PROPOSTAS

Com racha no governo, Fávero recebe o agro para discutir ações contra a alta dos alimentos

Carlos Fávaro é contra medidas defendidas pelo PT do presidente Lula; governo “pula” o carnaval com racha e clima ruim
Carlos Fávaro é contra medidas defendidas pelo PT do presidente Lula; governo “pula” o carnaval com racha e clima ruim

O governo federal, na pessoa do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, decidiu dividir a mesa com representantes do setor produtivo e ouvir os apontamentos necessários, visando alinhar estratégias para atenuar a alta no preço dos alimentos que tem abocanhado boa fatia da renda do trabalhador, pressionando a inflação.

Produtos como o café, cujo preço já passa dos R$ 30,00 para o pacote de 500 gramas, e o ovo, chegando a custar quase R$ 40 a bandeja com 20 ovos, têm feito o consumidor passar reto pelas gôndolas. Conforme os representantes do setor produtivo, as iniciativas são de médio e longo prazos e devem ter efeito limitado nos preços.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e da Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, afirmaram a exportadores, empresários e entidades do agronegócio que o governo não vai adotar medidas de controle de exportações. Fávaro recebeu representantes do setor de açúcar e etanol, biodiesel e carnes e assegurou a eles que “isso não vai ocorrer”.

Para o setor produtivo, não há nenhuma “bala de prata” para resolver de vez a questão da alta nos preços. O atual momento é atribuído também às flutuações naturais do mercado, no que tange a alguns produtos específicos.

Aproveitando a oportunidade, a indústria da carne de frango defendeu melhorias contínuas para mitigar os índices de condenação de aves a partir dos processos de originação nas granjas, produção e harmonização da fiscalização. No ano passado, já ocorreu a adoção da lavagem de carcaça por aspersão, contribuindo para a situação, conforme relatos ao ministro feito por representantes do setor. O pedido é para que a atuação continue nessa linha, com novos aperfeiçoamentos no processo, mas sem nenhuma medida imediata, nem de curto prazo. A indústria quer melhorar a eficiência produtiva e o controle para reduzir as perdas.

Uma das propostas discutidas foi a de zerar as alíquotas para importação de óleo de soja de países de fora do Mercosul. A medida ainda depende de aprovação da Camex (Câmara de Comércio Exterior). A indústria nacional não vê impactos aos produtores brasileiros no momento e pode ser uma alternativa para equilibrar a balança das taxações das exportações, em estudo por alas do governo. A isenção da importação, no entanto, também não deve surtir efeitos significativos no preço do óleo de cozinha nas gôndolas dos supermercados. Isso porque o Brasil é autossuficiente e exporta o produto.

Ações internas

A conversa girou em torno ainda do convencimento interno do governo sobre os fatores mercadológicos que levaram à situação atual dos preços dos alimentos e de melhorias necessárias na comunicação do Executivo, para evitar novas crises.

O setor de carnes levou dados ao ministro — e integrantes da Casa Civil, Fazenda e Desenvolvimento Agrário presentes na reunião — sobre os itens formadores dos preços das proteínas animais (bovina, suína, aves e ovos). A intenção foi a de mostrar que não há escassez de produtos no país, que as cotações aumentaram no mundo inteiro e que os preços internos, apesar de pesarem no bolso dos consumidores, são os mais baratos do planeta. As lideranças do setor garantiram que vai haver arrefecimento de preços das quatro principais proteínas no Brasil.

Os empresários também mostraram dados para reforçar que as exportações não são danosas para as cotações no mercado doméstico, mas pelo contrário, ajudam os frigoríficos a equilibrarem preços repassados ao varejo e as suas margens.

Um dos exemplos foi o pé de frango. Item mais valioso nas exportações do segmento de aves, principalmente para a Ásia, o produto não tem valor agregado nem consumo elevado no Brasil. Sem as vendas externas, o material teria que ser destinado às graxarias ou descartado, gerando custos e perdas às empresas, o que seria repassado aos preços finais dos demais cortes.

O ovo: “Fogo amigo”

Também foram colocadas na mesa as questões de sazonalidade e impactos do clima na produção. O principal exemplo foi o ovo. O setor mostrou ao governo que os preços da proteína sobem todos os anos nessa época, com a proximidade da quaresma, período em que algumas pessoas trocam o consumo de carne vermelha pelo produto, o que aquece a demanda e, consequentemente, as cotações.

Nesse ponto, novamente, houve apontamento de falha na comunicação do governo, com “fogo amigo” a partir de declarações descontextualizadas sobre os preços dos ovos. Recentemente, o presidente Lula criticou os índices e vinculou a alta ao aumento das exportações.