Cotidiano

Rússia e China acompanham redesenho geopolítico da Europa

china-military-yomi-2a7268d4-5242-11e5-8c19-0b6825aa4a3a.jpgPEQUIM ? Do outro lado do planeta, China e Rússia acompanham com o maior interesse os desdobramentos da saída do Reino Unido na União Europeia (UE). Embora ainda seja cedo para avaliar, analistas já veem mudanças no mapa geopolítico mundial daqui para frente. E é exatamente isso o que mais preocupa chineses e russos, cada um a sua maneira. A China já havia indicado preferência pela permanência dos britânicos no bloco europeu, enquanto Moscou, embora nunca tenha se manifestado claramente, não esconde certo agrado com o Brexit.

A mídia controlada russa dava a entender que a saída do Reino Unido poderia criar um novo equilíbrio geopolítico, com o enfraquecimento da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), ideia que é vista com bons olhos pelo Kremlin. No entanto, há quem diga que o efeito pode ser justamente o oposto e que o Reino Unido pode se tornar ainda mais ?atlanticista? do que já era, sem a necessidade de compor posição com os europeus, podendo se aproximar ainda mais dos americanos.

União europeia mais flexível

Sem os britânicos, que tiveram papel importante na aprovação das duras sanções impostas à Rússia, a União Europeia também poderia ser mais flexível daqui para frente, segundo alguns analistas.

Já a China imagina que, enfraquecida, a UE não teria o mesmo peso no equilíbrio geopolítico para contrabalançar a presença americana. Além disso, perderia um importante aliado dentro do bloco. Em outubro do ano passado, em visita a Londres, o presidente da China, Xi Jinping, foi claro ao defender a permanência dos britânicos no bloco europeu durante encontro com David Cameron na casa de verão do primeiro-ministro.

? A China espera ver uma Europa próspera e unida, e espera que o Reino Unido, como um importante membro da UE, possa ter um papel ainda mais positivo e construtivo para promover o aprofundamento do desenvolvimento das relações China-UE ? disse o chanceler chinês à época, reproduzindo a conversa entre os dois líderes.

Anteontem, durante a tradicional entrevista coletiva concedida a jornalistas nacionais e estrangeiros, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Hunying, afirmou que o país respeita a decisão do povo britânico e espera que um rápido acordo seja alcançado entre o Reino Unido e a União Europeia.

? Uma UE próspera e saudável é do interesse da China ? disse a porta-voz.

Hua Hunying destacou que a China considera e desenvolve sua relação com o Reino Unido e a UE de maneira consistente para o benefício estratégico de longo prazo.

Esperança na economia

Ao comentar a decisão britânica, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que, ?aparentemente, o povo britânico não está satisfeito com a maneira como os problemas estão sendo tratados na esfera da segurança?. A reação é uma espécie de resposta à declaração do primeiro-ministro britânico, David Cameron, que, recentemente, afirmou que ?Putin ficaria feliz com o Brexit?, em evento do Fórum Econômico Mundial. Na mesma ocasião, o premier disse que o líder do Estado Islâmico também ficaria feliz com a saída do Reino Unido da UE.

? Como vemos agora, mesmo afirmações como essas não tiveram o efeito desejado por quem as fez. Ninguém tem o direito de fazer afirmações sobre a posição russa, especialmente depois que os votos foram contados. Isso é apenas um exemplo de uma cultura política de baixo nível ? disse o presidente russo.

Alfinetadas à parte, há outros fatores sendo considerados pelos russos, assim como pelos chineses. Acredita-se que, separado dos outros países europeus, o Reino Unido possa estreitar seus laços comerciais com as duas nações e oferecer um mercado financeiro menos rígido e regulado, fora da esfera conhecidamente mais restritiva da União Europeia, num ambiente mais tipicamente liberal britânico.

De toda forma, chineses e russos têm forte presença na economia britânica. Não se descarta, contudo, a possibilidade de estes investidores enfrentarem mais obstáculos para comprar imóveis ou empresas num Reino Unido fora da UE. Teme-se ainda uma desvalorização das moedas asiáticas e uma saída de capitais após o Brexit.