Cotidiano

?A guerra dos mundos? ganha edição com ilustração de brasileiro

SÃO PAULO – Principal atrativo de uma nova edição de “A guerra dos mundos’’ (Suma das Letras), que chegou às livrarias este mês, os desenhos do brasileiro Henrique Alvim Corrêa (1876-1910) ilustraram uma versão do romance de H.G. Wells (1866-1946) publicada em 1906, na Bélgica, onde o artista estava radicado. Modernas e representativas da violenta invasão marciana à Terra, as ilustrações impressionaram Wells, que se tornou amigo de Alvim Corrêa. O título, como outras obras do autor, entra em domínio público em janeiro de 2017.

— Do ponto de vista do leitor, acho que é a edição mais acessível com as ilustrações do artista brasileiro. Em uma pesquisa rápida que fiz, houve uma edição anterior que também tinha os desenhos, mas era sofisticada demais e com preço muito alto — diz o escritor e compositor Bráulio Tavares, autor do prefácio da obra.

Invasões extraterrestres de alienígenas tecnologicamente desenvolvidos e extremamente violentos são comuns hoje na ficção científica, seja na literatura, no cinema ou nos videogames. No fim do século XIX, no Reino Unido, não era bem assim, até porque o gênero, chamado então de “romance científico’’, ainda não florescera. Ao imaginar marcianos hostis e armados até as antenas com raios de calor, prontos para varrer a Humanidade do mapa e controlar os recursos naturais do planeta, Wells fazia um alerta ao Império Britânico sobre sua política colonizadora e predatória:

— Muitos críticos reagiram a essa descrição dos marcianos. E Wells respondia que não entendia o estranhamento, afinal, era o mesmo tipo de comportamento dos britânicos quando invadiam suas colônias — diz Tavares.

WELLS encontra welles

O volume tem capa dura e traz ainda uma introdução do autor americano de ficção científica Brian Aldiss, membro da H.G. Wells Society, além de um posfácio com a transcrição de uma entrevista concedida por Wells ao cineasta americano Orson Welles (1915-1985), em 1940, para uma rádio de San Antonio, no estado americano do Texas. Dois anos antes, Welles havia adaptado “A guerra dos mundos’’ em uma novela radiofônica que, reza a lenda, teria causado pânico em cidades remotas dos Estados Unidos.

— Essa entrevista é muito curiosa e foi tirada de um áudio que pode até ser encontrado na internet — diz Tavares. — Em determinado momento, eles falam de um filme que Welles estava fazendo. Era sua estreia na direção de cinema e trazia uma série de revoluções tecnológicas. Welles diz o título, “Cidadão Kane’’, mas Wells não entende direito.