Cascavel – De um lado está o setor produtivo do oeste que dá como certo que está é a última campanha de vacinação contra a febre aftosa no Paraná. De outro, pecuaristas do norte e do noroeste contrários ao fim da imunização. No meio do debate está o governador Ratinho Junior, que adotou o discurso do “diálogo”, embora tenha prometido para os dois lados o que ambos queriam ouvir. Amanhã se encerra a campanha de vacinação, que deve ser a última no Estado.
“Não temos dúvida de que esta será a última campanha porque o governo do Estado está 100% comprometido com isso”, garante o presidente do POD (Programa Oeste em Desenvolvimento), Danilo Vendruscullo. A confiança dele se justifica na ação do próprio POD, que reúne representantes de toda a cadeia produtiva regional e possui uma câmara técnica voltada exclusivamente para a sanidade animal.
Segundo Vendruscullo, se o problema for recursos para colocar em prática as últimas exigências feitas pelo Ministério da Agricultura para concessão do status de área livre da doença sem vacinação, existe um fundo criado de forma voluntária e com participação financeira obrigatória das cooperativas que tem em caixa R$ 77 milhões, administrado pela Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná). “Esse fundo reúne recursos públicos e privados e sugerimos que seja usado para fazer as barreiras sanitárias necessárias para que o Paraná seja área livre da doença sem vacinação. Esses recursos podem ser usados ao longo dessa etapa para a contratação de técnicos e veterinários que faltavam. Estamos muito certos que esta será a última vacinação e o Paraná, a exemplo de Santa Catarina, vai ser livre da doença internamente e reconhecido internacionalmente em dois anos”, reforçou o presidente do POD.
Danilo alertou ainda que tudo o que precisar ser feito para se seguir o cronograma, o setor produtivo do oeste está disposto a fazer.
Ocorre que, segundo o médico-veterinário Juliano Moura, da Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná), a verba no fundo não pode ser usada para outros fins se não para eliminação de focos da doença, no caso de novo registro da aftosa pelo Estado. Isso justificaria, por exemplo, por que o fundo foi criado em 2005, quando os últimos casos da doença foram confirmados no Paraná.
Governador: todos precisam ser ouvidos
Apesar de não haver confirmações oficiais acerca do assunto, nem todas as barreiras sanitárias adaptadas teriam sido implementadas ainda, assim como a contratação de veterinários exigida pelo Ministério da Agricultura. Para o setor produtivo regional, esses não devem ser os entraves que impediriam o Estado de acessar o registro que será declarado pelo Mapa em setembro.
Na semana passada, em visita à região, o governador Ratinho Junior disse que o Estado tem a pré-disposição em avançar pelo fim da vacinação, mas que não pode ser arbitrário.
A campanha se encerra nesta sexta-feira (31) sem a garantia ao produtor se ele terá de imunizar novamente em novembro. Assim como a indústria não sabe se terá de produzir novamente as cerca de 10 milhões de doses da vacina para atender os 399 municípios paranaenses. “Queremos ouvir a população, não podemos ser injustos de ouvir só um setor. Então precisamos ouvir a avicultura, a suinocultura, os pecuaristas [bovinocultores]. Precisamos ouvir todas as cadeias e é isso que está ocorrendo com as 16 audiências públicas realizadas pelo Paraná”, destacou o governador.
Um grupo de pecuaristas do norte e do noroeste do Paraná seria o único a se posicionar contra o fim da imunização no Estado. Isso porque eles ficariam impedidos, por exemplo, de trazer gado de outros estados para o Paraná. Hoje em torno de 2% dos bovinos são trazidos de fora.
A Sociedade Rural de Maringá se manifestou contrária e no mês passado disse que a decisão vai “afetar profundamente produtores e todos os setores que dependem da entrada de animais de outros estados para as suas atividades”.
Reta final
Enquanto as indecisões pairam no ar sobre o fim da vacinação, os escritórios regionais da Adapar se concentram em confirmar as doses aplicadas. Uma infinidade de notas está sendo lançada no sistema. Até a semana passada, apenas 40% dos bovinos e bubalinos com até dois anos de idade haviam sido vacinados e confirmados à Adapar na região oeste. “Mas a tendência de todos os anos é esta: a maior concentração ocorre mesmo na reta final, na última semana”, afirma o veterinário Juliano Moura.
Não há confirmação, até o momento, se a campanha será prorrogada. Por ora, a data-limite para imunização e confirmação da aplicação da dose é esta sexta-feira. Quem não vacinar terá de pagar multa de cerca de R$ 100 por cabeça não imunizada mais a obrigatoriedade da vacinação assistida.
Reportagem: Juliet Manfrin