Brasil e Cascavel - O mercado global de commodities agrícolas começou a semana pressionado por dois fatores centrais: a ameaça do tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para entrar em vigor na próxima sexta-feira; e a perspectiva de uma safra robusta nos principais países produtores de grãos, especialmente soja e milho. As informações constam no boletim da Granoeste Corretora de Cereais, elaborado pelo analista Camilo Motter.
Apesar do cenário geopolítico desfavorável, com potencial impacto nas exportações brasileiras, o desempenho das lavouras nos EUA surpreende positivamente. Os norte-americanos devem colher 118 milhões de toneladas de soja, reforçando a oferta global. O Brasil mantém a liderança, com estimativa de 169 milhões, seguido pela Argentina, com 50 milhões.
Produção global
Com esses números, a produção mundial de soja deve alcançar 422 milhões de toneladas, frente a um consumo estimado em 409 milhões. O excedente deve elevar os estoques finais de 115 para 125 milhões de toneladas, sinalizando desequilíbrio entre oferta e demanda. Esse cenário pressiona as cotações e limita espaço para altas expressivas no curto prazo.
Oferta interna elevada
No Brasil, a oferta de soja permanece abundante, mesmo em plena entressafra. As indústrias compram com cautela, e as exportações seguem estáveis, mas sem picos de demanda.
Segundo o boletim da Granoeste, os prêmios no mercado spot variam de 140 a 160 pontos. Para setembro, a faixa é de 165 a 180 pontos, refletindo expectativas de estabilidade nos embarques e consumo interno.
No Oeste do Paraná, a soja oscila entre R$ 128 e R$ 131 por saca. Em Paranaguá, as indicações ficam entre R$ 140 e R$ 143, a depender do prazo de pagamento. No interior, as variações também consideram localização e período de embarque.
Milho: oferta recorde
O milho segue a mesma tendência. Apesar de acordos comerciais recentes dos EUA, o excesso de oferta mantém os preços sob controle.
Motter destaca que, pela primeira vez, a safra norte-americana pode atingir 400 milhões de toneladas. No Brasil, as projeções apontam para 140 a 150 milhões, configurando volume histórico. Esse cenário deixa compradores em posição confortável, pressionando vendedores e limitando valorização.
No Oeste do Paraná, o milho é negociado entre R$ 55 e R$ 58 por saca; em Paranaguá, de R$ 64 a R$ 67, conforme prazo de entrega. No Mato Grosso, principal produtor, 90,4% da área colhida, abaixo dos 99,3% do mesmo período em 2023, segundo o IMEA.
Incertezas
Mesmo com bons números de produção, o anúncio da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros nos EUA gera apreensão quanto ao futuro das exportações, especialmente em setores que têm no mercado norte-americano parceiros estratégicos.
Embora grãos não estejam diretamente na lista, o ambiente de incerteza pode afetar decisões de compra e alterar fluxos comerciais consolidados. Especialistas avaliam que, dependendo do impacto político e econômico, o mercado pode reagir com cautela, redirecionando embarques e ajustando estratégias logísticas.
Perspectivas moderadas
A Granoeste avalia que o mercado deve seguir lateralizado, sem espaço para altas expressivas no curto prazo. A combinação de produção elevada, consumo contido e estoques em crescimento pesa contra a valorização. O setor monitora de perto as medidas protecionistas dos EUA, que podem alterar significativamente o ritmo das exportações brasileiras. No curto prazo, prevalece a cautela: quem tem produto, espera oportunidades melhores; quem compra, negocia com base na abundância de oferta — enquanto o cenário geopolítico segue indefinido.