
? Meus amigos dizem que tenho muita sorte, que tenho tudo ? disse Ko Yong-suk, como era conhecida quando fazia parte da família real da Coreia do Norte. ? Meus filhos foram para ótimas escolas e são bem-sucedidos, e tenho meu marido.
O marido, antes conhecido como Ri Gang, sorri.
? Acho que realizamos o sonho americano.
Quebrando o silêncio nos EUA, Ko e Ri Gang conversaram com dois repórteres do ?Washington Post? em Nova York. Nervosos por saírem do anonimato, pediram que seus nomes atuais e seus endereços não fossem publicados.
Ko, que tem uma enorme semelhança com sua irmã, Ko Yong Hui ? uma das mulheres de Kim Jong-il e mãe de Kim Jong-un ? tinha uma relação estreita com o homem agora considerado um dos principais inimigos dos EUA: foi ela quem cuidou do atual líder norte-coreano enquanto ele estudava na Suíça. Mas, em 1998, quando Kim Jong-un tinha 14 anos, Ko e Ri decidiram desertar. A irmã de Ko, sua ligação com o regime, estava com câncer de mama terminal. O casal percebeu que não seria necessário ao regime por muito tempo e fugiu, preocupado em perder o status privilegiado.
Eles parecem uma família normal. A casa é grande, com dois andares, dois carros na garagem, uma enorme TV na sala e churrasqueira. Estiveram em Las Vegas nas férias, e há dois anos foram para a Coreia do Sul, onde Ko gostou de visitar os palácios que via na TV.
Mas, olhando mais de perto, percebemos que a foto do filho mais velho num jet-ski foi tirada em Wonsan, onde a família Kim tem sua residência de verão. A menina no álbum de fotos é Kim Yo-jong, irmã mais nova de Kim Jong-un que dirige a divisão de propaganda do Partido dos Trabalhadores da Coreia. A casa foi comprada, em parte, com um pagamento de US$ 200 mil que a CIA deu ao casal em sua chegada, segundo eles.
Apesar de não verem Kim Jong-un há quase 20 anos, a Inteligência dos EUA acredita que o casal ainda representa uma valiosa fonte de informação. Eles podem confirmar, por exemplo, que Kim Jong-un nasceu em 1984 ? não em 1982 ou 1983, como se supõe ? mesmo ano de nascimento do primeiro filho deles.
? Troquei tanto suas fraldas ? diz Ko, que é simpática ao regime norte-coreano e está tentando aprovação para ir a Pyongyang. ? Ele não era encrenqueiro, mas tinha pavio curto e era meio intolerante.