
A destinação correta dos dejetos suínos, tema central para a sustentabilidade econômica e ambiental da suinocultura regional, será discutida em audiência pública no dia 27 de novembro, às 14h, no plenário Edílio Ferreira, na Câmara de Vereadores. O debate também incluirá outro desafio estrutural para o futuro do agronegócio: a sucessão familiar nas propriedades rurais.
A suinocultura é um dos pilares do agronegócio em Toledo, mas enfrenta entraves que já afetam sua capacidade de expansão. A saturação do solo por fósforo e nitrogênio tem limitado o crescimento dos plantéis, pressionando produtores a buscar alternativas tecnológicas e novos modelos de gestão ambiental.
A audiência reunirá especialistas, entidades, produtores e representantes públicos para discutir soluções economicamente viáveis. Entre elas estão tecnologias para manejo, geração de energia e produção de biofertilizantes — investimentos considerados essenciais para que a atividade continue competitiva e atenda às normas ambientais.
Pesquisas e oportunidades
Pesquisas desenvolvidas na Unioeste apontam caminhos para reduzir o impacto ambiental e agregar valor econômico. Estudos buscam capturar biometano diretamente das lagoas de armazenagem, transformando o resíduo restante em água apta para descarte ou reuso. A abordagem amplia o potencial energético da atividade, permitindo aplicações em frotas de transporte.
O vereador Chumbinho Silva, vice-presidente da Comissão de Desenvolvimento Sustentável, destaca que o biometano pode reduzir custos logísticos e abrir novas frentes de renda. Durante a audiência, o Sintratol e a Tressi apresentarão um caminhão híbrido movido a biometano e diesel, que promete economia de cerca de 30% no combustível fóssil. “Tudo que se produzir através das pesquisas, eles absorvem”, afirma.
Risco de retração
Segundo Chumbinho, Toledo já registra queda no número de animais alojados, reflexo direto das limitações ambientais. “Nosso solo não comporta mais os dejetos. O município, que era referência, hoje enfrenta sérios obstáculos”, alerta. A falta de expansão preocupa indústrias e cooperativas, que dependem da matéria-prima para manter seus níveis de produção. “Toledo não consegue aumentar o plantel — e talvez diminua”, reforça.
42% do VBP
O futuro da suinocultura do município será discutido nessa audiência pública. O encontro reunirá autoridades como o promotor de Meio Ambiente, Giovanni Ferri, além de líderes sindicais e representantes do setor produtivo. A atividade é considerada estratégica, já que a suinocultura responde por 42% do VBP (Valor Bruto da Produção) do município, mantendo Toledo na liderança estadual há 12 anos.
Presidida por Bruno Marcos Raduns, a comissão é formada também pelo vice-presidente Chumbinho Silva e pelos vereadores Olinda Fiorentino, Jair Serbaro e Ricardo Santos. O grupo tem se destacado por ações voltadas ao meio ambiente e à conservação, mas, desta vez, volta sua atenção a um tema que tem provocado preocupação crescente.
Segundo Raduns, o debate é urgente. “A suinocultura é um assunto que temos que tratar com muita coerência”, afirmou. Ele ressalta que o setor enfrenta dificuldades que exigem alinhamento entre autoridades, produtores e empresas. Entre os principais problemas, cita a instabilidade no fornecimento de energia. “São problemas que temos, como os constantes desligamentos de luz pela Copel”, disse.
Destacou ainda a necessidade de atenção ambiental, especialmente no manejo dos resíduos da atividade. “Quer queira ou quer não, a produção de suínos gera muitos subtratos, né? E, dentre eles, se tu for ver dentro do solo, na camada do solo, nitrato de prata, que é cancerígeno. Então tudo tem que ser tratado da melhor maneira”, alertou.
Com um setor de tamanha relevância econômica e ambiental, a expectativa é de que o encontro produza encaminhamentos capazes de fortalecer a suinocultura e garantir a sustentabilidade da atividade nos próximos anos.
Sucessão familiar: o outro gargalo
Além da questão ambiental, a suinocultura vive um impasse geracional. A crescente formação de jovens em áreas urbanas reduz o retorno às propriedades. “O suinocultor forma o filho em profissões de sucesso — e não há quem fique na atividade”, observa o vereador. Enquanto culturas mecanizadas, como grãos, oferecem mais conforto e previsibilidade, atividades intensivas como suinocultura, avicultura e pecuária enfrentam déficit de mão de obra.
A audiência pretende articular academia, produtores, poder público e setor industrial para traçar estratégias capazes de garantir a permanência da suinocultura em Toledo. O objetivo é construir soluções que conciliem inovação tecnológica, sustentabilidade ambiental e renovação de mão de obra, fatores essenciais para preservar a competitividade da atividade a médio e longo prazo.