
?Não sentimos nada por dentro?, canta Dave Gahan em ?Going backwards?, música que abre o disco falando de uma humanidade que abandona a evolução e começa a regredir. Mesmo correndo o sério risco de serem panfletários, eles emendam essa com ?Where?s the revolution?? (?Onde está a revolução? Vamos lá, pessoal, vocês estão me decepcionando!?), faixa em que a letra perde fácil para a parte musical, de boa eletrônica, na qual se vê a mão do novo produtor, John Ford, integrante do Simian Mobile Disco, que já pilotou discos de Arctic Monkeys e Foals. Ele soube preservar a sensualidade e o mistério do melhor Depeche Mode e dar-lhes profundidade sonora, de forma que não ficasse nem datado nem descaracterizado.
As canções de indignação respondem por uma boa parte do disco, caso de ?Poorman? (com levada techno e sentimento de blues), da melancólica ?The worst crime? (e sua pregação contra os ?leitores incultos? e os ?líderes mal aconselhados? que ajudam a levar o mundo para o buraco), além da violenta e eletrônica ?Scum?.
Mas ?Spirit? também tem canções que se deslocam do coletivo para tratar do pessoal. Entre elas, ?You move?, que fala de um relacionamento amoroso perverso, em tons bastante escuros. O gótico e o gospel se fundem na depressiva ?Cover me?. E ?Poison in your heart? embala em soul uma história de fim de relacionamento ? o mesmo tema de ?No more (This is the last time)?: ?Chame do que quiser/ você não significa mais nada para mim?, fulmina Gahan.
Como tem sido comum há alguns anos nos discos do Depeche Mode, o vocalista partilha os refletores com o guitarrista Martin L. Gore, que canta ?Eternal? ? uma declaração apaixonada, mas ainda assim soturna ?, e a faixa de encerramento, a cruel ?Fail?, que traz a frase-resumo do disco: ?Nosso espírito se foi?. O mundo vai acabar, mas, no que depender do DM, será com estilo.