
Exibido na mostra paralela Um Certo Olhar há três aos, ?O estranho do lago? reverberou mundo afora e foi indicado em seis categorias do prêmio César, o Oscar francês. ?Rester vertical?, no entanto, foi recebido pela plateia de críticos com um misto de curiosidade e tédio. O filme, sobre um roteirista de cinema (Damien Bonnard) que vaga por uma região rural em busca de inspiração para um novo projeto, e se envolve sexualmente com jovem, a filha de um pastor de ovelhas e um idoso de saúde frágil, foi acolhido por aplausos protocolares.
? Sexo é mais importante do que sexualidade. Sexo é um mundo de prazeres, mas também pode ser uma fonte de sofrimentos. Sexo é assustador, às vezes. É a origem do mundo e talvez o fim dele também ? filosofou Guiraudie, que empresta à narrativa um certo ar de conto de fadas, ao transformar Léo, o protagonista, numa espécie de nobre cavalheiro que seduz donzelas e donzelos de uma região dominada por um castelo medieval. ? Busquei algo entre a realidade e a lenda.
A competição pela Palma de Ouro continuou com a exibição de ?Sieranevada?, do romeno Cristi Puiu, drama construído em torno da reunião de uma família no funeral do patriarca. Durante as quase três horas de projeção, parentes do morto, entre filhos, netos e a mãe comunista dele, se cruzam pelos cômodos do apartamento da viúva no centro de Bucareste. Enquanto esperam pelo padre que celebrará a cerimônia, antigas rusgas e novas discussões ? inspiradas pelo ataque terrorista à redação da revista ?Charlie Hebdo?, em Paris, ano passado ? florescem, atrapalhando a cerimônia de despedida. O tapete vermelho do primeiro dia do Festival de Cannes 2016
? Meu pai morreu há nove anos. Na época, eu participava do júri da mostra Um Certo Olhar. Voltei para casa imediatamente. Foi um funeral meio bizarro, havia pessoas que eu não conhecia, amigos de bar de meu pai, e vizinhos também. Lembro de discutir com um dos colegas de minha mãe por causa do passado comunista do nosso país ? contou Puiu, lembrando a origem do roteiro de ?Sieranevada?. ? O mais engraçado é que, anos depois, quando procurei algumas pessoas que participaram do memorial para escrever o roteiro, todos tinham uma versão diferente para contar.
* Carlos Helí de Almeida está hospedado a convite do festival