Entre as principais inovações da indústria automotiva nos últimos anos, estão os motores 3 cilindros. Criados para atender às regulações ambientais, cada vez mais rigorosas em todo o mundo, conseguem oferecer menor consumo e reduzido níveis de emissões, sem comprometer a performance. Por outro lado, o maior nível de vibração e ruídos, além de uma menor vida útil, são apontados como seus principais problemas. A Takao, marca de componentes para motor comercializada exclusivamente pela Goop Distribuidora, por meio de seu Coordenador Técnico, Marlon Silva, ajuda a esclarecer essas questões.
Introduzido no Brasil em 2011, os modernos motores de três cilindros têm uma história muito mais longa do que muitos imaginam. Sua origem é da década de 1950 e chegaram a ser oferecidos no mercado brasileiro anos depois, em modelos DKW, da fabricante Vemag. Na década de 1970, equipou veículos urbanos populares no mercado japonês, conhecidos como Kei Cars. Duas décadas após, se tornou presente em diversos modelos europeus. Durante esse período, sua tecnologia foi sendo aprimorada, com a entrega de mais potência e torque, e reduzidos níveis de consumo e emissões, para se adequarem às regulações vigentes. Atualmente, equipam boa parte dos modelos oferecidos no mercado automotivo brasileiro.
Sua estrutura se destaca por utilizar uma configuração “ímpar”, em relação às motorizações de quatro, seis e oito cilindros, que são dispostos aos pares. Isso resulta numa estrutura mais simplificada, com número reduzido de componentes, menor peso e volume, oferecendo potência semelhante à de motores maiores, dentro do conceito conhecido como “downsizing”. Por conta disso, algumas particularidades se destacam e acabam trazendo dúvidas e questionamentos sobre sua eficiência, performance e durabilidade. Diante disso, Marlon Silva elenca alguns dos principais tópicos envolvidos nessas discussões.
Eficiência
Entre suas principais vantagens, estão o consumo de combustível e o nível de emissões reduzidos, proporcionados por essa linha de motores. Para se chegar a esses resultados, um desenho mais compacto, com um menor número de peças, é uma das soluções adotadas. “O uso de menos componentes reduz o peso do conjunto e o atrito entre as partes móveis, que colabora para melhores níveis de consumo e emissões”, comenta Marlon Silva. A introdução de outros recursos, como o uso de turbo compressores e ligas metálicas mais leves complementam a fórmula para uma melhor eficiência energética e credenciam essa tecnologia para uso em veículos híbridos, como o Volvo XC 40 Hybrid.
Performance
Quando falamos em desempenho e performance, entendemos por que os motores 3 cilindros vêm ganhando cada vez mais espaço no mercado. “De maneira distinta aos conjuntos mecânicos do passado, os atuais 1.0L oferecidos são praticamente, todos, 3 cilindros. No entanto, eles conseguem entregar potência e torque muito superiores, chegando a superar a performance de motores de maior litragem, como 1.5L e 1.6L, em alguns casos”, ressalta Marlon Silva.
Ele cita a utilização de componentes, como turbo compressores e sistemas de injeção direta (GDi), entre alguns dos meios utilizados pela indústria para esse fim. Mais recentemente, algumas marcas trouxeram opções equipadas com compressores elétricos de 48 V, que reduzem o chamado “turbo lag”, um espaço de tempo entre o acionamento do turbo e a resposta do motor, melhorando a aceleração e as retomadas de velocidade. “Além de contribuir com a eficiência para o consumo, essa configuração também favorece a performance, pois com um bloco menor e mais leve há uma melhor relação “peso x potência”, complementa.
Além dos compactos, encontramos essa motorização em SUV’s, hatches e sedans médios. Outros modelos fazem uso de motores 1.5L e 1.6L 3 cilindros, com excelentes resultados de performance, como os BMW séries 1 e 2 e X2; Mini Cooper Countryman, e os Toyota Corolla GR e Yaris GR.
Contudo, algumas características típicas em seu funcionamento são criticadas, como o maior nível de ruído e vibrações, fato decorrente da configuração em formato ímpar, que desloca a energia pelo conjunto de forma assimétrica e a transmite ao interior da cabine. Para minimizar essa situação, os fabricantes vêm atualizando, cada vez mais, seus projetos com a utilização de novos coxins para o motor e isolamento acústico melhorado em seus modelos.
E a durabilidade?
O fato de utilizar menos componentes faz com que muitos considerem essa motorização mais frágil e com menor vida útil, em comparação às de cilindrada superior. Para Marlon Silva, tudo depende do projeto e da manutenção dispensada a esses motores. “Com a chegada dessa nova classe de propulsores, algumas condições precisaram ser consideradas, como a necessidade de se aumentar as taxas de admissão e compressão no interior da câmara de combustão. Para isso, foram necessários procedimentos, como o aumento do tamanho das polias variadoras de fase e a implantação de turbinas. E para a redução das vibrações, ocasionadas pela estrutura tri cilíndrica, se reduziu o tamanho dos pistões, além de se elevar os anéis e usar um tipo de óleo mais fino. Assim, teoricamente, a tendência é que o desgaste dos componentes ocorra mais rapidamente do que em um motor 4 cilindros. Porém, com a tecnologia altamente empregada, sua durabilidade é muito alta e garante uma vida útil bastante prolongada”.
Entretanto, para que isso ocorra é muito importante obedecer às orientações do fabricante em relação às revisões periódicas para garantir o bom funcionamento e prolongar a vida útil de todo o sistema. Assim como em outros conjuntos motores, a qualidade do combustível, falta de manutenção ou uso de componentes inadequados podem comprometer a robustez e a durabilidade dos motores 3 cilindros.