RIO – Autora reconhecida por seu discurso feminista, a nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie se envolveu numa polêmica sobre mulheres trangênero e deu sua resposta à controvérsia na noite de segunda-feira.
No dia 10 de março, a escritora deu uma entrevista ao britânico Channel 4 em que afirmou que gênero diz respeito a experiências, não a anatomia. Na sequência, citou o exemplo de mulheres trans, cuja vivência anterior seria como a masculina, algo que não poderia ser comparado à experiência de alguém nascida mulher. A repercussão foi grande nas redes sociais, a ponto de Chimamanda escrever um post de esclarecimento, dois dias depois, em sua página no Facebook. “Eu disse, numa entrevista, que mulheres trans são mulheres trans, são pessoas que, tendo nascido homens, beneficiaram-se dos privilégios que o mundo dá ao universo masculino, e que não deveríamos dizer que a experiência de mulheres é a mesma das trans”.
Segundo a escritora, tal raciocínio foi interpretado como se ela fosse “transfóbica”. “Me senti como quando uma pessoa branca diz ‘não sou racista, eu defendo os direitos civis'”, afirmou.
Presente em um evento público em Washington na última segunda-feira, Chimamanda explicou que não pediu desculpas “porque não há motivo para se desculpar”. “O que é interessante para mim é que isso é em muitos aspectos uma discussão sobre a linguagem. E acho que também também ilustra os aspectos menos agradáveis da esquerda americana, que às vezes exige que você participe de uma certa ortodoxia da linguagem. Do contrário, há uma espécie de reação que se torna muito pessoal, hostil e fechada ao debate. (…) Se não há possibilidade de conversa, não há também de progresso.”
Atuante na campanha dos direitos LGBTQ na Nigéria, a escritora não mudou sua posição após a repercussão negativa. “Acho que muita raiva vem à tona quando, na intenção de sermos inclusivos, nós às vezes negamos a diferença.”
Recentemente, o livro “Para educar crianças feministas: um manifesto”, da escritora, foi lançado no Brasil pela Companhia das Letras.