Cascavel e Paraná - Os buracos nas ruas de Cascavel são quase uma marca registrada da cidade: quem chega já percebe, quem mora já se acostumou e quem governa sabe que não há discurso capaz de resolver o problema com “passe de mágica”. Não é exagero: há vias que aguardam recape completo há mais de 20 anos. Nesse tempo, gerações de moradores cresceram desviando de crateras, mecânicos e borracharias encheram os bolsos e prefeitos passaram pela Prefeitura sem conseguir resolver um problema antigo, caro e, claro, impossível de eliminar em 100%.
Na atual gestão de Cascavel, a responsabilidade agora está nos ombros do recém-nomeado secretário de Obras, Severino Folador, que em dois meses de gestão já precisou mergulhar na matemática bilionária e lidar com a pressão diária de moradores e vereadores para tentar dar conta do caos no asfalto.
“Cáries e restaurações”
Folador explica que a secretaria trabalha em quatro frentes. A primeira é a Operação Tapa-Buraco, permanente, com dois caminhões rodando todos os dias para conter o problema mais visível e urgente. “Eles fazem a ‘cárie do dente’, aquilo que é mais exposto, onde dói mais. É uma operação contínua”, compara o secretário.
Outra frente é o reperfilamento (restaurações) em ruas críticas, onde os remendos já não resolvem. “Temos previsão orçamentária para fazer reperfilamento em algumas vias isoladas, já mapeadas, que não comportam mais tapa-buraco”, afirma.
Em negociação
As outras duas frentes estão em negociação com o governo do Estado. A primeira é um pacote de recape de R$ 100 milhões para recuperar de 700 a 800 quadras nas principais avenidas e ruas, incluindo a Paraná, Maracaí e Jacarezinho. A previsão é de anúncio ainda neste ano, com execução a partir de 2026. O segundo é um pacote de pavimentação nova, para ruas do Lago Azul, trechos finais de bairros e distritos que nunca receberam asfalto.
Mas, como em toda promessa pública, surgem os entraves. Folador admite: “O Município não tem material humano. A maioria dos nossos serviços gerais são feitos por apenados, e às vezes ficamos sem continuidade. A nossa usina tem condições, mas falta mão de obra.”
Looonga lista…
E a lista de vias emblemáticas (e problemática) é extensa. O secretário cita a Rua Vitória, no centro, que junto com a Cuiabá forma um binário que precisaria ser completamente refeito. Na região norte, o drama é na Olindo Periolo. Já no sul, a Rua do Cowboy e a Manaus sofrem com tráfego intenso e pavimento esfarelado. Esses são apenas exemplos: qualquer motorista consegue citar dezenas de trechos em situação crítica, e nem se falou das ruas Paraná e São Paulo.
Problema crônico
O asfalto precário não é exclusividade de Cascavel; atinge quase todas as cidades médias e grandes do Brasil. A diferença é a intensidade. Aqui, a sensação é de que o problema é mais persistente e visível, reflexo do rápido crescimento do município, da relevância regional e do pesado tráfego de caminhões e ônibus.
Paciência no limite
Enquanto isso, a população se vira. Motoristas desviam, motociclistas arriscam tombos, ciclistas desaparecem das ruas esburacadas e pedestres improvisam trajetos pelas calçadas. Alias, as calçadas são um “novela à parte” no drama cascavelense em qualquer região da cidade. Enquanto isso, o bolso e a saúde do cascavelense sofrem.
Quanto custaria para arrumar?
Na Câmara, o vereador Cidão da Telepar (Podemos) trouxe números que revelam a dimensão do desafio. “O orçamento para readequar Cascavel nos tapa-buracos é de R$ 1,7 bilhão hoje, apenas para recapear com um asfalto de 2 a 3 cm. Isso é mais que o orçamento geral do Município. Se tiver que arrancar e fazer novamente, a conta passa de R$ 2 bilhões. Então esse é um gargalo, uma herança que cada prefeito que passa vai assumindo”, disparou.
Ele foi além e defendeu que a cidade não pode depender de apenas uma usina de asfalto. “O município precisa de duas usinas para atender toda a área de Cascavel, urbana e rural.” Em outras palavras: se hoje já não dá conta, imagine com o crescimento acelerado.
A conta: R$ 200 mi para o básico!
A malha viária de Cascavel tem cerca de 12 milhões de metros quadrados de asfalto. Parece muito? E é! Mas o número assusta ainda mais quando se calcula a manutenção. O pavimento dura, no máximo, dez anos. Isso significa recapar ou reperfilar 200 mil m² por ano a um custo de R$ 150 o m². A conta fecha entre R$ 180 e R$ 200 milhões anuais — só para manter o básico.
E isso sem considerar imprevistos, áreas críticas que exigem reconstrução total e os famosos “puxadinhos” do crescimento urbano. Em resumo: Cascavel precisaria de um orçamento exclusivo para o asfalto, maior que o de muitos municípios brasileiros, apenas para não deixar o problema crescer.
Para efeito de comparação, se o município recapeasse só 200 mil m² por ano — meta comum em planejamentos — gastaria R$ 30 milhões anuais. Mas, nesse ritmo, levaria 60 anos para renovar toda a malha viária, três vezes mais que a vida útil do pavimento.
O resultado é visível: buracos, remendos e remendos sobre remendos que atravessam gestões e seguem como uma das maiores dores de cabeça da população — um problema que ninguém consegue resolver de forma definitiva.
E o Severino Folador confirma: “A conta do vereador é que temos 12 milhões de metros quadrados. O asfalto tem vida útil de 10 anos. Então temos que recapar ou reperfilar 200 mil metros por ano. Colocando o custo de R$ 150, precisamos aportar ao longo dos próximos dez anos uma média de R$ 180 a R$ 200 milhões para manter a malha asfáltica em condições. Este ano vamos aplicar uma média de R$ 100 a R$ 120 milhões.”