RIO ? Os tratamentos contra a Aids melhoraram, os índices de mortalidade caíram drasticamente, mas cada vez mais pessoas se contaminam com o vírus HIV. De acordo com estudo publicado nesta terça-feira na revista ?Lancet HIV?, as taxas anuais de novas infecções aumentaram em 74 países na última década, incluindo Egito, Paquistão, Filipinas, Cambodja, México e Rússia.
Os dados foram apresentados durante a 21ª Conferência Internacional sobre Aids, que acontece esta semana em Durban, na África do Sul. No mundo, o número total de novos casos vem diminuindo, mas o ritmo desacelerou. Entre 2005 e 2015, o número de novas infecções caiu em média 0,7% por ano, em comparação com a queda anual de 2,7% entre 1997 e 2005. Anualmente, cerca de 2,5 milhões de pessoas contraem o vírus.
? Se esta tendência de novas infecções continuar, enfrentaremos desafios significativos no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, para o mundo testemunhar o fim da Aids em menos de 15 anos ? disse Christopher Murray, diretor do Institute for Health Metrics and Evaluation, da Universidade de Washington, em Seattle. ? Todos na sociedade médica devem compreender se cada vez mais pessoas estão vivendo com HIV, nós não podemos acabar com a Aids sem parar com as novas infecções.
O estudo examina índices de mortalidade, prevalência e incidência entre 1980 e 2015, e conta com informações fornecidas por mais de 1,7 mil colaboradores, de 124 países. Em contraste com a queda global na taxa de novas infecções, o número de pessoas vivendo com HIV aumentou significativamente nos últimos anos, graças ao avanço das terapias antirretrovirais. Segundo as estimativas, existem hoje no mundo cerca de 39 milhões de pessoas soropositivas, contra 28 milhões em 2000.
? Esse estudo mostra que a epidemia de Aids não acabou e que o HIV/Aids continua sendo uma das maiores ameaças à saúde pública do nosso tempo ? disse Peter Piot, diretor da London School de Higiene e Medicina Tropical. ? A taxa contínua de mais de 2 milhões de novas infecções por HIV representa uma falha coletiva que deve ser resolvida pela intensificação de esforços preventivos e investimento continuado em pesquisas para uma vacina.
Em 2015, 41% das pessoas infectadas com o HIV faziam terapias antirretrovirais, contra menos de 2% em 2000. Esse esforço reduziu sensivelmente o índice de mortalidade. No total, cerca de 1,2 milhão de pessoas morreram por causa do HIV no ano passado, contra 1,8 milhão em 2005.
? Nós estamos mantendo as pessoas vivas por mais tempo, e esses números devem dar esperança para aqueles que fazem uso de terapias antirretrovirais ? disse Haidong Wang, pesquisador da Universidade de Washington e co-autor do estudo, acrescentando que essas melhorias, entretanto, estão distantes do objetivo ambicioso de 90-90-90, fixado pela comunidade internacional para o ano de 2020. Essa meta prevê que 90% das pessoas contaminadas com HIV saibam da sua situação, 90% desses pacientes diagnosticados recebam terapia antirretroviral e 90% das pessoas em tratamento experimentem a supressão viral.
No Brasil, foram registrados cerca de 33,8 mil novos casos de infecção pelo HIV em 2015, com um total de 559 mil pessoas vivendo com o vírus, sendo que 49,4% delas recebem terapias antirretrovirais, índice considerado baixo. Na vizinha Argentina, por exemplo, a taxa é de 69,7% dos pacientes em tratamento, e em Cuba, de 62,3%.