, que inclui iniciativas como a esterilização forçada de mulheres indígenas, é imperdoável?. O pai da candidata está preso desde 2007, condenado a 25 anos por delitos de lesa-Humanidade e corrupção.
? No combate à segurança, Keiko tem uma visão mais policial e disse que acionará as Forças Armadas. Existe certo temor de uma volta ao passado ? disse Tuesta.

Keiko assegurou que quando era ministro de Finanças do governo Alejandro Toledo (2000-2006), o candidato ?deu o gás da jazida de Camisea ? uma das mais importantes do Peru ? a uma transnacional?.
? Ele (PPK) é o candidato da continuidade do governo (do presidente Ollanta Humala) ? alfinetou a filha de Fujimori, que foi primeira-dama do governo de seu pai aos 19 anos.
Keiko acusou PPK de ?promover o ódio e a divisão?. A resposta do rival foi a mesma que deu ao longo da campanha e que buscou manter viva a lembrança do autogolpe de Fujimori em 1992:
? Peço a todos que votem na democracia.
Na época, com a economia em ruínas e seu governo mergulhado no combate à guerrilha Sendero Luminoso, o ex-presidente dissolveu o Parlamento, medida que Keiko teve de assegurar, até o cansaço, que jamais adotaria. Na opinião do professor Steve Levitsky, de Harvard, que no ano passado organizou uma palestra de Keiko na universidade americana, ?uma das diferenças centrais entre os dois é que PPK tem uma trajetória democrática e Keiko fez parte de um governo autoritário?:
? Durante a campanha, o comportamento de assessores de Keiko despertou dúvidas. Houve escândalos de manipulação da imprensa.
Para ele, ?outra questão essencial é a base social de cada um. PPK é visto como o candidato da elite limenha, e Keiko dos setores mais humildes?. Perguntado sobre o perfil populista da candidata, o professor fez algumas ressalvas:
? Keiko não é populista nos moldes dos governos Perón ou Chávez, ela não tem interesse em atacar as elites.
O futuro do Peru não será o mesmo com Keiko ou PPK. O partido da filha de Fujimori conquistou a maioria parlamentar e daria a sua eventual Presidência um poder quase absoluto. Já o adversário deverá, caso derrote Keiko, buscar acordos com outros partidos e enfrentará, paralelamente, uma oposição forte no Parlamento.