AGRONEGÓCIO

Falta de mão de obra atinge setor de proteína animal que tem 25 mil vagas

O presidente da ABPA discute temas rurais importantes em Cascavel, ressaltando a cadeia de proteína animal no Paraná - Foto: Vandré Dubiela/O Paraná
O presidente da ABPA discute temas rurais importantes em Cascavel, ressaltando a cadeia de proteína animal no Paraná - Foto: Vandré Dubiela/O Paraná

Brasil - Cumprindo extensa agenda em todo o Paraná, o presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), Ricardo Santin, esteve em Cascavel na terça-feira, oportunidade em que concedeu entrevista coletiva na sede administrativa da Cotriguaçu. Ele abordou vários temas relevantes da cadeia de proteína animal e do agronegócio brasileiro. Ao lado dele, estavam alguns líderes cooperativistas da região Oeste, como o presidente da Cooperativa Agroindustrial Lar e do Conselho Diretivo da ABPA, Irineo da Costa Rodrigues; o presidente da Coopavel, Dilvo Grolli; o diretor-executivo da Frimesa, Elias Zydek e o presidente do Sindiavipar, Roberto Kaefer. O coordenador de Logística da ABPA, José Perboyre, também participou.

A equipe de reportagem do Jornal O Paraná aproveitou para falar de recente levantamento feito pela editoria de agronegócio, em que revelou a existência de pelo menos 10 mil postos de trabalho vagos nas cooperativas da região Oeste. “Com base nessas informações que você está me passando, só vem a confirmar a realidade observada também no Brasil, hoje, com uma carência de mão de obra no setor de proteína animal de 25 mil pessoas. Lógico que temos um turn over natural, mas há sim, carência”. Ainda nessa linha de raciocínio, Ricardo Santin aproveitou para ressaltar uma iniciativa em desenvolvimento pela ABPA, chamado de Programa de Incentivo à Inovação e Modernização. “Antigamente falavam: vou colocar uma máquina para tirar postos de trabalho e hoje, a realidade é a seguinte: vou colocar uma máquina para suprir a carência de mão de obra”, aponta.

Há um projeto de lei em trâmite no Congresso, garantindo hora-extra para o auditor fiscal federal presente nas fábricas do País, para que possamos fazer mais turnos, com o propósito de produzir e crescer. A ABPA pretende em breve, fazer uma campanha, destacando a importância de trabalhar em algo que você garanta alimentação para as pessoas e garante a segurança alimentar.

Tarifações

O presidente da ABPA falou sobre os efeitos das tarifações de impacto no agronegócio, como as anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e ecoando em outras grandes potências, como a China, por exemplo, ‘O Brasil tem trabalhado, respeitando a autonomia de cada país. Não exportamos nada diretamente para o Estados Unidos, que seja tão influente ao ponto de sofrermos tarifação. Exportamos carne suína, tilápia, agora começa a exportar ovo, mas não são volumes que, ao que tudo indica, sofrerão tarifação”, comenta. Por outro lado, Ricardo Santin comenta que em outros países, essa tarifação pode surtir efeitos, que podem ser até benéficos para o Brasil. “Não gostamos de aumento de tarifas da maneira como o Trump fez fazendo, mas é da maneira dele e ele tem legitimidade para agir. Quem está negociando com ele tem o direito de aceitar ou retaliar, assim como fez a China, que acaba de revidar com 15% as importações de carne de frango aos Estados Unidos e 10% nas de carne suína. Isso deve gerar uma readequação desse comércio global”. No ano passado, os Estados Unidos exportaram para a China, mais de 140 mil toneladas de carne de frango e mais de 400 mil toneladas de carne suína. Para o Canadá, os americanos exportaram perto de 200 mil toneladas de frango e carne suína e para o México, mais de 700 mil toneladas de carne de frango 1,1 milhão de toneladas de carne suína. “São volumes importantes e impactantes em um trading global. O fato de ter tarifa não quer dizer que não vai vender. Vai mexer no efeito preço, na diminuição de preço dos produtos americanos para eles agregarem tarifas, mas também fará com que o mercado veja o Brasil como um trust shoring, como um parceiro de confiança no provimento”.

No caso do Brasil, em todos esses mercados em que os Estados Unidos promove esse aumento de tarifa, já somos parceiros desses países. “Naturalmente os produtos norte-americanos não vão desaparecer. Eles vão ser destinados a outros mercados que não tenham tido uma resposta tarifária”. Em suma, a ABPA não gosta desse aumento de tarifas, mas o Brasil sairá fortalecido com a qualificação de suas vendas no comércio exterior.

Exportações

Santin anunciou o aumento significativo das exportações brasileiras de proteína animal no mês de fevereiro, com destaque para o crescimento de 17,9% na carne de frango e de 17% na carne suína, um recorde para o período analisado. 

“A demanda por proteína animal no mundo aumentou e o cenário é muito favorável para o Brasil. De modo geral, questões sanitárias têm exercido forte influência no mercado internacional e o nosso país está livre de influenza aviária e da peste suína africana, duas doenças com muitas incidências de casos confirmados em todos os cantos do mundo. Nosso trabalho preventivo é exemplar e tem aberto oportunidades de negócios para o Brasil”, afirmou.

O presidente da ABPA destacou a orientação contínua para garantir que o Brasil permaneça livre de doenças que possam prejudicar a produção de proteína animal. “Precisamos manter nossas práticas, com os produtores seguindo rigorosamente as orientações técnicas para proteger a produção. Devemos fazer o que sempre foi feito. O Brasil se destaca em relação a outros países que enfrentam dificuldades no controle dessas doenças e o desempenho das exportações até o momento indica que as projeções iniciais serão superadas e teremos um excelente ano de 2025”, avaliou.

O levantamento da ABPA revelou que as exportações de carne de frango do Brasil bateram recorde em fevereiro de 2025, com 468,4 mil toneladas embarcadas, um crescimento de 17,9% em relação ao mesmo período do ano anterior quando foram registradas 397,2 mil toneladas. O volume considera todos os produtos, in natura e processados, e foi maior resultado alcançado dentro do período analisado.

O resultado em dólares das exportações de carne de frango registrou um aumento ainda mais significativo, de 23,1%. Em fevereiro deste ano, as exportações totalizaram US$ 870,4 milhões, superando os US$ 707 milhões do mesmo período do ano anterior.

As exportações acumuladas nos meses de janeiro e fevereiro deste ano atingiram 911,4 mil toneladas, superando em 13,6% o volume registrado no primeiro bimestre do ano passado, que foi de 802,2 mil toneladas. Em termos de receita, o crescimento foi ainda mais expressivo: US$ 1,696 bilhão neste ano, contra US$ 1,390 bilhão no ano anterior, representando um aumento de 22%.

Em fevereiro, a China liderou as importações de carne de frango do Brasil, com 49,6 mil toneladas, um aumento de 18,1% em relação ao ano anterior. O estado do Paraná segue como maior exportador de carne de frango do país, com 186 mil toneladas exportadas em fevereiro (+15,9% em relação ao mesmo período do ano passado), seguido por Santa Catarina, com 106,6 mil toneladas (+15,5%).

Conforme o levantamento da ABPA, esse ritmo de crescimento também esteve presente nas exportações brasileiras de carne suína que registraram um recorde para o mês de fevereiro. Incluindo produtos in natura e processados, as exportações atingiram 114,4 mil toneladas. Este volume representa um crescimento de 17% em comparação com as 97,8 mil toneladas exportadas no mesmo período do ano passado.

Em termos de receita, as exportações de carne suína registraram um aumento significativo de 32,6% em fevereiro deste ano, totalizando US$ 272,9 milhões, em comparação com os US$ 205,7 milhões obtidos no mesmo período do ano passado. Já no comparativo do primeiro bimestre do ano, as exportações de carne suína aumentaram 11,6%, totalizando 220,4 mil toneladas, em comparação com 197,5 mil toneladas no mesmo período de 2024. Filipinas seguem como principais destinos das exportações de carne suína do Brasil, com 23 mil toneladas em fevereiro (+72% em relação ao ano anterior).