Nascido há exatos cem anos e considerado um dos quadrinistas mais influentes da História, o americano William Erwin Eisner é foco de uma série de eventos nos Estados Unidos e na França por conta do centenário. No Brasil, a editora Devir planeja lançar, ainda sem data definida, uma edição especial em dois volumes temáticos reunindo num deles obras seminais do artista e no outro os quadrinhos instrucionais produzidos para uma revista do Exército americano na 2ª Guerra Mundial.
Nos Estados Unidos, a Society of Illustrators, de Nova York, abre no dia 10 de março a exposição ?Will Eisner: The Centennial Celebration 1917 ? 2017?. Disposta em dois andares da sede da instituição, a mostra curada por Denis Kitchen e John Lind reúne mais de 150 itens, incluindo artes originais de Eisner. De acordo com os organizadores, seria a maior já dedicada ao artista no país.
Dez razões que fazem de Will Eisner um gênio
Na França, a cidade de Angoulême abriga desde o fim de janeiro a mostra ?Will Eisner, génie de la bande dessinée américaine?, inaugurada durante o Festival Internacional de Quadrinhos. Com mais de 120 itens, entre originais rascunhos e outros objetos, a trajetória do criador do personagem Spirit é apresentada de forma cronológica e traz dois filmes ?Will Eisner: profissão cartunista? (1999), da brasileira Marisa Furtado d?Olivero, e ?Will Eisner: portrait of a sequential artist? (2010), do americano Andrew Cooke.
Nascido em Nova York, filho de imigrantes austro-húngaros e judeus, Eisner cresceu em cortiços no Brooklyn e passou a desenhar por influência da leitura de tiras nos jornais. No início da carreira, como editor, deu oportunidade a artistas como Bob Kane, criador de Batman, e Joe Kirby, que concebeu o Capitão América. Também criou seus próprios personagens, uma galeria na qual se destacam Spirit, Falcão Negro e Sheena.
Criado nos anos 1940, Spirit é um herói sem superpoderes que protege os habitantes da cidade de Central City. Alter ego do detetive Denny Colt, o personagem foi um divisor de águas na indústria dos quadrinhos. Suas histórias, com 16 páginas, eram encartadas nos jornais e chegaram a ter tiragem de 5 milhões de exemplares.
Ao longo da carreira, Eisner abandonou os personagens seriados e investiu em histórias mais humanas e autobiográficas. Com ?Um contrato com Deus e outras histórias de cortiço? (1978), primeira parte de uma trilogia que se completaria com ?A força da vida” (1988) e ?Avenida Dropsie: a vizinhança? (1995), foi o precursor do conceito das ?graphic novels? ou romances gráficos, que se caracterizavam por dar tratamento literário às narrativas sequenciais.
Muito ligado ao Brasil, Eisner visitou o país várias vezes. Em uma dessas ocasiões, o tradutor e colecionador de quadrinhos Marcelo Alencar perguntou ao artista porque ele havia deixado de desenhar o Spirit:
? Ele me disse que queria contar histórias mais humanas ? contou Alencar, que entre seus itens mais preciosos tem cromos inéditos de capas da revista ?Spirit? da época em que era editada pela Abril. ? Ele mandava esses cromos, que usávamos para montar as capas. Um dia, perguntei se podia guardar uma delas, que não ia ser usada, e ele falou ?tudo bem?. Era um homem muito generoso.
Eisner morreu em 3 de janeiro de 2005, em Laurderdale Lakes, na Flórida, devido a complicações cardíacas dias depois de uma cirurgia.