Dando seguimento à série de entrevistas com os pré-candidatos a prefeito de Cascavel que participaram do material especial desenvolvido em maio, no aniversário de 48 anos do jornal O Paraná, sobre o posicionamento político ideológico de cada um, neste fim de semana a entrevistada é, por enquanto, a única mulher disposta a disputar a Prefeitura de Cascavel: a vereadora Professora Liliam, que é pré-candidata pelo PT.
Professora Liliam disputou a eleição para a Câmara em 2020, sendo eleita com 2.855 votos, a segunda mais votada naquela eleição. Além de ser a única mulher na disputa pelo Executivo cascavelense, Liliam também é a única representante da esquerda para o pleito de 2024, em Cascavel.
Vale lembrar que a ordem das entrevistas está seguindo a disponibilidade de agenda dos pré-candidatos.
O Paraná – Em maio produzimos material sobre os espectros políticos dos candidatos. Em Cascavel, apenas você e outro pré-candidato caíram no espectro de esquerda. Você sempre teve esse posicionamento político?
Professora Liliam – Sempre tive. Desde quando comecei a entrar na adolescência, já vou percebendo que a análise crítica dava mais conta de entender a realidade; me aproximando da área da história, essa coisa da revisão da história da luta do povo brasileiro e logo, adolescente, já em 86, me filiei ao PT.
O Paraná – Essa é a sua segunda eleição para o Executivo. Qual é a diferença entre essa eleição e aquele que você disputou em Mococa (SP)?
Professora Liliam – Primeiro que eu era muito jovenzinha e fui candidata à vice-prefeita na cidade de Mococa, interior de São Paulo, assim que retornei do tempo que fiquei fora estudando e iniciei a minha vida como professora, início dos anos 90. E naquele momento o papel da candidatura tinha muito mais a função de enraizar o partido, enraizar as proposições do PT na cidade. Mesmo assim a gente fez um volume importante de votos, chegamos a fazer 15% de votos e, a partir daí, a gente conseguiu construir uma consolidação maior do PT na cidade. […] Agora, a gente tem um percurso aqui na cidade de militância, de atuação, tanto como gestora na universidade, como liderança sindical e agora os anos da vereança. Então a gente se coloca com um grupo importante, uma proposição para governar a cidade numa interlocução muito estreita com o governo federal, com uma articulação que passa por todos os níveis do partido; agora a gente não veio marcar posição. Por isso, eu entendo que pela primeira vez, eu me coloco para disputar efetivamente o Executivo municipal aqui em Cascavel.
O Paraná – Quais os desafios de ser a única mulher pré-candidata para o Executivo nesta eleição?
Professora Liliam – Ser a única mulher já revela o espaço da mulher na política, a dificuldade desse espaço. Cascavel nunca teve uma prefeita mulher, apesar de ter tido destacadas figuras políticas femininas, inclusive já candidatas à Prefeitura. Então, acho que ser a única revela um pouco que esse espaço segue sendo muito masculino e muito machista. Por outro lado, eu penso que há um espaço importante de diálogo com essa perspectiva de olhar o mundo a partir da vivência de ser mulher numa sociedade que é machista, preconceituosa e que obriga as mulheres a desenvolverem possibilidades ampliadas e diferenciadas de olhar para os problemas da cidade sem perder esse olhar mais sensível do que é a dor humana, que é a vida familiar, sobretudo numa cidade em que, dentre a vulnerabilidade, 83% das famílias são lideradas por mulheres. Então acho que ser pré-candidata e a possibilidade de uma prefeita mulher vai colocar, ainda que os problemas sejam os mesmos, uma perspectiva nova que nós sabemos, contra tudo e contra todos. Por isso eu aposto numa adesão considerável do voto feminino.
O Paraná – Além de ser a única mulher, hoje a sua candidatura é a única de esquerda aqui para Cascavel. O que significa isso, principalmente na Região Oeste?
Professora Liliam – Eu somo mais de um espaço de exclusão ou milito por mais um espaço de inclusão. A inclusão no debate aqui de Cascavel de uma prefeita mulher, de uma possível prefeita mulher e a inclusão de que já é tempo de Cascavel ser governada pela esquerda. Todo o espectro conservador que ronda a cidade, haja visto as próprias linhas editoriais da nossa imprensa, toda essa reafirmação e essa repetição das pautas que são mais específicas da direita e, infelizmente, Cascavel marcada também pela extrema-direita. A gente acredita que há muito espaço para se considerar a possibilidade de um governo de esquerda, porque o governo de esquerda defende direitos; direitos das mais amplas demandas aí da sociedade e cuja base desses direitos é a Constituição Federal, todos os direitos, inclusive aqueles que a extrema-direita costuma dizer que não é direito, como por exemplo, a reforma agrária. […] Então, tem muito espaço para a esquerda aqui. E nós não vamos levar uma proposição de esquerda. Nós vamos levar uma proposição de direitos, de melhoria das condições dessa cidade.
O Paraná – Quais as expectativas para o desempenho do PT e da sua candidatura nessas eleições?
Professora Liliam – Nós e os outros pré-candidatos sabem que temos condições de disputar o segundo turno. E o segundo turno é uma nova eleição que inclusive vai se desenhar no percurso da própria campanha de primeiro turno. Então, nós não temos muitas dúvidas que nós estaremos no segundo turno. Quando chegamos no segundo turno pela última vez, o deputado Lemos, então candidato, saiu de 2%. Nós fomos ao segundo turno com 20 pontos adiante do então candidato Edgar Bueno. Nós temos muitas condições de chegar no segundo turno porque a campanha vai permitir que a gente dialogue com setores que o partido não alcança.
O Paraná – Quais outros partidos poderão vir com a federação nesse primeiro turno?
Professora Liliam – Nós já fechamos a nossa coligação com outra federação, então a nossa federação inclui PT, PCdoB e PV e a gente já fechou a coligação com o PSOL e a Rede, que constituem outra federação. E ainda esperamos a presença do PSB para que a gente refaça aqui em Cascavel a Frente Brasil da Esperança.
O Paraná – Quanto ao candidato (a) a vice-prefeito. Dede vir de qual partido?
Professora Liliam – Nós tivemos indicação à vice por quatro partidos. O PT indicou o Hernani. O PV, o professor Luís Carlos Eckstein. O PSOL, a Professora Cleia e o PCdoB, a Professora Mônica, que são professoras da rede municipal. E nós estamos discutindo entre essas candidaturas; ontem a gente teve a indicação mais forte de que o professor Luiz não tem disposição de vir por orientação familiar, ele veio no debate com a gente, mas desde ontem ele vem indicando que por um acerto familiar ele abriria a mão. Mas nós estamos fazendo esse debate com calma, buscando a questão das possibilidades de envolvimento e mesmo esse ajuste entre os partidos, mas até as convenções a gente terá uma chapa, que poderá ser uma chapa entre duas mulheres, considerando que a gente não quer fazer chapa pura, a gente acha que é mais enriquecedor a gente compor com outro partido.
O Paraná: E eventualmente se o PT não avançar ao segundo turno? A federação já está conversando com algum outro pré-candidato?
Professora Liliam – Não é tempo de fazer isso. A gente está focando no diálogo com a população, no desenho do nosso plano de governo, mas a gente está olhando como o cenário da disputa entre pré-candidatos para saber quem é mais bolsonarista para, evidentemente, nos afastar muito destas pré-candidaturas. Porque o bolsonarismo representa o avesso do que a gente entende que é a boa política. É uma perspectiva política que diz combater a corrupção, mas está completamente envolvido seus signatários completamente envolvidos em corrupção; diz defender a família, mas atacam sistematicamente as famílias em vários aspectos; dizem defender a nação brasileira, mas são subservientes ao imperialismo americano; dizem defender o crescimento e desenvolvimento da nação, mas pensam só em interesses privados. Então a vinculação das candidaturas a esse espectro político que é o bolsonarismo efetivamente nos afasta consideravelmente destes pré-candidatos. Agora a gente tem que considerar as questões locais porque se a gente não estiver no segundo turno à gente vai decidir o segundo turno. Então o debate a gente vai fazer com muito cuidado. Nós estamos fazendo isso internamente porque o momento é de focar na apresentação da nossa candidatura.
O Paraná – Quais exemplos de outros municípios que são geridos por prefeitos do PT que podem ser trazidos para Cascavel?
Professora Liliam – Eu tenho dois exemplos admiráveis. Um não vale muito porque é Maricá, no Rio de Janeiro, e é uma cidade que é um laboratório de políticas públicas. O lance é que eles têm muitos royalties do petróleo e eles podem fazer políticas amplas de atendimento social com o financiamento do próprio município. Então ele tem servido, as experiências de Maricá, têm servido para gente ter como norte, como orientação, inclusive para políticas federais. […] E o outro exemplo, que aí é mais parecido com o Cascavel, é a Araraquara, que tem a admirável gestão do Edinho, que conseguiu fazer uma experiência de excelente administração. Vou dar um único exemplo: o Edinho criou um aplicativo para transporte, como é o 99, o “Uber municipal” que recolhe um volume ínfimo de recursos, mas que é importante para a arrecadação do município e que o trabalhador consegue receber a totalidade do que produz. E com muito sucesso, a gente tem estudado essas experiências. Para além dessa, muitas outras. A administração é muito bem avaliada, é um modelo para o Brasil.
Confira a entrevista: