Cascavel e Paraná - Apesar de ser uma das principais políticas públicas de apoio à agricultura familiar no Brasil, o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) não tem alcançado a grande parte dos produtores no Paraná. Dados do último Censo Agropecuário de 2017, apresentados nesta terça-feira, em Cascavel, durante o 2º Seminário Regional de Cooperativismo da Agricultura Familiar, revelam que apenas 26% dos agricultores familiares do Estado acessam o financiamento rural. A chamada “bancarização” da agricultura familiar — quando o crédito se concentra em poucos produtores e os bancos evitam pulverizar recursos — é apontada como um dos principais obstáculos. Os dados foram apresentados pelo coordenador estadual do Programa Coopera Paraná e técnico do DEAGRO/SEAB, Jefferson Meister, em entrevista concedida à equipe de reportagem do Jornal O Paraná.
“Os bancos têm uma tendência de concentrar o crédito. Eles não gostam de trabalhar com o crédito pulverizado. Essa ‘bancarização’ da agricultura familiar também é um gargalo”, comenta Meister. Segundo ele, o número de agricultores acessando o Pronaf vem diminuindo nos últimos anos. “Há um processo de redução. Muitos dos que conseguem acessar já têm propriedades bem estruturadas, com mercado consolidado e, em muitos casos, integrados em cadeias produtivas. Mas uma parcela expressiva — cerca de 76% dos agricultores familiares no Paraná — não consegue acessar o crédito rural”, afirma.
Meister ressalta que a falta de assistência técnica é outro fator determinante. “Para acessar o crédito, o agricultor precisa de apoio, alguém que o oriente, que elabore o projeto produtivo e sinalize quais são as linhas de financiamento mais adequadas. Sem isso, o acesso se torna muito mais difícil”, detalha.
Outro ponto observado, segundo ele, é que parte dos produtores acaba recorrendo a outros modelos de financiamento, como crédito em lojas agropecuárias ou dentro das próprias cooperativas, que acabam suprindo a ausência dos financiamentos oficiais.
Cenário
O cenário acende um alerta sobre a urgência de ações que garantam maior democratização do acesso ao crédito, condição essencial para fortalecer a agricultura familiar, que responde por uma parte significativa da produção de alimentos no estado e no País.