Reportagem: Claudia Neis
Cascavel – O número de veículos tem crescido mais do que a população na região oeste do Paraná. Conforme dados do Detran-PR (Departamento de Trânsito do Paraná), a frota já é 3,8% maior que a registrada ano passado. Já a população cresceu 0,59%, conforme as estimativas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No ano passado, havia 917.774 veículos registrados nos 50 municípios que compõem a mesorregião. Agora, já são 952.655 veículos automotores. Já a população passou de 1.307.461 para 1.315.226. Com isso, a proporção cresceu de 1,42 pessoa por carro para 1,38.
E são os pequenos municípios que mais se destacam pelo aumento.
O maior aumento na frota foi registrado em Ramilândia, de 6,40%, passando de 1.735 para 1.846 veículos registrados em 2019. Com isso, a proporção de veículo passou de 2,55 habitantes por veículo para 2,41.
Em contrapartida, a maior frota per capita é vista em Quatro Pontes, onde há praticamente um carro por pessoa. Situação parecida em Mercedes, onde o crescimento da frota foi de 4,93% em um ano.
Santa Tereza do Oeste também teve aumento significativo da frota (6,39%), passando de 6.325 veículos em 2018 para 6.729 em 2019. Veja na tabela abaixo a frota de todos os municípios do oeste.
Incentivo à compra
A diferença no crescimento da população em relação aos veículos ocorre por um incentivo que vem ocorrendo há anos para aquisição. “Nós tivemos e ainda temos um incentivo grande, inclusive por parte do governo, para que a população compre veículo. Sendo por taxas mais baixas, descontos para algumas categorias e programas de incentivo… Com isso, a população foi tendo mais acesso e a frota foi crescendo”, resume a coordenadora de Educação de Trânsito da Companhia de Trânsito de Cascavel, Luciane de Moura.
Confira o total da frota por município e a proporção por habitante
Políticas para reverter
Embora o aumento da frota possa significar melhora na condição de vida, ele pode se tornar um problema. A coordenadora de Educação de Trânsito da Companhia de Trânsito de Cascavel, Luciane de Moura, explica que as estruturas urbanas permanecem as mesmas e é preciso que se criem alternativas urgentes. “Não há mais como comportar tantos veículos… nem nas vias nem em estacionamentos. Em Cascavel está sendo exigido que lojas, quando fazem o pedido de alvará, já apresentem uma opção de estacionamento interno ou conveniado, pois em via pública a situação das vagas já está bem complicada”, lembra.
Diante da situação, os municípios passam a pensar em possibilidades de oferecer à população outras opções de transporte. “Em Cascavel nós estamos pensado em duas vertentes, que depois podem até se completar. A primeira delas é a implantação do serviço de utilização de bicicletas e patinetes elétricos por aplicativos. Já há, inclusive, um edital aberto para empresas interessadas. São opções que dão certo em cidades de primeiro mundo e podem funcionar aqui também, dando possibilidades de locomoção que podem substituir os veículos no dia a dia”.
Só que para que os equipamentos possam ser utilizados é preciso que haja uma malha de vias específicas que garantam a segurança no deslocamento. “A implantação de ciclovias e ciclofaixas que liguem os bairros ao centro da cidade, deve acontecer em 2020. Com o novo empréstimo obtido pelo Município, esse projeto deve sair do papel”, afirma Luciane.
A outra mudança que deve trazer à população outra opção de transporte é a nova licitação do transporte público: “A licitação só acontece em 2021, mas já estamos pesquisando e criando uma série de exigências para que as empresas vencedoras ofereçam à população. Uma delas é o ar-condicionado nos veículos para garantir mais conforto. Além de mudança nos tamanhos dos veículos, com micro-ônibus e também articulados e ainda a mudança no combustível, pelo menos 3% da frota deve ser elétrica ou utilizar algum combustível limpo”.
A junção das duas propostas se daria na possibilidade de transportar bicicleta no ônibus. “Essa possibilidade ainda está sendo estudada, mas a ideia é oferecer a opção de utilização de dois meios de transporte para que a população possa fazer uso de cada um em um trecho caso seja necessário”.
Exemplo para outros municípios
O movimento de redução da frota e implantação de transportes alternativos, de preferência sem impacto ambiental, é tendência mundial, iniciado principalmente nos grandes centros. “É uma tendência mundial, que já vem dando certo em muitos países de primeiro mundo. Aqui, na região, municípios menores já estão de olho nos projetos que serão executados em Cascavel para criar os próprios… Foz do Iguaçu, com apoio da Itaipu Binacional, vai indo nessa mesma direção… É uma questão de tempo e mudança de hábitos para que a situação do aumento da frota seja controlada e equilibrada”, reforça a coordenadora de Educação de Trânsito da Companhia de Trânsito de Cascavel, Luciane de Moura.