
Aos 22 anos, o atleta do Chambéry, time de cidade de 56 mil habitantes no leste da França, vive momentos de nostalgia e esperança no auge da carreira. Tanto que aproveitou a semana livre, antes do confinamento na Vila dos Atletas, para fazer uma visita onde tudo começou. Na última terça-feira, ele esteve no Colégio Estadual Antônio da Silva, no bairro de Comendador Soares ? ainda hoje conhecido e famigerado como Morro Agudo ?, em Nova Iguaçu. O carinho, tapinhas nas costas, de alunos e ex-professores foi imediato.
? Meu irmão mais velho, Marcos, começou a jogar handebol aqui na escola. Nossos pais nos incentivavam muito a praticar esportes. Eu nem conhecia o handebol. Gostava mesmo era de futebol, como toda criança. Mas, ao assistir a um jogo em 2005, fiquei arrepiado. Na hora pensei: ?Quero fazer isso também.? Foi meio que amor à primeira vista ? recorda João Pedro.
Sede do projeto social Nova Iguaçu Handebol Clube, hoje gerenciado pela ONG Inclusão Social através do Esporte e Cultura (Isec), que trabalha com cerca de 150 crianças e adolescentes, a unidade de ensino acabou atraindo mais um aluno por conta da atividade extracurricular.
? Primeiro, comecei a treinar aqui, mesmo sem estudar na escola. Aí, em 2006, fiz a matrícula. A partir daí, fui conciliando os estudos com o esporte. As pessoas me elogiavam, diziam que eu tinha jeito. E as coisas foram acontecendo ? lembra João Pedro.
O professor de Educação Física e treinador, Joel Teixeira, logo enxergou o potencial do pupilo:
? Eu avisei à mãe dele: esse menino vai alçar voos altos.
A atual presidente da Isec, Norma Barbosa, ex-jogadora de handebol e técnica da seleção brasileira de juniores no fim dos anos 1990, explica o que a chamou atenção na promessa:
? João era o mais alto do grupo (hoje o central tem 1,90m) e também habilidoso. Vimos ali que ele tinha o dom.
‘QUADRAS PEQUENAS E SEM ESTRUTURA’

? Eu estava acostumado apenas com quadras pequenas e sem estrutura, das escolas onde jogávamos em torneios. Quando cheguei ao Riocentro (onde foi disputada a modalidade), me surpreendi pela grandeza ? conta o atleta, então uma promessa. ? Fiquei fascinado ao ver a torcida pela seleção: assim que o time entrou em quadra, todo mundo gritou. Aquilo me arrepiou.
João Pedro recorda de estar ?vendo ídolos de perto, como o Mike? (goleiro, e único remanescente daquela equipe convocado para o Rio-2016).
? Não pude ir à final, mas torci muito e fiquei feliz com a medalha de ouro (na vitória contra Cuba). Tive muita vontade de estar lá com eles, de ser um deles. Eu era acostumado a jogar apenas tendo amigos e parentes na arquibancada torcendo ? rememora.
A transformação do sonho em realidade começou a acontecer em abril de 2009, quando ele recebeu uma ligação de São Paulo, mais especificamente do Esporte Clube Pinheiros.
? Era meu sonho se realizando. Um dos maiores clubes do Brasil! Não tinha como recusar ? explica João Pedro, ressalvando que nem só de flores foi semeado o caminho: ? No início deu muita saudade de casa, dos amigos. Cheguei a pensar em desistir. Ali o handebol deixou definitivamente de ser uma brincadeira, um lazer, e se tornou algo sério, minha primeira opção de vida.

? Na França, sou reconhecido na rua. As pessoas pedem para tirar fotos: trata-se de uma cidade pequena, onde todos se conhecem. Fico muito feliz com esse reconhecimento ? conta o central.
Em casa novamente, para a disputa da Olimpíada, João Pedro agora se prepara para o maior desfio de sua vida, enquanto tenta controlar as emoções. O Brasil estreia diante da Polônia, no dia 7, às 16h40m, na Arena do Futuro, no Parque Olímpico da Barra.
? Já ganhamos deles lá na Polônia, em 2015. Estamos evoluindo bastante e, hoje, podemos bater de frente contra qualquer dos europeus. Agora é segurar a ansiedade, porque isso pode atrapalhar. Temos é que fazer valer o nosso fator casa. Com certeza nossa torcida vai nos ajudar ? finaliza o central, conhecedor como ninguém do poder de uma arquibancada.