CASCAVEL

Com quase 700 mil pacientes no Brasil, mercado milionário da cannabis medicinal beira R$ 1 bilhão

Conheça o mercado da cannabis medicinal no Brasil: números, tratamentos e a integração à rotina dos pacientes - Foto: Divulgação
Conheça o mercado da cannabis medicinal no Brasil: números, tratamentos e a integração à rotina dos pacientes - Foto: Divulgação

O mercado milionário da cannabis medicinal já beira uma movimentação financeira de R$ 1 bilhão no Brasil. Conforme o mais recente relatório da Kaya Mind, os quase 700 mil pacientes no Brasil já garantiram uma comercialização de R$ 853 milhões entre produtos e tratamento com profissionais especializados. Em 2023, o uso de produtos originário da maconha já havia movimentado R$ 699 milhões. O número de pacientes adeptos a este tipo de tratamento cresceu 53% em um ano.


Do total de pacientes, 47% importam os medicamentos; 31% obtém via farmácias e 22% adquirem de associações com respaldo judicial para a comercialização.


Para a CEO da Kaya, Maria Eugênia Riscala, a expansão da cannabis medicinal no Brasil é espantosa. E isso não se restringe apenas aos números, mas na forma de como a medicina integra essas opções de tratamento à rotina dos pacientes brasileiros. Hoje, são mais de 2.180 produtos à base de cannabis utilizados para o tratamento das mais diversas patologias, entre as quais a epilepsia, o mal de Alzheimer, mal de Parkinson, síndrome de tourette, síndrome das pernas inquietas, ansiedade, TEA (Transtorno do Espectro Autista), insônia e até câncer.


Os produtos são comercializados em diferentes formas. Entre as opções, constam óleos, cápsulas, sprays e tópicos. Somente neste ano, o País atraiu 413 empresas estrangeiras, responsáveis por exportar os produtos para o País.
Esse mercado vem apresentando um crescimento vertiginoso. Vale ressaltar que não há nenhuma questão ideológica por trás desse assunto. É um tema de saúde pública, na visão de especialistas consultadas pela equipe de reportagem do Jornal O Paraná.

Exposição


No primeiro ano de registro, em 2018, o mercado de cannabis medicinal movimentou no Brasil R$ 3,7 milhões. Esse modo de tratamento ganhará ainda mais exposição, a partir da aprovação unânime do STJ (Supremo Tribunal de Justiça) para importação de sementes e cultivo de cânhamo industrial para fins medicinais. Agora, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) tem um prazo de 6 meses, a partir da data de 11 de novembro, para regulamentar a prática.


É preciso deixar bem claro. Ao contrário do que muitos pensam o cânhamo medicinal não tem nenhuma relação com o efeito psicotrópico provocado pela maconha. No Brasil, é permitido apenas 0,3% de tetrahidrocanabinol, popular THC, o princípio ativo da cannabis. O cânhamo também pode ser utilizado na fabricação de fibras têxteis, óleos, alimentos e demais produtos.

Luiz Antonio Manso Vieira Junior é fisioterapeuta – Foto: Divulgação

Cascavelense é referência no tratamento à base de cannabis medicinal

Cascavelense hoje morando em Balneário Piçarras (SC), o fisioterapeuta clínico Luiz Antonio Manso Vieira Junior é uma das referências no tratamento à base de cannabis medicinal no Brasil. Ele trabalha com prescrição de canabidiol desde quando a Anvisa fez a liberação aos profissionais, há cerca de três anos. “As flores da cannabis inflorescência foi inserida na farmacopeia do Brasil. Então, 2025 promete muito”, disse, em entrevista concedida à equipe de reportagem do Jornal O Paraná.


Nesta semana, ele proferiu palestra online no Congresso Brasileiro da Maconha Medicinal, promovido pela SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis Sativa). Luiz inclusive chamou a atenção para a Lei Pétala, do deputado estadual Goura (PDT).

Lei Pétala


A Lei Pétala foi promulgada pelo então presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, deputado Ademar Traiano (PSD), no dia 13 de fevereiro e já entrou em vigor. O projeto recebeu esse nome em referência a uma menina de cinco anos que foi diagnosticada com uma doença rara que afeta o desenvolvimento neurológico. Pétala representa milhares de pacientes paranaenses que, por meios judiciais, fazem uso dos medicamentos, mas têm dificuldade no acesso, devido especialmente, ao alto custo.

Com a Lei Pétala, o acesso a medicamentos e produtos à base de canabidiol (CBD) e tetrahidrocanabinol (THC) para tratamento de doenças, síndromes e transtorno de saúde às pessoas será concedido desde que apresentados os seguintes requisitos: possuir um laudo de profissional legalmente habilitado na medicina contendo a descrição do caso, o Código Internacional da Doença (CID), síndrome ou transtorno, e a justificativa para a utilização do medicamento; declaração médica sobre a existência de estudos científicos comprovando a eficácia do medicamento para a doença, síndrome ou transtorno, com a menção de possíveis efeitos colaterais; e prescrição médica contendo, obrigatoriamente, o nome do paciente e do medicamento, o quantitativo e o tempo necessário para o tratamento.


A nova lei vai permitir esse acesso desde que os medicamentos receitados estejam de acordo com as normas de saúde e autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Ainda muito precisa ser melhorado nessa lei, mas já é um grande avanço”, destaca o fisioterapeuta clínico Luiz Antonio Manso Vieira Junior, que possui quatro pós-graduações, sendo duas em cannabis medicinal, uma em cannabis sativa e outra fitoterapia tradicional. O profissional conta com mais de duas mil horas de estudos sobre o assunto.


No tratamento do câncer, por exemplo, o fisioterapeuta explica que a cannabis, além de inibir a metástase, faz com que somente as células doentes sofram a apoptose, ou seja, o suicídio celular, antes de atingir o tecido saudável. “Além disso, inibe os efeitos colaterais da quimioterapia e radioterapia”.

Preconceito


O preconceito ainda é uma barreira a ser superada, na ótica do profissional. “Recebi pacientes que tiveram uma impressão negativa do tratamento no começo, mas hoje, entendem o poder da cannabis medicinal para a melhoria da qualidade de vida”. Ele cita ainda que o THCV é um fitocanabinoide utilizado no tratamento da obesidade, inibindo a fome. O tema é tão relevante que algumas faculdades já começaram a incluir o sistema endocanabinoide na grade curricular. “Minha paciente mais jovem tem dois anos de idade e a mais velha, 97 anos”, exemplifica.

Canabidiol mais barato do mercado é produzido na região Oeste

Primeira a receber autorização da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) para produção e comercialização do produto no Brasil, e pioneira em desenvolver um estudo clínico para Epilepsia, que está em análise pela Anvisa, a Prati-Donaduzzi lançou o canabidiol gotas com concentração de 20 mg no frasco de 10 ml. Ele é considerado a porta de entrada para início do tratamento. Por sua baixa concentração, pode ser utilizado em crianças acima de dois anos, jovens, adultos e idosos, sempre com orientação e receituário médico.


“Diferente de outros produtos à base de canabidiol vendidos no Brasil, o nosso é o único fabricado totalmente aqui, com a importação apenas do canabidiol isolado da Europa. Isso nos permite ter controle total da qualidade do produto e cumprir todas as exigências da Anvisa, além de gerar pesquisa, empregos e tributos no Brasil. Agora, estamos lançando a versão de 20 mg em frasco de 10 ml, disponível em gotas e com preço final inferior a R$ 90 nas farmácias” explica o CEO da Prati-Donaduzzi, Eder Maffissoni. O lançamento representa uma oportunidade de expandir o acesso ao canabidiol e reforça o compromisso da empresa em levar saúde e bem-estar para todos.

Embrapa pede à Anvisa autorização para estudos sobre cannabis sativa

A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) formatou amplo projeto de solicitação formal à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para liberação de plantio de cannabis sativa com finalidade de pesquisa no Brasil.


O objetivo da instituição é desenvolver as bases científicas e tecnológicas para subsidiar o estabelecimento de cadeias produtivas nacionais de cannabis medicinal e industrial, bem como subsidiar políticas públicas e aspectos regulamentares.
As ações de pesquisa para essas cadeias, cujo potencial é enorme, envolvem melhoramento genético para desenvolvimento de cultivares, práticas de manejo, pós-colheita, zoneamento de riscos climáticos, estudos de viabilidade econômica e rastreabilidade”, diz Beatriz Marti Emygdio, pesquisadora da Embrapa Clima Temperado.