Agronegócio

Melado de Capanema conquista selo de qualidade geográfica

Agora, com o melado de Capanema, Paraná passa a contar com oito produtos reconhecidos nacionalmente.

Produção de açucar mascavo e de melado de açúcar mascavo de cana-de-açúcar produzido pela familia do produtor Gilberto Hass  em Capanema, no sudoeste do Paraná.  Capanema - Foto: Geraldo Bubniak/AEN
Produção de açucar mascavo e de melado de açúcar mascavo de cana-de-açúcar produzido pela familia do produtor Gilberto Hass em Capanema, no sudoeste do Paraná. Capanema - Foto: Geraldo Bubniak/AEN

Mais um produto tipicamente paranaense ganhou reconhecimento nacional. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) concedeu, em dezembro, a indicação geográfica (IG) para o melado produzido na cidade de Capanema, na Região Sudoeste. A partir de agora, o produto passa a ser comercializado com o selo “Capanema”, único no mercado.

Com a indicação de procedência, o melado passa a ser mais valorizado, possibilitando a expansão do comércio dentro do Brasil e até mesmo no Exterior. De acordo com a prefeitura do município, Capanema conta atualmente com oito agroindústrias e 16 produtores de cana de açúcar, base do melado batido da região.

A produção de melado na cidade, segundo a Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, é de 400 toneladas por ano. As cooperativas e nove indústrias de médio porte de Capanema garantem 200 empregos diretos.

“São pequenas e médias propriedades que apostaram na cana de açúcar, especialmente na produção do melado e do açúcar mascavo. Se tornou uma grife do município”, afirmou Norberto Ortigara, secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento. “É um melado de muita qualidade, e isso permitiu ganhar essa diferenciação. É o reconhecimento desse esforço de décadas, informando a todos que esse melado você só encontra aqui no Paraná”, acrescentou.

A conquista do certificado já mobiliza os produtores locais. Eles falam em ampliar a produção para conseguir levar o produto a novos mercados. “A expectativa é muito boa, pensamos em alcançar uma escala maior de vendas. É uma ótima oportunidade para trazer novas famílias para a produção da matéria-prima, gerando mais empregos”, disse Itamar Schuck.

Ele é diretor-presidente da Cooperativa Agroindustrial Fronteira Iguaçu (Cooperfronteira) que conta com 45 cooperados, entre agroindústrias, produtores de cana e pessoas com interesse em participar do processo produtivo. “A conquista do IG era o que precisávamos para buscar mais inovações e tecnologia. Estamos na parte final da criação da nossa marca”, afirmou.

GEOGRAFIA – Outro produtor, Gilberto Hass revelou detalhes do processo que garantiram o selo de qualidade ao melado de Capanema. Segundo ele, o município conta com uma geografia favorável, que garante uma cana de açúcar diferenciada. Citou ainda o tipo de terreno para o cultivo, com muito pedregulho, e o clima quente da região. “Com isso nossa cana tem mais sacarose, ficando mais doce”.

Ele também faz planos para aumentar a produção na empresa, que administra com a ajuda dos dois filhos. Espera mudar para a sede nova até julho, renovando maquinário e automatizando parte do processo produtivo.

Com isso, diz acreditar que pode saltar dos atuais 400 quilos de melado a cada dois dias prontos para a comercialização para 2.500 quilos. Hass intercala a produção de melado com a de açúcar mascavo.

No horizonte da família está a exportação da mercadoria. Hass contou que já iniciou conversas com dois países: Estados Unidos e Holanda. “Estamos correndo atrás de tecnologia, passo importante para conseguirmos aumentar a produção”, afirmou.

Reforço que se dará em cadeia. Mais melado significa mais necessidade de cana. “Vamos firmar parcerias com pequenos agricultores. Acho que podemos atingir até 100 famílias”.

Outro fator que influencia é a proximidade do Rio Iguaçu, que garante uma ótima qualidade no processo de irrigação. “Quem deu notoriedade ao produto foi a qualidade. Temos que nos preocupar em crescer, mas sempre mantendo essa característica”, ressaltou Rafael Morgenstern.

Agrônomo de formação, ele voltou para Capanema para ajudar a família, há 22 anos envolvida com a produção e venda de açúcar mascavo e melado. “Tudo aqui é bem familiar”, contou.

Os Morgenstern fabricam 1,5 mil quilos de cada produto por semana.

Produção de açucar mascavo e de melado de açúcar mascavo de cana-de-açúcar produzido pelo produtor Rafael Morgenstern em Capanema, no sudoeste do Paraná. Capanema – 16/01/2020 – Foto: Geraldo Bubniak/AEN

DOÇURA – Há, contudo, outros segredos que vão além da qualidade da cana. Secretária municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Raquel Belchior Szimanski diz que para o produto ficar tipicamente de Capanema depende da moagem da cana, do processo de decantação, da fervura em alta temperatura para a retirada de impurezas e, por fim, o processamento em um tacho acoplado a uma batedeira. “A cor é mais escura, com uma cremosidade diferente e uma doçura especial”, destacou.

IGs PARANAENSES – O Paraná conta atualmente com oito produtos com Indicação Geográfica reconhecida. Além do melado de Capanema, cujo processo contou com a colaboração integral do Sebrae-PR, também receberam destaque do INPI a erva-mate de São Mateus do Sul; o café do Norte Pioneiro; a goiaba de Carlópolis, o queijo colonial de Witmarsun; as uvas finas de Marialva; e o mel de Ortigueira e também da Região Oeste.

E, ao que tudo indica, Capanema pode ganhar um novo selo de certificação nos próximos meses. O açúcar mascavo produzido na cidade está passando por detalhes para também ser reconhecido pelo Inpi.

“Isso é mais renda para o produtor. O IG também ajuda a trazer mais gente ao nosso Sudoeste, mostrando que só aqui em Capanema tem esse produto”, afirmou Fernando Martini, presidente da Associação Doce Iguassu. A entidade foi responsável por dar entrada no processo que terminou com a conquista da Indicação Geográfica.

Outras produções no Estado também estão em processo de certificação: a bala de banana de Antonina, a cachaça de Morretes, e o barreado e a farinha de mandioca, tradicionais no Litoral do Paraná.

O que é a Indicação Geográfica?

A Indicação Geográfica (IG) nada mais é do que a identificação que dá origem a um produto ou serviço. Após conquistado, somente os produtores e prestadores de serviços da região (em geral, organizados em entidades representativas) podem utilizar o selo.

As indicações são divididas em dois tipos: as de denominação de origem reconhecem o nome de um país, cidade ou região cujo produto ou serviço tem certas características específicas graças a seu meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos.

Já a indicação de procedência se refere ao nome de um país, cidade ou região conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de determinado produto ou de prestação de determinado serviço.

Capanema quer ampliar visitas de turistas

A prefeitura de Capanema quer usar a Indicação Geográfica (IG) do melado como propaganda da cidade. A ideia, contou o prefeito do município, Américo Bellé, é tornar Capanema mais conhecida, atraindo turistas para conhecer as belezas naturais da cidade.

Bellé explicou que o município é vizinho do Rio Iguaçu e do Parque Nacional do Iguaçu, palco para o turismo de aventura. “Fomos agraciados pela natureza. Parece agora que o mundo está de olho em Capanema”, disse. “É uma grande propaganda do município”, acrescentou.

Outro ponto de união entre o melado e turismo é a feira do produto que acontece a cada dois anos na cidade. A 21ª edição ocorre neste ano, entre os dias 12 e 16 de agosto. “A feira é uma das maiores da região e o melado o nosso diferencial”, afirmou Raquel Belchior Szimanski, secretária de Agricultura e Meio Ambiente do município.