LOS ANGELES Jesse Williams levou a plateia aos prantos enquanto discursava após ser premiado, neste domingo, no Black Entertainment Television (BET) Awards cerimônia que premia grandes nomes afroamericanos na indústria do entretenimento. Williams, que é mais conhecido por seu papel como Dr. Jackson Avery na série “Grey's anatomy” e por seu ativismo pela causa negra, recebeu o Humanitarian Award (“troféu humanitário”, em tradução livre) e atacou o tratamento injusto dado a comunidade negra nos Estados Unidos.
Williams iniciou seu discurso agradecendo sua família e amigos, e pedindo desculpas às mulheres negras, que são comumente esquecidas por seu trabalho na comunidade e no país como um todo. O ator, então, repreendeu tudo, desde os assassinatos de cidadãos negros desarmados cometidos pela polícia, passando pela mercantilização da cultura negra e a ideia de que este tratamento pode de alguma forma se encaixam na definição de “liberdade”.
“Ontem seria o 14º aniversário do jovem Tamir Rice, então eu não quero ouvir mais nada sobre o quão longe nós chegamos quando servidores públicos pagos podem puxar o gatilho na direção de um garoto de 12 anos que brincava sozinho no parque em plena luz do dia, matando-o na televisão e, em seguida, indo para casa fazer um sanduíche”, disse Williams, lembrando o assassinato de Tamir Rice, em novembro de 2014, em Cleveland.
“Digam a Rekia Boyd o quão melhor era viver em 2012 do que em 1612 ou 1712. Digam isso a Eric Garner. Digam isso a Sandra Bland. Digam isso a Darrien Hunt”, continuou.
“Agora, porém, todos nós aqui estamos ganhando dinheiro, o que por si só não vai parar com isso. Agora, dedicamos nossas vidas a ganhar dinheiro, a botar a marca de alguém em nosso corpo, quando passamos séculos orando com marcas em nossos corpos. Agora, nós rezamos para sermos pagos, para termos marcas em nossos corpos”, comparou o ator, lembrando os escravos que eram marcados a ferro em brasa.
Williams seguiu seu discurso, recebendo efusivos aplausos, enquanto as câmeras mostravam algumas pessoas emocionadas, como o ator Jamie Foxx, vencedor do Oscar em 2005, por “Ray”.
“Não existiu uma única guerra em que não morremos na linha de frente. Não existe um único trabalho que não fizemos. Nenhum imposto que não tenham cobrado contra nós. E nós pagamos todos eles. Mas a liberdade é de alguam forma condicional aqui. 'Você é livre', eles seguem nos dizendo. 'Ela deveria estar viva se não tivesse agido tão… livremente'”.
“A liberdade está sempre por vir no futuro, mas você sabe que o futuro é uma agitação. Nós queremos agora. E vamos deixar algumas coisas claras o fardo dos brutalizados não é para confortar o espectador. Esse não é o nosso trabalho. Parem com isso”, disse Williams. “Se você tem uma crítica a nossa resistência, então é melhor você ter uma longa história para basear sua crítica nela. Se você não tem interesse em direitos iguais para pessoas negras, então não tente dar sugestões àqueles que têm. Fique sentado”.
“Nós estamos flutuando neste país atrás de crédito há séculos, e estamos cansados de observar e esperar enquanto essa invenção chamada brancura usa e abusa de nós, enterrando os negros e mantendo-os fora da vista e fora da mente, enquanto extraem nossa cultura, nossos dólares, nosso entretenimento, como óleo. Marginalizando e reabixando nossas criações e gentrificando nossa genialidade e, então, nos usando como fantasia para então descartar nossos corpos como cascas deu uma fruta estranha”.
“O lance é: só porque somos mágicos não significa que não somos reais”, concluiu o ator de “Grey's anatomy”.