Assim como no Brasil, as entidades representativas do agronegócio norte-americano também ergueram o tom contra medidas governamentais ligadas ao “tarifaço” do presidente Donald Trump. Os agricultores americanos estão preocupados e apontam o Brasil como país a sair mais fortalecido com a escalada do embate comercial travado entre as duas maiores potências econômicas do mundo: os Estados Unidos e a China.
Diante da pressão, na última quinta-feira (6), o presidente Trump decidiu adiar mais uma vez a continuidade das tarifas sobre as importações vindas do México. Em fevereiro deste ano, o Governo Trump já havia reconsiderado a decisão, acuado pelas medidas imediatas adotadas pela líder mexicana Claudia Scheinbaum. Até o começo de abril, Trump vai isentar o México de suas novas tarifas de 25% sobre quaisquer bens e serviços que se enquadrem no acordo comercial norte-americano conhecido como USMCA (Acordo dos Estados Unidos, México e Canadá). A mesma isenção vale ao Canadá.
O adiamento da cobrança de tarifas seguirá até 2 de abril, quando outras medidas fiscais anunciadas por Trump começarão a ser aplicadas. A partir dessa data, entram em vigor as chamadas “tarifas recíprocas”, que preveem que os Estados Unidos imponham sobre os produtos importados uma taxa equivalente àquela aplicada pelos países de origem sobre as mercadorias americanas, geralmente mais elevadas. A previsão é de que o Brasil seja impactado por essa medida.
“Vendedor Natural”
Em entrevista à equipe de reportagem do Jornal O Paraná, o consultor em gerenciamento de riscos da StoneX, Leonardo Martini, admite esse deslocamento de demanda para o Brasil, principalmente o comércio com a China, caso esse cenário de tarifas avance. Atualmente, no caso da soja, o Brasil exporta para os chineses 71 milhões de toneladas e os Estados Unidos, de 27 milhões de toneladas, com base nos números do último ano. “Então, nesse contexto, se as tarifas evoluírem, obviamente o Brasil passa a ser mais um vendedor natural para a China e a gente teria um deslocamento maior dessa demanda”, reforça.
Na quarta-feira (5), os prêmios já puxaram bastante, com quedas nas bolsas de Chicago. Para Martini, trata-se de um movimento natural. “Precisamos lembrar que o cenário é diferente de 2018 e hoje temos uma safra muito maior no Brasil. Naquela época, era de 120 milhões de toneladas e hoje, 170 milhões de toneladas. Atualmente, temos uma independência maior da China e da soja americana do que a gente tinha naquela época”.
Impacto limitado
Em resumo, o consultor da StoneX entende que essa situação tem um impacto limitado no mercado. “Hoje, a China já tem 70% da soja comprada do projetado do ano de importação 2024/25 e de setembro para frente, que seria o novo ano de importação 2025/26”, comenta.
O cenário é confortável para a China, ao saber que o Brasil tem soja suficiente para atender a demanda dela até fevereiro do próximo ano. “O cenário de exportação brasileiro é bastante forte. Mas sou bem sincero: eu acredito que isso aconteceria naturalmente, independente das tarifas. A soja brasileira é muito mais barata que a americana, então a China, com ou sem tarifa, vai seguir comprando a soja brasileira em detrimento à soja americana”. Na percepção de Leonardo Martini, toda essa situação criada por Trump tem como finalidade negociar algum acordo bom para os americanos.